[Cyprinodontiformes] ELB... vamos lá ver se nos entendemos !

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Terça-Feira, 16 de Junho de 2009 - 02:33:52 WEST


[ENG] Dear members,

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generated conversion, please let me know via viviparos  viviparos.com.
Thanks in advance.

Miguel



[POR] Prezados colegas,

Tenho vindo a receber insistentemente algumas mensagens, especialmente do
Brasil mas também de Portugal ( e uma até de Angola ), solicitando-me ajuda
sobre o Endler.
Sobretudo da Holanda, Bélgica e República Checa chegaram igualmente algumas
contestações em relação à ficha destinada à espécie Poecilia wingei, no meu
sítio na Internet ( http://www.viviparos.com/Fichas/Endler.htm ).
A crítica menos comum mas a mais correcta de todas é relativa à foto dessa
mesma ficha, a qual ilustra um híbrido e não um exemplar genuíno.
Quanto a esta última questão só tenho a pedir desculpas aos meus leitores
pela preguiça de substituir a dita imagem, o que de facto não abona muito a
minha pessoa.
Já em relação aos conteúdos há de facto um esclarecimento importante que
tardo em prestar.
O que é afinal o Endler ?
Para alguns, como o Paulo Alves, utente desta lista, o Endler será apenas um
mero Guppy ( Poecilia reticulata ) ou, quando muito, uma subespécie dessa
espécie e nada mais.
Para outros, incluindo alguns contestados cientistas como o Dr. Poeser...
trata-se de uma nova espécie.
Mas antes de percebermos do que estamos a falar deixem-me definir bem os
conceitos.
Não vou hoje dar-vos a minha noção de espécie, mas procurarei tornar público
o meu entendimento pessoal sobre o Endler, atribuindo sobretudo nomes às
populações para vos divulgar a minha posição sobre o assunto.
Tenho estado, de há um tempo a esta parte, a denominar o Endler como Cumaná
( Alexander & Brenden, 2004 ), Campoma c.q. Poecilia ( Acanthophacelus )
wingei ( Poeser, Kempkes & Isbruecker, 2005 ) e Puerto la Cruz ( Slaboch,
2001 )... conforme a proveniência em questão.
E aqui começam os problemas a sério.
Senão vejamos...

1. Cumaná; subdividem-se, na minha opinião, em três possibilidades :

a) Endler Original

Como Endler Original, entenda-se a linhagem que descende dos peixes
capturados, em 1975, pelo Prof. John A. Endler na Laguna de Patos ( Cumaná
), entregues a Donn Eric Rosen para a respectiva descrição científica e
herdados ( devido ao falecimento deste ) por Klaus Kallman do Aquário de
Nova Iorque - " New York Aquarium ", sendo atribuída a este último a
responsabilidade pela introdução desta linhagem nos circuitos comerciais.
Este peixe havia sido capturado pela primeira vez em 1937, pelo Dr. Franklyn
Bond, o qual depositou o primeiro exemplar no Museu de Zoologia da
Universidade de Michigan, onde permanece conservado.
Esta é a estirpe original de grande parte dos híbridos existentes no
comércio da aquariofilia e ainda hoje vendidos como " puros " em Portugal,
no Brasil e em muitos outros países do mundo.
Os que nesta linhagem se distinguem morfologicamente do Guppy ( Poecilia
reticulata )  são raros e geralmente não estão à venda no comércio.
São habitualmente trocados entre aquariófilos com a designação Endler barra
negra original Classe P ( de acordo com o sistema de classificação da ERU -
" Endler are Us " - http://www.endlersr.us/ ).
Em resumo, os descendentes da LINHAGEM ORIGINAL Cumaná ( capturada em 1975 )
resultam actualmente nos já raros barra negra " classe P " ( designação
aplicada a qualquer peixe cuja origem seja desconhecida mas que se enquadre
nas características fisionómicas, dimensões e coloração dos animais
originais capturados na natureza ) e à maioria dos comuns " classe K " (
qualquer híbrido ).

b) Endler " selvagem " ( ou dito puro )

Como Endler " selvagem ", entenda-se todo e qualquer Endler ( e respectiva
descendência ), capturado após 1975, que se possa provar ser original de
águas nativas, sendo por essa razão incluído na " Classe N " do sistema de
classificação da ERU - " Endler are Us " - http://www.endlersr.us/.
Aqui se enquadram os peixes mantidos em cativeiro de acordo com linhagens de
distintas estirpes originais, as quais foram sendo encontradas no mesmo
corpo de água ou noutros, mas não muito distantes entre si, com destaque
para a Lagoa dos Patos em Cumaná.
Quase todas estas linhagens apresentam uma clara divergência morfológica em
relação ao Guppy.
Mesmo considerando o polimorfismo da espécie, até os mais críticos da
classificação da espécie Poecilia wingei, podem ficar perplexos com certas
diferenças, nomeadamente ao nível do gonopódio.
Outra notável dissemelhança é o tamanho total entre os adultos de ambas as
espécies.
Mas uma das razões mais fortes que me levam a acreditar que se trata de uma
espécie à parte é o facto de Cumaná ( classe P mas sobretudo N ), ao
contrário de todas as outras populações conhecidas de Poecilia reticulata,
confronta-nos muitas vezes com nascimentos intercalados ao longo de vários
dias ou semanas... como nas espécies que desenvolveram processos de
superfetação.

c) Híbridos naturais

Os híbridos " selvagens " são peixes capturados na natureza que apresentam
as mesmas características dos peixes obtidos pelo cruzamento entre o Endler
e o Guppy.
Na Lagoa dos Patos e noutros locais de Cumaná, capturaram-se, sobretudo mais
recentemente, cada vez maiores quantidades destes híbridos.
Os relatos de expedições ao local confirmam essa tendência.
No início do ano passado, uma expedição da Asociación Acuaristas de
Venezuela ( http://www.acuaristasdevenezuela.com  ) deslocou-se  a  Cumaná
tendo confirmado o total fracasso para capturar outra coisa que não uns
raríssimos híbridos, ( muito mais parecidos com o Guppy do que com aqueles
que se designam como Endler classe K ).
Da Venezuela chegam notícias de uma provável " extinção " dos Cumaná na
Lagoa dos Patos, atribuindo-se à introdução da Tilápia Vermelha (
Oreochromis mossambica var red ) o desaparecimento destes peixes, o que
levou a Associação dedicada ao Endler em Espanha ( Club Endler
http://www.clubendler.es ) a enviar algumas matrizes de pelo menos duas
estirpes aos aquariofilistas Venezuelanos.
Os híbridos e a sua expansão levaram mesmo o Dr. Poeser a escrever que o
Endler teria sido introduzido em Cumaná a partir das populações de Poecilia
wingei encontradas na região da Península de Pária, mais de 100 quilómetros
a oriente.
O que é facto é que em Cumaná e arredores existem populações naturais de
Poecilia reticulata.
Embora o Guppy procure um tipo de ecossistema ( em relação à temperatura,
salinidade, turbidez e movimento da água ), há locais onde se encontraram e
capturaram ambas as espécies, mas não se acharam vestígios de híbridos.
Noutros pontos de confluência os híbridos eram mais abundantes do que os
exemplares " puros " de ambas as espécies.


2. Campoma ( Poecilia wingei )

Como Campoma designarei os Endler " selvagens ", isto é, todo e qualquer
indivíduo ( e respectiva descendência ), capturado na natureza que se possa
provar ser original de águas nativas da Lagoa Buena Vista e Lagoa Campoma ou
áreas limítrofes da Península de Pária, sendo por essa razão, de acordo com
o meu entendimento, incluídos igualmente no equivalente à " Classe N " dos
Cumaná.
Os Campoma desta região da Venezuela, situada a 150 quilómetros a oriente de
Cumaná, numa zona isolada por montanhas estão na base do artigo de descrição
da espécie Poecilia wingei.
São ainda actualmente muito raros na aquariofilia e apresentam várias
estirpes diferentes das conhecidas com origem em Cumaná.
Infelizmente, apesar dos meus esforços, nunca me fizeram chegar um macho
preservado em álcool para eu poder analisá-lo, ao microscópio, e poder dessa
forma chegar a alguma conclusão.
Os mais radicais ( sobretudo na Holanda ) admitem que estes peixes sejam
mesmo diferentes dos designados por mim como Cumaná.
Não existem criadores conhecidos na Península Ibérica, pelo que não me
alongarei por mais comentários excepto a expressão « wait and see », ou
melhor, « ver para querer, como São Tomé ».
Só depois de ter um exemplar como referência poderei atestar as diferenças
em relação ao Guppy ou mesmo em relação ao Cumaná.


3. Puerto la Cruz

Os peixes desta população são para mim um completo mistério.
Foram colhidos apenas 15 exemplares pelo Dr. Roman Slaboch, um biólogo
Checo, o qual encontrou, em 2001, uma nova população de Endler numa lagoa
poluída a 1 quilómetro de distância de Puerto la Cruz, na praia Colorada (
10.23462 N; 64.62082 W ), ou seja, a mais de 100 quilómetros a ocidente de
Cumaná e a mais de 250 quilómetros de Campoma na mesma direcção.
As únicas imagens fidedignas destes peixes encontram-se num artigo do
próprio autor em
http://www.akvarium.cz/1899/pages/text/recent/slaboch/venezuela/v2/v2.htm, e
num sítio Japonês em http://endlerslivebearer.fc2web.com/notes/locality.htm.
Neste último há um óptimo mapa com as três localizações referidas
anteriormente.
O que é curioso é que na última foto que ilustra um macho Puerto la Cruz, a
imagem mostra-nos claramente aquilo que seria identificado facilmente como
um híbrido natural Cumaná.
Já nas fotos deste outro sítio -
http://homepage2.nifty.com/endlers/my_endler_(12)eplc.html atribui-se a
origem dos peixes aí ilustrados como sendo Puerto la Cruz, quando esta
estirpe poderia ser perfeitamente confundida com a comum Cumaná " classe P
".
Tenciono pois encetar contactos com o Dr. Roman Slaboch em breve, pois tenho
o seu endereço de correio electrónico, já que ambos participámos no processo
de formação do Goodeid Working Group ( GWG ).



Notas finais

. Agradeço, em primeiro lugar, ao colega Kevin van Dijk por me ter chamado a
atenção para o respectivo sítio http://www.endlers.nl/, no qual tomei
conhecimento com a população Puerto la Cruz e as ligações acima descritas.

. Chamo a vossa atenção para a dificuldade que é distinguir todas estas
diferentes populações e classes " à vista desarmada ", nomeadamente sem uma
foto com a ampliação necessária.

. Aconselho-vos a terem o maior cuidado com as abundantes fraudes de pessoas
que comercializam " gato por lebre " insinuando que estão a vender Endler,
ou melhor, peixes classificados como " P " ou mesmo " N ", quando na
realidade não passam de híbridos ( " K " ) geralmente produzidos em
cativeiro.

. Alerto para a possibilidade de existirem já populações de Endler,
nomeadamente classe K ( híbridos ) em vários locais do mundo, nomeadamente
em lagos públicos.
O nosso colega Felipe Aoki teve o cuidado e amabilidade de me enviar umas
fotos que ilustravam, segundo ele, um " Guppy " diferente, para que eu lhe
desse o meu parecer sobre a respectiva identificação.
Na minha óptica tratava-se de um perfeito Cumaná classe K, o qual, segundo o
autor das fotos, estará mesmo já disseminado num corpo de água da sua
região, no Estado de São Paulo.
Outro aquariofilista, com base nas mesmas fotos do colega Felipe Aoki,
pediu-me igualmente a opinião, pois o mesmo peixe estará a supostamente a
ser vendido como um Endler " puro " ( classe P ou N ? ), por um
aquariofilista de São Paulo com " olho para o negócio " mas poucos
escrúpulos... o que só veio dar crédito à minha identificação com base nas
referidas imagens enviadas originalmente pelo Felipe.     

. Espero que tenham compreendido a minha teoria e em particular porque é tão
fácil assistirmos a uma autêntica guerra de palavras, algumas vezes
extremamente violentas e a primarem pela má educação, sobre este polémico
peixe.


Em conclusão... seja como for, por favor nunca, mas nunca, juntem nenhum
Endler com Guppy.


Um abraço a todos

Miguel Andrade




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