Re: [Cyprinodontiformes] Resultados da prospecção ao lago este fim-de-semana.

Miguel Figueiredo fig.miguel gmail.com
Quinta-Feira, 26 de Fevereiro de 2009 - 15:26:34 WET


Viva Miguel,
Excelente o teu trabalho!

Estou especialmente admirado com a Xenotoca eiseni - grande peixe! Nunca
esperei que resistisse a tão baixas temperaturas.

Estou certo que os Fundulus e Aphanius não morreram de frio.

Aqui onde moro, na Charneca da Caparica, cheguei a sair de casa às 7:30 da
manhã com 1 grau de temperatura. Os campos aqui da zona estavam todos
branquinhos da geada. Tenho Aphanius mento e Aphanius danfordii "Soysalli"
dentro de vasos verdes (acho que te lembras deles) - como os vasos estão em
contacto com o ar, a temperatura da água deve também ter estado muito
próxima de zero... e os peixes estão bem.

No lago, estou um bocado preocupado com os Phallocerus - não consigo ver
nenhum mas o certo é que não consigo ver nenhum outro peixe e acredito que
os meridionalis continuam vivos. No fim de semana passei o casal
de danfordii para o lago, assim como 6 Jordanella, na esperança que me
ajudem a combater uma alga verde de fios rijos que que está a aparecer.

Também suspeito que não foi de frio que os teus Amecas morreram. Já os vi
felizes da vida em água a 4 graus de temperatura!

O problema das baixas temperaturas é que torna alguns peixes mais sensíveis
a doenças, principalmente a fungos. Assim dependerá também do tipo de água e
da quantidade de matéria orgânica a sobrevivencia ao frio. No meu primeiro
lago tinha um grupo de 12 Melanotaenia splendida que quinaram todos no final
de Outubro, com fungos.

Em Novembro, quando esvaziei o meu lago actual, também não encontrei
Fundulus, tinha lá um casal, a fêmea já lá tinha passado o inverno anterior.
Certamente não morreram de frio mas talvez a queda de temperatura possa ter
contribuido para os debilitar.

Os progenitores dos Fundulus do Gil foram criados por mim numa caixa
plástica de 45 litros, ao ar livre, tinha muito pouco efeito de "buffer" e a
temperatura variava bastante, mas, aparentemente os peixes não se
importavam.

Também concordo que quem sobreviveu este inverno sobrevive, nas respectivas
regiões, a qualquer outro. Estou em pulgas para descobrir se os Phallocerus
escaparam. Há semanas que não os vejo em lado nenhum! Se escaparam, devem
ter uma estratégia semelhante às gambusias: enterrarem-se no fundo em
semi-hibernação.


Miguel


2009/2/25 www.viviparos.com <viviparos  viviparos.com>

> Prezados colegas,
>
> Hoje partilho convosco os resultados da prospecção ao lago este
> fim-de-semana.
> Parece que temos excelentes espécies resistentes ao nosso clima e algumas
> surpresas.
> Partilho a opinião do Paulo Alves, segundo a qual as espécies que
> resistirem
> ao Inverno 2008/2009 terão seguramente sobrevivência garantida em qualquer
> outro ano.
> Dessa forma procedi a um levantamento exaustivo das espécies que
> conseguiram
> ultrapassar com sucesso as invulgarmente baixas temperaturas registadas em
> Janeiro deste ano.
> A operação teve lugar esta Segunda-feira, dia 23 de Fevereiro, consistindo
> no esvaziamento total do lago e posterior reenchimento.
> A temperatura do ar entre as 0:00 e as 24:00 desse dia variou entre a
> mínima
> de 7ºC e a máxima de 19ºC e entre 14ºC ( 6:00 ) e 15ºC ( 18:00 ) na água do
> lago.
> Nas fotografias anexas ( espero eu que as recebam através desta mensagem,
> embora não fiquem disponíveis depois no arquivo da lista ), podem
> testemunhar algumas das espécies que foram capturadas.
> A lista total de sobreviventes registados no final da captura foi a
> seguinte
> :
>
> Carassius auratus ( introdução acidental no ano passado e erradicado
> totalmente )
> Cyprinus carpio ( Koy )
> Cyprinodon alvarezi ( El Potosi )
> Heterandria formosa
> Oryzias latipes
> Skiffia multipunctata
> Xenotoca eiseni
>
> Não foram encontrados exemplares das seguintes espécies introduzidos antes
> do Inverno :
>
> Ameca splendens
> Aphanius mento ( Elbistan )
> Fundulus cingulatus
>
> Conclusões :
>
> Foi uma grande surpresa não ter encontrado nem exemplares de Aphanius mento
> nem de Fundulus cingulatus, pois são tidos como resistentes ao frio.
> Os Fundulus cingulatus eram mesmo descendentes da linhagem criada pelo
> Alberto Gil, os quais estão habituadíssimos ao Inverno em pequenos lagos
> numa zona seguramente mais fria ( Torres Vedras ).
> Teriam sido vítimas de predação por serem muito jovens ?
> Nesse caso também teriam desaparecido todos os exemplares de Heterandria
> formosa, os quais consituíram sem dúvida a mais inesperada boa notícia, já
> que embora encontrados em reduzido número ( 23 exemplares ), nem faziam
> parte da memória de espécies existentes no lago, como podem comprovar com a
> lista publicada na mensagem enviada no dia 26 de Janeiro com o assunto “
> Recorde de temperatura mínima no lago “.
> Constituiu uma surpresa moderada ter encontrado apenas exemplares jovens e
> crias de Xenotoca eiseni, pois todos os adultos ( especialmente os maiores
> )
> morreram.
> Sendo a Xenotoca eiseni uma espécie em teoria menos resistente às baixas
> temperaturas do que a Ameca splendens, foi um choque ter perdido as
> escassas
> centenas de exemplares desta última espécie, devido o frio deste Inverno,
> depois de terem sobrevivido sem vítimas no ano passado, por exemplo.
> Note-se que o nosso conhecido colega Martin R. Tversted, no artigo de sua
> autoria - “ Low Temperatures and Cyprinodonts “ - defende que ambas as
> espécies possuem uma resistência idêntica ( 10ºC ), contudo as Xenotoca
> eiseni este ano sobreviveram durante 5 dias abaixo dos 8ºC, tendo mesmo
> resistido ao recorde de temperatura mínima registada de 5,4 ºC, como se
> pode
> ver mais abaixo.
> Ainda usando como referência o artigo anteriormente mencionado do nosso
> colega Dinamarquês, vejam por exemplo o caso da espécie Skiffia
> multipunctata, referenciada no mesmo como podendo resistir até a um mínimo
> de 7ºC.
> O exemplar encontrado de novo, trata-se de uma fêmea já nascida nos meus
> aquários, a qual, além de ter passado os 3 últimos Invernos no exterior,
> desta vez superou todas as expectativas.
> Outra curiosidade a destacar é que este peixinho escapou da captura dos
> exemplares da sua espécie que mantinha quando, infelizmente, tive que me
> desfazer dos aquários mantidos em Lisboa, indo perfazer em Abril de 2009 os
> 4 anos de idade.
> Sem dúvida uma espécie a eleger para o povoamento deste lago no futuro.
> Nesta operação foram retirados todos os exemplares de Carassius auratus a
> fim de facilitar a reprodução das espécies depositadoras de ovos.
> A título de curiosidade é de salientar a grande quantidade de camarões “
> Red
> Cherry “ ( Neocaridina denticulata sinensis ), incluindo fêmeas já com com
> ovos maduros e muitas crias.
> Para além de muitos invertebrados não identificados foi descoberto um
> girino
> de Rã-verde ou Rã-comum ( Rana perezi ), sem dúvida remanescente da época
> passada, dado o seu estádio de desenvolvimento e a inexistência de ovos ou
> de outros girinos.
> Outro batráquio presente ( apenas 2 exemplares ) foi a Rã Pintada Ibérica
> ou
> Discoglosso Ibérico ( Discoglossus galganoi ).
> Da flora introduzida no lago desapareceu pela primeira vez este ano o
> chamado Musgo de Java ( Vesicularia dubyana ? ou Taxiphyllum barbieri ? ),
> aqui referido desta forma por se tratar na realidade de outra espécie não
> identificada; provavelmente o musgo proveniente da Formosa ( Taxiphyllum
> alternans ), dado ser muito resistente ao frio letal para o Vesicularia
> dubyana que se faz sentir no nosso Inverno.
> Todas as restantes plantes resistiram perfeitamente às incrivelmente baixas
> temperaturas, sendo a flora actual composta pelas seguintes espécies :
>
> Elodea canadensis
> Egeria densa
> Lagarosiphon major
> Myriophyllum spicatum
> Potamogeton nudosus
> Potamogeton pectinatus
>
> Para terminar transcrevo de seguida algumas passagens importantes da minha
> mensagem enviada sobre os rigores deste Inverno no passado dia 26 de
> Janeiro
> :
>
> Embora tenha cessado a série de aferições diárias; em dias excepcionalmente
> frios ( ou quentes ) continuo a anotar as temperaturas para futura
> referência.
> Os dados apurados à superfície da água ( 15 cm de profundidade ) no lago,
> neste início do ano foram os seguintes :
>
> 05-01-2009 > 12,3ºC
> 06-01-2009 > 10,1ºC
> 07-01-2009 > 9,6ºC
> 08-01-2009 > 9,2ºC
> 09-01-2009 > 7,2ºC ( dia mais frio -1,6ºC / 5,2ºC )
> 10-01-2009 > 7,1ºC
> 11-01-2009 > 6,4ºC
> 12-01-2009 > 5,2ºC
> 13-01-2009 > 6,7ºC
> 14-01-2009 > 8,3ºC
> 15-01-2009 > 10,2ºC
>
> Se observarem bem os meus registos expressos na página
> http://www.viviparos.com/Biologia/Lago.htm, nomeadamente na parte relativa
> aos resultados anuais ( com todos os dados obtidos e gráficos descriminados
> por ano ), estas temporadas de frio intenso não são muito frequentes.
> Há dois anos em particular, nos quais destaco situações de frio intenso no
> período compreendido entre 1985 e 2006.
> Atentem em particular ao mês de Janeiro de 2005 e ao de 1992.
> A novidade neste início de 2009 foi o facto de ter sido batido o recorde
> anterior da mínima absoluta ( 5,5ºC ) e da súbita descida não ter
> acompanhado de perto as temperaturas do ar, dado que o dia mais frio do
> período estudado foi o dia 9 de Janeiro e não o dia 12 de Janeiro.
> A explicação mais óbvia para esse contra censo é o facto de a amplitude
> térmica ter sido muito curta, tendo-se mantido as temperaturas máximas do
> ar
> muito baixas.
> Seja como for, fica para a memória futura o mês de Novembro mais frio desde
> 1985 e um gélido início de Janeiro de 2009 com o recorde absoluto da
> mínima.
>
> _______________________________________________
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> Cyprinodontiformes  viviparos.com
> http://viviparos.com/cgi-bin/mailman/listinfo/cyprinodontiformes
>
>
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