RE: [Cyprinodontiformes] ELB... vamos lá ver se nos entendemos !

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Quarta-Feira, 24 de Junho de 2009 - 22:30:40 WEST


Olá Miguel Figueiredo,

Deixa-me, em primeiro lugar, agradecer mais uma excelente contribuição, ao
nível a que nos tens habituado, cheia de óptimos incentivos para o debate.
Também queria deixar claro que não sendo um cientista, as opiniões que vou
expressar em seguida devem merecer as devidas reservas por esse facto.
Como escrevi na minha mensagem dedicada ao assunto em epígrafe, não era
minha intenção, de todo, transmitir a minha opinião sobre o conceito de
espécie, mas já que me incentivas a fazê-lo, cá vai...

Partilho primariamente a definição lata de espécie com os biólogos, ou seja,
um conjunto de populações naturais de seres vivos que se inter-reproduzem.
Uma espécie tem, logo à partida que passar pela noção de população ( no
sentido amplo de ser uma comunidade reprodutiva e não no sentido de
populações de determinada espécie em determinada distribuição geográfica ).
Sob condições ordinárias a dita população deve ser suficientemente coesas
para não evidenciar nos seus componentes divergências definitivas, provando
dessa forma que as forças de coesão são eficientes, o que de outra forma não
poderia distinguir as espécies de unidades menores na hierarquia da
classificação, como a subespécie.
Ora esta noção é de facto muito vaga e contradiz mesmo em teoria a minha
posição em relação à denominada espécie Poecilia wingei como sendo distinta
do Guppy ( Poecilia reticulata ), pois ambas não se encontram isoladas
reprodutivamente, isto é, produzem híbridos férteis com a mesma facilidade
do que se fossem tão somente duas populações da mesma e única espécie.

Então em que é que ficamos ?
O problema é que inúmeras espécies de Poeciliideos aceites como distintas
por ti, por mim ( e por toda a gente incluindo os cientistas )... também
produzem híbridos férteis, embora sejam morfologicamente muito distintas e
por vezes habitem em lados opostos do mesmo continente, em ilhas diferentes
ou uma numa determinada ilha e a outra no continente... separadas por (
presume-se ) milhões de anos de evolução.
Os géneros Gambusia, Poecilia e Xiphophorus são os mais conhecidos por mim e
por quem nos lê neste campo específico da produção de híbridos férteis entre
espécies diferentes e afastadas umas das outras em termos de distribuição
geográfica, mas não são os únicos ou mais marcantes casos nem vou cansar-te
com os inúmeros exemplos que conheço ou que me aconteceram em cativeiro
acidentalmente.

Como posso então aceitar que P. wingei e P. reticulata são espécies
independentes ?
Graças a uma definição mais recente e cada vez mais aceite entre biólogos,
ictiólogos, sistematas ou outros cientistas que estão de alguma forma
ligados à classificação dos peixes.
Esta definição parte do conceito evolucionário, segundo o qual, uma espécie
é uma linhagem única de populações descendentes de ancestrais comuns, a qual
mantém a sua identidade em relação a outras linhagens, podendo até
geneticamente ser comprovada uma história própria e tendências evolutivas
muito específicas em todos os seus elementos.
Só desta forma se pode compreender como é que a espécie Gambusia holbrooki
produz híbridos férteis com Gambusia puncticulata, separadas na natureza por
milhares de quilómetros, um oceano e milhões de anos de evolução, não
deixando de ser duas espécies distintas " à vista desarmada " da evidência (
morfologia ) e... até deste conceito que acabo de expor.

A partir daqui a nossa troca de ideias não teria fim.
Se procurares manter o teu ponto de vista terás alguns bons argumentos para
acrescentar e debater os conceitos por mim aqui expostos.
No entanto, repito, que estes conceitos que estou aqui a defender são
clássicos da ciência, não são inventados por mim, apenas os adoptei não
porque são doutrina mas porque também concordo com essa visão do mundo que
nos rodeia.
A ciência evolui ( felizmente ) a talvez amanhã quem sabe eu venha a adoptar
o teu ponto de vista com base em argumentos científicos.
Estas definições não passam de meras conjecturas gerais ( as tuas e as
minhas ). Elas definem e resumem o que os cientistas crêem que as espécies
possam representar, enquanto entidades vivas, ao longo do tempo.
Estas definições requerem sem dúvida uma certa quantidade de informação que
nem os cientistas conseguem actualmente obter.
Nas amostras populacionais da maioria dos peixes sobre as quais os
sistematas baseiam a descrição de espécie, não pode estar disponível a
informação necessária... sobretudo no caso dos Cyprinodontiformes (
particularmente entre aqueles exemplos de uma ampla distribuição geográfica
nos quais já nem se designam como uma espécie única mas sim como um complexo
de espécies ).
A teoria que eu adoptei como minha aceita, por exemplo, o simples isolamento
geográfico como sendo suficiente para apartar populações de diferentes
espécies ou criar o conceito de subespécie quando a especificação vai ainda
mais longe.

A definição de espécie hoje tem pouco a ver com a definição de espécie do
século passado ?
Claro que sim, pois ainda estamos longe do nosso conhecimento poder entender
de forma clara o que é na realidade uma espécie.
Existe actualmente uma considerável quantidade de definições, o que
contrasta com outros conceitos em biologia como o de célula, por exemplo.
Pelo menos desde Darwin que há um intenso debate sobre a definição de
espécie
Até aqui estamos de acordo.
Além da desejável evolução do conhecimento, a presente classificação será
alterada no futuro, à medida que, sobretudo as revisões feitas com base em
observações genealógicas, se forem tornando mais comuns ainda.
As inter-relações evolutivas entre as espécies de Cyprinodontiformes só
agora estão a dar os primeiros passos.
Ao conceito aceite por ti, falta-lhe o significado evolutivo.
O conceito de espécie que procuras defender é, a meu ver, uma concessão
artificial às convenções mais tradicionais.
A tua análise da questão afigura-se-me algo circular, sendo mais
radicalmente nominalista do que a minha.
As diferenças morfológicas, nomeadamente ao nível do gonopódio, são ainda
hoje uma das oito principais, a saber, conceito morfológico, conceito
filogenético e genealógico, conceito do reconhecimento, conceito biológico,
conceito ecológico, conceito da coesão e conceito evolutivo. 
O conceito morfológico que inclui espécies simpátridas e polimorfismos na
mesma espécie, torna-se de facto muito subjectivo, já que existem
assinaláveis diferenças morfológicas entre formas que se inter-cruzam
livremente, como já tive oportunidade de dar até um exemplo asinalável.
Eu só utilizei o gonopódio como um dos possíveis argumentos e não como o
principal.
De toda a forma, o mesmo critério, isto é, o órgão sexual masculino, não
pode ser utilizado analogamente quer para os seres humanos quer para os
peixes, conforme a tua alegoria sarcástica.
Existem no entanto, inegavelmente, aspectos positivos no conceito de
morfoespécie, nomeadamente pelo fato de ser uma maneira rápida que temos
para reconhecer diferenças muito evidentes entre aquilo que queremos
distinguir como espécies independentes. Seu principal e, quanto a mim, maior
defeito, será sem dúvida a falta de apoio na genética.
Desde a década de 1930 que os cientistas substituíram o conceito morfológico
pelo conceito biológico de espécie, logo não serei eu a inovar e usá-lo como
distintivo primordial.

A espécie é um conceito artificial ?
Não creio Miguel.
Está é ainda por definir de forma a ser aceite universalmente e a poder
gerar inequivocamente consenso em volta de uma descrição suficientemente
lógica para todos nós.
Em última análise a espécie poderá sempre ser entendida como uma categoria
taxinómica no sistema hierárquico de Lineu.
A identificação das espécies usualmente é primariamente morfológica, mas a
definição operacional mais comum é o conceito biológico.
Até aparecer um conceito melhor, são ainda hoje usadas as características
morfológicas ( fenéticas ou fenotípicas ), as propriedades biológicas que
nos facultam o entendimento para mantermos as espécies separadas ( como o
isolamento reprodutivo ) e as que mantém as espécies como entidade
identificável numa linhagem ( fertilização e coesão genética ).
Quanto à questão do nome... deixa-me que te diga que há muito tempo que a
taxonomia já não funciona assim de forma tão primitiva como defiunes na tua
mensagem.


Um abraço

Miguel

 

________________________________________
De: cyprinodontiformes-bounces  viviparos.com
[mailto:cyprinodontiformes-bounces  viviparos.com] Em nome de
cyprinodontiformes  viviparos.com
Enviada: sexta-feira, 19 de Junho de 2009 15:04
Para: cyprinodontiformes  viviparos.com
Assunto: Re: [Cyprinodontiformes] ELB... vamos lá ver se nos entendemos !

A definição de espécie hoje tem pouco a ver com a definição de espécie do
século passado.

De facto, actualmente aceita-se não apenas que uma espécie se possa cruzar
com outra e produzir exemplares férteis como também que o mesmo possa
acontecer até caso do GÉNERO...

Por exemplo, géneros distintos de ciclideos do Malawi podem cruzar-se entre
si e produzir exemplares férteis: o caso dos cruzamentos entre os géneros
Pseudotropheus, Maylandia, Cynotilapia, Melanochomis, Petrotilapia ... etc.

A espécie é uma classificação inventada por nós, humanos e nem sempre
consistente: a natureza prova-nos constantemente que este é um conceito
artificial.

As coisas até se complicaram com o advento da análise genética: dois
elementos de uma mesma espécie podem ter entre si maior percentagem de
variação de DNA do que dois elementos de espécies diferentes. Tudo depende
de onde é diferente e não, em termos de percentagem genética, em quanto é
diferente.

Penso que as discussões nesta área são inúteis e mesmo um tanto ou quando
disparatadas.

É evidente que o conceito de espécie é artificial, tendo sido durante
demasiadas décadas apadrinhado por naturalistas obtusos, como forma de ter
as suas colecções devidamente organizadas nos museus ou nos compêndios.

O rei vai nu. 

Diferenças no gonópodio? E depois? Não se cruzam e não produzem descendência
fértil? À semelhança claro, de muitas outras espécies e mesmo géneros
reconhecidos :)

Vejamos, se, na espécie humana, fossemos seguir alguns dos principios que
têm sido usados na classificação de espécies, seriamos quantas espécies?

Compare-se o gonopódio de um Nigeriano com o de um Japonês... :) 

Mas, entre nós, também há diferenças na pelagem, na coloração, na estatura,
no formato dos olhos, proporções dos membros, etc, etc. Colocando um pigmeu
congolês ao lado de um nórdico, nenhum biólogo marciano os consideraria uma
mesma espécie.

Mas isto não quer dizer que, apesar de oncompleta e nem sempre consistente,
a ideia de "espécie" seja um disparate.

Pelo contrário, trata-se de um conceito útil, faz parte da nossa estrutura
de pensamento chamar nomes às coisas. É preciso haver a unidade biológica
"especie" mesmo que este seja um conceito flexível.

A "espécie" é o que nos permite identificar grupos parecidos de individuos,
atribuindo-lhes estatuto, reconhecendo formalmente a sua existência. 

É algo que nos ajuda a pensar, quanto mais interesse e importância damos à
biodiversidade mais espécies reconheceremos. 

Tal como os Esquimós que, no seu mundo, consideram essencial ter mais de
duzentas palavras para "gelo", então para compreendermos, processarmos,
apreciarmos e preservarmos toda a espantosa diversidade da vida, precisamos
de espécies. 

Isto significa tornar um grupo de seres vivos importante. Dar-lhes
visibilidade, no mundo dos humanos.

É claro que esta classificação, para ser credível, deve ter um mínimo de
regulação e critério mas há claramente uma opção explícita, do cientista ou
cientistas em questão,  reconhecendo a importância de um determinado
conjunto de seres vivos.

Torna-se muito útil usar espécies para descrever a incrível variedade do
Lago Malawi assim como é útil existir a espécie "Poecilia wingei" para
descrever a claramente distinta população da Laguna de Patos.

Há dois efeitos perversos aqui:

1- Quem não compreende que "Espécie" é um conceito artificial e flexível,
baseando em factos reais mas que se destina sobretudo a representar no mundo
dos humanos um determinado grupo de seres vivos, pode perder-se em
interminaveis discussões e debates.

2- A espécie é um nome, como tal não deve mudar! O que aconteceria se nós
estivessemos sempre a mudar de nome? Há espécies que já tiveram mais de uma
dúzia de nomes diferentes...

Isto é precisamente o contrário do pretendido por Lineu: haver um nome ÚNICO
e universalmente reconhecido.

O nome de uma espécie não deveria depender da classificação subjacente, como
o género. 

Deveria ser um nome único e imutável, independente da classificação
taxonómica.

De facto, deveria até ser possível uma mesma espécie poder constar em
diferentes sistemas de classificação.

"Espécie" deve ser sinónimo de ID único, intransmissível e intemporal. 

A grande mudança a fazer é: O primeiro acto de se reconhecer uma espécie não
pode estar dependente de se saber como esta se encaixa na árvore taxonómica.
 

Imagine-se a primeira vez que um cientista encontra um Hipopótamo em África:
Não pode esperar para saber que o bicharoco é aparentado com os golfinhos
(algo que só se concluiu mais de 100 anos depois) para então lhe dar um nome
cientifico...

Primeiro apercebemo-nos que estamos perante um grupo de seres vivos novo,
que não integrado, em termos de regras humanas, em nenhum outro ID que já
reconhecido.

Então baptizamo-lo.

Só mais tarde vamos procurar saber quem é a família.

É assim que as coisas deviam funcionar. É assim que nós, humanos,
funcionamos.

Os nomes têm que ser independentes de classificações.

Miguel 


2009/6/16 <cyprinodontiformes  viviparos.com>
[ENG] Dear members,

If you need an English version of this topic, other than the usual machine
generated conversion, please let me know via viviparos  viviparos.com.
Thanks in advance.

Miguel



[POR] Prezados colegas,

Tenho vindo a receber insistentemente algumas mensagens, especialmente do
Brasil mas também de Portugal ( e uma até de Angola ), solicitando-me ajuda
sobre o Endler.
Sobretudo da Holanda, Bélgica e República Checa chegaram igualmente algumas
contestações em relação à ficha destinada à espécie Poecilia wingei, no meu
sítio na Internet ( http://www.viviparos.com/Fichas/Endler.htm ).
A crítica menos comum mas a mais correcta de todas é relativa à foto dessa
mesma ficha, a qual ilustra um híbrido e não um exemplar genuíno.
Quanto a esta última questão só tenho a pedir desculpas aos meus leitores
pela preguiça de substituir a dita imagem, o que de facto não abona muito a
minha pessoa.
Já em relação aos conteúdos há de facto um esclarecimento importante que
tardo em prestar.
O que é afinal o Endler ?
Para alguns, como o Paulo Alves, utente desta lista, o Endler será apenas um
mero Guppy ( Poecilia reticulata ) ou, quando muito, uma subespécie dessa
espécie e nada mais.
Para outros, incluindo alguns contestados cientistas como o Dr. Poeser...
trata-se de uma nova espécie.
Mas antes de percebermos do que estamos a falar deixem-me definir bem os
conceitos.
Não vou hoje dar-vos a minha noção de espécie, mas procurarei tornar público
o meu entendimento pessoal sobre o Endler, atribuindo sobretudo nomes às
populações para vos divulgar a minha posição sobre o assunto.
Tenho estado, de há um tempo a esta parte, a denominar o Endler como Cumaná
( Alexander & Brenden, 2004 ), Campoma c.q. Poecilia ( Acanthophacelus )
wingei ( Poeser, Kempkes & Isbruecker, 2005 ) e Puerto la Cruz ( Slaboch,
2001 )... conforme a proveniência em questão.
E aqui começam os problemas a sério.
Senão vejamos...

1. Cumaná; subdividem-se, na minha opinião, em três possibilidades :

a) Endler Original

Como Endler Original, entenda-se a linhagem que descende dos peixes
capturados, em 1975, pelo Prof. John A. Endler na Laguna de Patos ( Cumaná
), entregues a Donn Eric Rosen para a respectiva descrição científica e
herdados ( devido ao falecimento deste ) por Klaus Kallman do Aquário de
Nova Iorque - " New York Aquarium ", sendo atribuída a este último a
responsabilidade pela introdução desta linhagem nos circuitos comerciais.
Este peixe havia sido capturado pela primeira vez em 1937, pelo Dr. Franklyn
Bond, o qual depositou o primeiro exemplar no Museu de Zoologia da
Universidade de Michigan, onde permanece conservado.
Esta é a estirpe original de grande parte dos híbridos existentes no
comércio da aquariofilia e ainda hoje vendidos como " puros " em Portugal,
no Brasil e em muitos outros países do mundo.
Os que nesta linhagem se distinguem morfologicamente do Guppy ( Poecilia
reticulata )  são raros e geralmente não estão à venda no comércio.
São habitualmente trocados entre aquariófilos com a designação Endler barra
negra original Classe P ( de acordo com o sistema de classificação da ERU -
" Endler are Us " - http://www.endlersr.us/ ).
Em resumo, os descendentes da LINHAGEM ORIGINAL Cumaná ( capturada em 1975 )
resultam actualmente nos já raros barra negra " classe P " ( designação
aplicada a qualquer peixe cuja origem seja desconhecida mas que se enquadre
nas características fisionómicas, dimensões e coloração dos animais
originais capturados na natureza ) e à maioria dos comuns " classe K " (
qualquer híbrido ).

b) Endler " selvagem " ( ou dito puro )

Como Endler " selvagem ", entenda-se todo e qualquer Endler ( e respectiva
descendência ), capturado após 1975, que se possa provar ser original de
águas nativas, sendo por essa razão incluído na " Classe N " do sistema de
classificação da ERU - " Endler are Us " - http://www.endlersr.us/.
Aqui se enquadram os peixes mantidos em cativeiro de acordo com linhagens de
distintas estirpes originais, as quais foram sendo encontradas no mesmo
corpo de água ou noutros, mas não muito distantes entre si, com destaque
para a Lagoa dos Patos em Cumaná.
Quase todas estas linhagens apresentam uma clara divergência morfológica em
relação ao Guppy.
Mesmo considerando o polimorfismo da espécie, até os mais críticos da
classificação da espécie Poecilia wingei, podem ficar perplexos com certas
diferenças, nomeadamente ao nível do gonopódio.
Outra notável dissemelhança é o tamanho total entre os adultos de ambas as
espécies.
Mas uma das razões mais fortes que me levam a acreditar que se trata de uma
espécie à parte é o facto de Cumaná ( classe P mas sobretudo N ), ao
contrário de todas as outras populações conhecidas de Poecilia reticulata,
confronta-nos muitas vezes com nascimentos intercalados ao longo de vários
dias ou semanas... como nas espécies que desenvolveram processos de
superfetação.

c) Híbridos naturais

Os híbridos " selvagens " são peixes capturados na natureza que apresentam
as mesmas características dos peixes obtidos pelo cruzamento entre o Endler
e o Guppy.
Na Lagoa dos Patos e noutros locais de Cumaná, capturaram-se, sobretudo mais
recentemente, cada vez maiores quantidades destes híbridos.
Os relatos de expedições ao local confirmam essa tendência.
No início do ano passado, uma expedição da Asociación Acuaristas de
Venezuela ( http://www.acuaristasdevenezuela.com  ) deslocou-se  a  Cumaná
tendo confirmado o total fracasso para capturar outra coisa que não uns
raríssimos híbridos, ( muito mais parecidos com o Guppy do que com aqueles
que se designam como Endler classe K ).
Da Venezuela chegam notícias de uma provável " extinção " dos Cumaná na
Lagoa dos Patos, atribuindo-se à introdução da Tilápia Vermelha (
Oreochromis mossambica var red ) o desaparecimento destes peixes, o que
levou a Associação dedicada ao Endler em Espanha ( Club Endler
http://www.clubendler.es ) a enviar algumas matrizes de pelo menos duas
estirpes aos aquariofilistas Venezuelanos.
Os híbridos e a sua expansão levaram mesmo o Dr. Poeser a escrever que o
Endler teria sido introduzido em Cumaná a partir das populações de Poecilia
wingei encontradas na região da Península de Pária, mais de 100 quilómetros
a oriente.
O que é facto é que em Cumaná e arredores existem populações naturais de
Poecilia reticulata.
Embora o Guppy procure um tipo de ecossistema ( em relação à temperatura,
salinidade, turbidez e movimento da água ), há locais onde se encontraram e
capturaram ambas as espécies, mas não se acharam vestígios de híbridos.
Noutros pontos de confluência os híbridos eram mais abundantes do que os
exemplares " puros " de ambas as espécies.


2. Campoma ( Poecilia wingei )

Como Campoma designarei os Endler " selvagens ", isto é, todo e qualquer
indivíduo ( e respectiva descendência ), capturado na natureza que se possa
provar ser original de águas nativas da Lagoa Buena Vista e Lagoa Campoma ou
áreas limítrofes da Península de Pária, sendo por essa razão, de acordo com
o meu entendimento, incluídos igualmente no equivalente à " Classe N " dos
Cumaná.
Os Campoma desta região da Venezuela, situada a 150 quilómetros a oriente de
Cumaná, numa zona isolada por montanhas estão na base do artigo de descrição
da espécie Poecilia wingei.
São ainda actualmente muito raros na aquariofilia e apresentam várias
estirpes diferentes das conhecidas com origem em Cumaná.
Infelizmente, apesar dos meus esforços, nunca me fizeram chegar um macho
preservado em álcool para eu poder analisá-lo, ao microscópio, e poder dessa
forma chegar a alguma conclusão.
Os mais radicais ( sobretudo na Holanda ) admitem que estes peixes sejam
mesmo diferentes dos designados por mim como Cumaná.
Não existem criadores conhecidos na Península Ibérica, pelo que não me
alongarei por mais comentários excepto a expressão « wait and see », ou
melhor, « ver para querer, como São Tomé ».
Só depois de ter um exemplar como referência poderei atestar as diferenças
em relação ao Guppy ou mesmo em relação ao Cumaná.


3. Puerto la Cruz

Os peixes desta população são para mim um completo mistério.
Foram colhidos apenas 15 exemplares pelo Dr. Roman Slaboch, um biólogo
Checo, o qual encontrou, em 2001, uma nova população de Endler numa lagoa
poluída a 1 quilómetro de distância de Puerto la Cruz, na praia Colorada (
10.23462 N; 64.62082 W ), ou seja, a mais de 100 quilómetros a ocidente de
Cumaná e a mais de 250 quilómetros de Campoma na mesma direcção.
As únicas imagens fidedignas destes peixes encontram-se num artigo do
próprio autor em
http://www.akvarium.cz/1899/pages/text/recent/slaboch/venezuela/v2/v2.htm, e
num sítio Japonês em http://endlerslivebearer.fc2web.com/notes/locality.htm.
Neste último há um óptimo mapa com as três localizações referidas
anteriormente.
O que é curioso é que na última foto que ilustra um macho Puerto la Cruz, a
imagem mostra-nos claramente aquilo que seria identificado facilmente como
um híbrido natural Cumaná.
Já nas fotos deste outro sítio -
http://homepage2.nifty.com/endlers/my_endler_(12)eplc.html atribui-se a
origem dos peixes aí ilustrados como sendo Puerto la Cruz, quando esta
estirpe poderia ser perfeitamente confundida com a comum Cumaná " classe P
".
Tenciono pois encetar contactos com o Dr. Roman Slaboch em breve, pois tenho
o seu endereço de correio electrónico, já que ambos participámos no processo
de formação do Goodeid Working Group ( GWG ).



Notas finais

. Agradeço, em primeiro lugar, ao colega Kevin van Dijk por me ter chamado a
atenção para o respectivo sítio http://www.endlers.nl/, no qual tomei
conhecimento com a população Puerto la Cruz e as ligações acima descritas.

. Chamo a vossa atenção para a dificuldade que é distinguir todas estas
diferentes populações e classes " à vista desarmada ", nomeadamente sem uma
foto com a ampliação necessária.

. Aconselho-vos a terem o maior cuidado com as abundantes fraudes de pessoas
que comercializam " gato por lebre " insinuando que estão a vender Endler,
ou melhor, peixes classificados como " P " ou mesmo " N ", quando na
realidade não passam de híbridos ( " K " ) geralmente produzidos em
cativeiro.

. Alerto para a possibilidade de existirem já populações de Endler,
nomeadamente classe K ( híbridos ) em vários locais do mundo, nomeadamente
em lagos públicos.
O nosso colega Felipe Aoki teve o cuidado e amabilidade de me enviar umas
fotos que ilustravam, segundo ele, um " Guppy " diferente, para que eu lhe
desse o meu parecer sobre a respectiva identificação.
Na minha óptica tratava-se de um perfeito Cumaná classe K, o qual, segundo o
autor das fotos, estará mesmo já disseminado num corpo de água da sua
região, no Estado de São Paulo.
Outro aquariofilista, com base nas mesmas fotos do colega Felipe Aoki,
pediu-me igualmente a opinião, pois o mesmo peixe estará a supostamente a
ser vendido como um Endler " puro " ( classe P ou N ? ), por um
aquariofilista de São Paulo com " olho para o negócio " mas poucos
escrúpulos... o que só veio dar crédito à minha identificação com base nas
referidas imagens enviadas originalmente pelo Felipe.

. Espero que tenham compreendido a minha teoria e em particular porque é tão
fácil assistirmos a uma autêntica guerra de palavras, algumas vezes
extremamente violentas e a primarem pela má educação, sobre este polémico
peixe.


Em conclusão... seja como for, por favor nunca, mas nunca, juntem nenhum
Endler com Guppy.


Um abraço a todos

Miguel Andrade


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