[Cyprinodontiformes] Intervenção no fórum - Separar o Trigo do Joio.

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Domingo, 6 de Fevereiro de 2011 - 18:21:50 WET


Caros colegas,

Aqui vos deixo mais uma das minhas intervenções em fóruns.
Para aqueles que não têm acesso ao original, aqui fica a minha partilha :


Separar o Trigo do Joio.

Resolvi abrir este tópico na secção em causa, porque me pareceu a mais adequada para
o fazer, uma vez que o fórum não possui uma área " geral " para os denominado
vivíparos  ( nem é obrigatório ou indispensável que ela exista, muito pelo contrário
).
Convinha começar por deixar bem claro que esta mensagem deve ser lida como um alerta
apenas. Ainda assim custou-me muito decidir avançar com este tópico, pois certamente
irei ferir algumas susceptibilidades e os grupos de opinião do costume sentir-se-ão
provavelmente afrontados.
Quando li o interessante artigo " Xiphophorus maculatus - Xiphophorus variatus
O Platy; por Rosário Arijón ", para além de algumas imprecisões ( que não vou de
forma alguma rectificar, sob pena de ler dos meus amigos algo como « tinhas que ser o
mesmo chato e inconveniente de sempre... o que é que isso importa para quem tem 2 ou
3 Platies num aquário comunitário ?... isso é para quem leva os peixes mesmo a sério
» ), vieram-me de imediato à memória as questões do costume.
É precisamente por essa razão que resolvi avançar com um alerta. Quando escrevemos
algo como este interessante artigo, devemos tentar a separação entre o trigo e o
joio. Rm qualquer artigo sério sobre Poeciliídeos não nos devemos envolver demasiado
com uma determinada tendência, sobretudo quando a imparcialidade impõe que sejamos
mais neutros.
Não havendo algo como uma conduta de ética em aquariofilia, convém que, de tempos a
tempos alguém escreva umas coisas para fazer pensar.
Na última edição da "newsletter " da GLASER, li algo que vai totalmente ao encontro
daquilo que penso há muitos anos - os ovovivíparos têm sido a coluna dorsal da
aquariofilia, a qual seria impensável sem o contributo do Guppy, das Molinésias, do
Platy e do Espada, sendo que actualmente há no entanto duas correntes emergentes; uma
dedicada às formas " selvagens " ( difíceis, senão mesmo impossíveis de encontrar no
mercado ), e uma outra, dedicada a desenvolver novas formas de coloração não
naturais, graças à facilidade com que surgem indivíduos mutantes em quase todas as
espécies de Poeciliídeos.
A busca de variedade domésticas com as tradicionais barbatanas anormalmente longas e
os corpos disformes ( como as Molinésias balão ou Platy " stubby body ", por exemplo
), está a cair em desuso, nomeadamente entre uma parte dos industriais da produção em
massa em algumas das tradicionais fontes de peixes para o comércio.
Infelizmente outros fornecedores do mercado com grande peso na indústria ainda não o
perceberam ou simplesmente não adoptaram esta nova vaga porque talvez a procura no
respectivo segmento a isso os obrigue.
E a procura somos nós, consumidores.
A nova tendência são as formas anatomicamente conformes com os animais selvagens mas
com coloração tão exótica que tais peixes não sobreviveriam muito tempo na natureza.
Entre os maiores produtores na Ásia, tais novas propensões - impostas por um mercado
que não o nosso certamente - denominam-se " ancient ".
Estas atractivas variedades para o sentido de estética humano, possuem a vantagem de
manterem a harmonia com a evolução natural, mas serem simultaneamente diferentes de
tudo o que a natureza produz, sendo inclusivamente variedades mais resistentes às
pressões impostas pelo cativeiro e pela manipulação a que são submetidos os peixes de
aquário ( inúmeras capturas ao longo da sua vida, condições físico-químicas muitas
vezes adversas, desrespeito pela sua biologia, alimentação pobre ou distinta da dieta
considerada equilibrada, etc ).
Estas novas variedades possuem ainda a vantagem de preservarem alguma das ancestrais
características, como a possibilidade de um macho dominante se evidenciar dos de
hierarquia inferior através de nuances no colorido... uma forma de mensagem
impossível de transmitir nas valorizadas variedades comuns de aquário, desenvolvidas
no século passado, em que a cor é fixa e imutável.
Como escrevi, não deixa de ser um contraste em relação ao que é natural, mas é sem
dúvida mais sustentável à luz do que a ética, as novas tendências de respeito pela
natureza e mesmo o humanismo defendem.
Infelizmente para nós, não são os povos do Sul da Europa, os da América Latina ou os
da Ásia que estão a fazer mudar a inclinação do mercado. São os povos Nórdicos, os da
Europa Central e cada vez mais, mesmo os Norte-americanos, que se assumem como a
locomotiva da mudança de atitude e da transformação das mentalidades.
Não quero com isto que me vejam como um fundamentalista da tendência marcadamente
dedicada às formas " selvagens " ( embora seja essa a minha opção conscientemente
assumida ). 
Também não venho com este tópico criticar os milhões de aficionados pelas formas
aberrantes e anti-naturais de barbatanas anormalmente desenvolvidas ou corpos
atarracados, caso contrário tinha começado logo pela área dedicada ao Guppy. Não
estou por essa razão a pôr em causa os concursos, os padrões impostos pelas
associações e sociedades que se dedicam a essa prática, ou qualquer tipo de rotina
selectiva dos animais com base em paradigmas não naturais.
Contudo confesso igualmente não conseguir aceitar e compreender como lógicos ou
humanamente honestos alguns resultados finais, como um determinado macho estar
impossibilitado de cumprir a sua função reprodutiva devido a barbatanas anormais ( e
por isso ter que perpetuar a sua linhagem através da inseminação artificial ), ou as
variedades de corpos deformados ( aos meus modestos olhos aberrantes e desconformes
com todas as ideias que me possam ocorrer sobre a vantagem / benefício que advêm para
os indivíduos, devido a um corpo assim deformado ), entre outras mais " leves ".
Apenas quero abrir um debate sereno, caso tenham interesse ( e coragem para abordar
certos assuntos ), promovendo a troca de ideias.
É bom cultivar o pluralismo com civilidade e é da troca de pontos de vista que nasce
a luz.
Apesar do que escrevi anteriormente, não posso no entanto deixar escapar uma chamada
de atenção que certamente importará mesmo para quem tem 2 ou 3 Platies num aquário
comunitário mas é curioso.
Atenção porque raros são os peixes das fotos que constam do artigo da colega Rosário
Arijón que se podem denominar Xiphophorus variatus ( talvez mesmo nenhum ). É que
para se obterem determinadas formas e cores nas variedades de aquário, foi necessário
promover cruzamentos entre os Platies, Caudas de Espada e Variatus entre si.
Não sou eu que o digo, os exemplos estão à disposição de quem os quiser ler na
bibliografia sobre estes peixes, nos artigos científicos e até na Internet... mas
alguns são tão evidentes que não escapam ao olhar atento dos mais observadores.
Pensem em tudo o que acabo de escrever.   

Um abraço

Miguel Andrade 




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