RE: [Cyprinodontiformes] Resultados da prospecção ao lago este fim-de-semana.

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Sexta-Feira, 27 de Fevereiro de 2009 - 22:57:21 WET


Olá Miguel,

Agradeço-te muito a contribuição e os elogios, embora tenham sido muito
exagerados.
No seguimento da minha mensagem já tive oportunidade de falar com alguns de
vós por telefone.
Estamos todos de acordo que nem os Aphanius nem os Fundulus sucumbiram ao
frio.
Para além da tua experiência aqui comentada com Aphanius mento e Aphanius
danfordii, a qual muito agradeço, há inúmeros testemunhos em particular dos
colegas de Espanha que confirmam de facto a resistência destes peixes a
temperaturas muito inferiores a estas.
Manda notícias dos Phallocerus aqui para a lista assim que tiveres
novidades.
Quanto à tua experiência com as Amecas splendens tenho a comentar que essa
experiência não deve ter durado o tempo suficiente para vitimar os peixes.
Neste caso em particular, o que vitimou as minhas foi o facto das
temperaturas letais terem perdurado por demasiado tempo.
Não nos podemos esquecer que os peixes estavam já debilitados por
temperaturas anormalmente baixas logo em Novembro de 2008.
Concordo plenamente com a tua observação sobre o efeito do frio na
debilidade dos peixes.
Alguns Poecilídeos que testei no nosso clima em tempos, como a Poecilia
sphenops, conseguiam sobreviver a menos 4ºC a 5ºC do que o seu limite mínimo
se estivessem em água salobra ou salgada, pois certos agentes patogénicos,
como os fungos, não sobreviviam à salinidade.
Outro factor importante é sem dúvida a qualidade da água, pois quanto mais
pura for menos condições existem para se desenvolverem agentes patogénicos.
E por aqui me fico por agora.
Vai-nos transmitindo também notícias sobre as espécies que manténs na " fish
rooom " resguardados do frio.

Um abraço

Miguel


________________________________________
De: cyprinodontiformes-bounces  viviparos.com
[mailto:cyprinodontiformes-bounces  viviparos.com] Em nome de Miguel
Figueiredo
Enviada: quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009 15:27
Para: vviparos  viviparos.com
Cc: cyprinodontiformes  viviparos.com
Assunto: Re: [Cyprinodontiformes] Resultados da prospecção ao lago este
fim-de-semana.

Viva Miguel,

Excelente o teu trabalho! 

Estou especialmente admirado com a Xenotoca eiseni - grande peixe! Nunca
esperei que resistisse a tão baixas temperaturas.

Estou certo que os Fundulus e Aphanius não morreram de frio.

Aqui onde moro, na Charneca da Caparica, cheguei a sair de casa às 7:30 da
manhã com 1 grau de temperatura. Os campos aqui da zona estavam todos
branquinhos da geada. Tenho Aphanius mento e Aphanius danfordii "Soysalli"
dentro de vasos verdes (acho que te lembras deles) - como os vasos estão em
contacto com o ar, a temperatura da água deve também ter estado muito
próxima de zero... e os peixes estão bem.

No lago, estou um bocado preocupado com os Phallocerus - não consigo ver
nenhum mas o certo é que não consigo ver nenhum outro peixe e acredito que
os meridionalis continuam vivos. No fim de semana passei o casal
de danfordii para o lago, assim como 6 Jordanella, na esperança que me
ajudem a combater uma alga verde de fios rijos que que está a aparecer.

Também suspeito que não foi de frio que os teus Amecas morreram. Já os vi
felizes da vida em água a 4 graus de temperatura!

O problema das baixas temperaturas é que torna alguns peixes mais sensíveis
a doenças, principalmente a fungos. Assim dependerá também do tipo de água e
da quantidade de matéria orgânica a sobrevivencia ao frio. No meu primeiro
lago tinha um grupo de 12 Melanotaenia splendida que quinaram todos no final
de Outubro, com fungos.

Em Novembro, quando esvaziei o meu lago actual, também não encontrei
Fundulus, tinha lá um casal, a fêmea já lá tinha passado o inverno anterior.
Certamente não morreram de frio mas talvez a queda de temperatura possa ter
contribuido para os debilitar.

Os progenitores dos Fundulus do Gil foram criados por mim numa caixa
plástica de 45 litros, ao ar livre, tinha muito pouco efeito de "buffer" e a
temperatura variava bastante, mas, aparentemente os peixes não se
importavam.

Também concordo que quem sobreviveu este inverno sobrevive, nas respectivas
regiões, a qualquer outro. Estou em pulgas para descobrir se os Phallocerus
escaparam. Há semanas que não os vejo em lado nenhum! Se escaparam, devem
ter uma estratégia semelhante às gambusias: enterrarem-se no fundo em
semi-hibernação.


Miguel


2009/2/25 www.viviparos.com <viviparos  viviparos.com>
Prezados colegas,

Hoje partilho convosco os resultados da prospecção ao lago este
fim-de-semana.
Parece que temos excelentes espécies resistentes ao nosso clima e algumas
surpresas.
Partilho a opinião do Paulo Alves, segundo a qual as espécies que resistirem
ao Inverno 2008/2009 terão seguramente sobrevivência garantida em qualquer
outro ano.
Dessa forma procedi a um levantamento exaustivo das espécies que conseguiram
ultrapassar com sucesso as invulgarmente baixas temperaturas registadas em
Janeiro deste ano.
A operação teve lugar esta Segunda-feira, dia 23 de Fevereiro, consistindo
no esvaziamento total do lago e posterior reenchimento.
A temperatura do ar entre as 0:00 e as 24:00 desse dia variou entre a mínima
de 7ºC e a máxima de 19ºC e entre 14ºC ( 6:00 ) e 15ºC ( 18:00 ) na água do
lago.
Nas fotografias anexas ( espero eu que as recebam através desta mensagem,
embora não fiquem disponíveis depois no arquivo da lista ), podem
testemunhar algumas das espécies que foram capturadas.
A lista total de sobreviventes registados no final da captura foi a seguinte
:

Carassius auratus ( introdução acidental no ano passado e erradicado
totalmente )
Cyprinus carpio ( Koy )
Cyprinodon alvarezi ( El Potosi )
Heterandria formosa
Oryzias latipes
Skiffia multipunctata
Xenotoca eiseni

Não foram encontrados exemplares das seguintes espécies introduzidos antes
do Inverno :

Ameca splendens
Aphanius mento ( Elbistan )
Fundulus cingulatus

Conclusões :

Foi uma grande surpresa não ter encontrado nem exemplares de Aphanius mento
nem de Fundulus cingulatus, pois são tidos como resistentes ao frio.
Os Fundulus cingulatus eram mesmo descendentes da linhagem criada pelo
Alberto Gil, os quais estão habituadíssimos ao Inverno em pequenos lagos
numa zona seguramente mais fria ( Torres Vedras ).
Teriam sido vítimas de predação por serem muito jovens ?
Nesse caso também teriam desaparecido todos os exemplares de Heterandria
formosa, os quais consituíram sem dúvida a mais inesperada boa notícia, já
que embora encontrados em reduzido número ( 23 exemplares ), nem faziam
parte da memória de espécies existentes no lago, como podem comprovar com a
lista publicada na mensagem enviada no dia 26 de Janeiro com o assunto “
Recorde de temperatura mínima no lago “.
Constituiu uma surpresa moderada ter encontrado apenas exemplares jovens e
crias de Xenotoca eiseni, pois todos os adultos ( especialmente os maiores )
morreram.
Sendo a Xenotoca eiseni uma espécie em teoria menos resistente às baixas
temperaturas do que a Ameca splendens, foi um choque ter perdido as escassas
centenas de exemplares desta última espécie, devido o frio deste Inverno,
depois de terem sobrevivido sem vítimas no ano passado, por exemplo.
Note-se que o nosso conhecido colega Martin R. Tversted, no artigo de sua
autoria - “ Low Temperatures and Cyprinodonts “ - defende que ambas as
espécies possuem uma resistência idêntica ( 10ºC ), contudo as Xenotoca
eiseni este ano sobreviveram durante 5 dias abaixo dos 8ºC, tendo mesmo
resistido ao recorde de temperatura mínima registada de 5,4 ºC, como se pode
ver mais abaixo.
Ainda usando como referência o artigo anteriormente mencionado do nosso
colega Dinamarquês, vejam por exemplo o caso da espécie Skiffia
multipunctata, referenciada no mesmo como podendo resistir até a um mínimo
de 7ºC.
O exemplar encontrado de novo, trata-se de uma fêmea já nascida nos meus
aquários, a qual, além de ter passado os 3 últimos Invernos no exterior,
desta vez superou todas as expectativas.
Outra curiosidade a destacar é que este peixinho escapou da captura dos
exemplares da sua espécie que mantinha quando, infelizmente, tive que me
desfazer dos aquários mantidos em Lisboa, indo perfazer em Abril de 2009 os
4 anos de idade.
Sem dúvida uma espécie a eleger para o povoamento deste lago no futuro.
Nesta operação foram retirados todos os exemplares de Carassius auratus a
fim de facilitar a reprodução das espécies depositadoras de ovos.
A título de curiosidade é de salientar a grande quantidade de camarões “ Red
Cherry “ ( Neocaridina denticulata sinensis ), incluindo fêmeas já com com
ovos maduros e muitas crias.
Para além de muitos invertebrados não identificados foi descoberto um girino
de Rã-verde ou Rã-comum ( Rana perezi ), sem dúvida remanescente da época
passada, dado o seu estádio de desenvolvimento e a inexistência de ovos ou
de outros girinos.
Outro batráquio presente ( apenas 2 exemplares ) foi a Rã Pintada Ibérica ou
Discoglosso Ibérico ( Discoglossus galganoi ).
Da flora introduzida no lago desapareceu pela primeira vez este ano o
chamado Musgo de Java ( Vesicularia dubyana ? ou Taxiphyllum barbieri ? ),
aqui referido desta forma por se tratar na realidade de outra espécie não
identificada; provavelmente o musgo proveniente da Formosa ( Taxiphyllum
alternans ), dado ser muito resistente ao frio letal para o Vesicularia
dubyana que se faz sentir no nosso Inverno.
Todas as restantes plantes resistiram perfeitamente às incrivelmente baixas
temperaturas, sendo a flora actual composta pelas seguintes espécies :

Elodea canadensis
Egeria densa
Lagarosiphon major
Myriophyllum spicatum
Potamogeton nudosus
Potamogeton pectinatus

Para terminar transcrevo de seguida algumas passagens importantes da minha
mensagem enviada sobre os rigores deste Inverno no passado dia 26 de Janeiro
:

Embora tenha cessado a série de aferições diárias; em dias excepcionalmente
frios ( ou quentes ) continuo a anotar as temperaturas para futura
referência.
Os dados apurados à superfície da água ( 15 cm de profundidade ) no lago,
neste início do ano foram os seguintes :

05-01-2009 > 12,3ºC
06-01-2009 > 10,1ºC
07-01-2009 > 9,6ºC
08-01-2009 > 9,2ºC
09-01-2009 > 7,2ºC ( dia mais frio -1,6ºC / 5,2ºC )
10-01-2009 > 7,1ºC
11-01-2009 > 6,4ºC
12-01-2009 > 5,2ºC
13-01-2009 > 6,7ºC
14-01-2009 > 8,3ºC
15-01-2009 > 10,2ºC

Se observarem bem os meus registos expressos na página
http://www.viviparos.com/Biologia/Lago.htm, nomeadamente na parte relativa
aos resultados anuais ( com todos os dados obtidos e gráficos descriminados
por ano ), estas temporadas de frio intenso não são muito frequentes.
Há dois anos em particular, nos quais destaco situações de frio intenso no
período compreendido entre 1985 e 2006.
Atentem em particular ao mês de Janeiro de 2005 e ao de 1992.
A novidade neste início de 2009 foi o facto de ter sido batido o recorde
anterior da mínima absoluta ( 5,5ºC ) e da súbita descida não ter
acompanhado de perto as temperaturas do ar, dado que o dia mais frio do
período estudado foi o dia 9 de Janeiro e não o dia 12 de Janeiro.
A explicação mais óbvia para esse contra censo é o facto de a amplitude
térmica ter sido muito curta, tendo-se mantido as temperaturas máximas do ar
muito baixas.
Seja como for, fica para a memória futura o mês de Novembro mais frio desde
1985 e um gélido início de Janeiro de 2009 com o recorde absoluto da mínima.

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