Resistencia selecionada ao frio

Miguel Figueiredo fig.miguel fIHm2Kt3cH55jIcIGQCp9PD9EuvNIsy_SG2ew_gp5WDnc0364ezoxeGeUesbiu-xwQTLABCIRAmSwL8xjw.yahoo.invalid
Quarta-Feira, 14 de Maio de 2008 - 15:25:39 WEST


Viva,

Uma geração, num viviparo, é um ano ou meons (um adulto em plena
capacidade reprodutiva tem um ano ou menos). Num ser humano uma
geração corresponde a 25 anos.

20 gerações de peixes equivalem a 20 anos reais ou, no caso de seres
humanos, a 500 anos.

A adaptação ao frio tem a ver com a forma como os processos
metabólicos decorrem e pode ser RAPIDA, desde que se baseie numa
piscina generica variada e numa capacidade já demonstrada pelo grupo
em causa.

Alguns grupos de peixes tropicais, como ciclideos africanos e os
peixes arco-iris têm maior capacidade de se adaptarem ao frio (não
faço ideia porquê).

Adaptar um Oreochromis mossambicus, proveniente de zonas onde a
temperatura nunca desce abaixo dos 25 C e frequentemente atinge os 35
C, a um clima temperado como o português é algo perfeitamente
possivel.

O mesmo já não acontece com ciclideos como escalares ou severums, para
não referir os discus.

Suspeito que o modelo africano de ciclideos, baseado no estilo
"Tilapia", tenha por base uma fisiologia muito versatil, permindo-lhes
facilmente colonizar biótipos, independemente detalhes como a
salinidade, o pH, a dureza ou mesmo a temperatura.

Já no caso dos peixes arco-iris... esses talvez provenham de
ancestrais adaptados a regiões frias.

Para certos peixes "de guerra", como ciclideos africanos ou viviparos,
acredito que a adaptação ao clima português possa ocorrer em apenas
uma ou duas gerações:

Selecionando um bom número de guppies de uma piscina genetica
alargada, digamos, uns 10000 peixes de um rio qualquer mexicano e
fazendo-os passar o inverno portugues, é bem possivel que 99% deles
morressem mas os 100 peixes sobreviventes teriam quase de certeza os
genes certos para resistir ao frio e iriam então repor a população
durante o verão.

No inverno seguinte a mortalidade seria já inferior a 50% e
continuaria a reduzir-se drasticamente.

Dado o historial de grandes glaciações na America do Norte e de
oscilações na corrente do Golfo do Mexico, é bem possivel que muitos
viviparos tenham sofrido estrangulamentos provocados pelo frio nos
ultimos cem mil anos. Estas especies irão manter ainda no genoma e em
alguns exemplares, capacidades de resistencia ao frio.

Esta hipotese precisa de ser demonstrada experimentalmente: Seria um
projecto académico interessante, relativamente barato e com uma
duraçao de dois anos...

Quando ha um factor de vida ou de morte, os seres vivos adaptam-se
surpreendentemente depressa... ou morrem. É o caso do Fundulus
heteroclitus: há populações que vivem em rios americanos incrivelmente
poluidos, onde mais nenhuma especie de peixe (nem sequer a gambusia) é
capaz de viver.

É também o caso da nossa especie. A Europa enfrentou um fenomeno
semelhante, não as glaciações, que simplemente nos aumentaram a
inteligencia, mas sim as três vagas da peste negra.

Na primeira vaga, praticamente todos aqueles que entraram em contacto
com a doença morreram. Foi uma razia. Cidades inteiras ficaram
desertas. A mortalidade dos infectados rondou talvez os 99%.

Na segunda vaga houve apenas 50% de mortes. Menos pessoas ficaram
infectadas e, dos que adoceciam, menos pessoas morriam.

Na terceira vaga, existiram apenas 1/5 de fatalidades.

Não houve quarta vaga.

Todos nós, descendentes de sobreviventes da peste negra, temos o
sistema imunitário preparado para lidar com o agente da peste negra
(ainda hoje não se sabe exactamente qual era, apenas a peste bubónica
apresenta alguns sintomas parecidos, embora com importantes
diferenças).

Curiosamente, a coisa foi de tal forma dramática que ainda hoje usamos
a expressão "quarentena": Aldeias ou navios onde se detectasse a peste
eram isolados. O isolamento só terminava quando, ao fim de 40 dias,
não houvessem novos casos. Sabemos hoje, pelos registos de óbitos,
mantidos pelas igrejas, e pelo cruzamento das mortes de familiares,
que o periodo de incubação era de, exactamente, 41 dias.


Miguel

           



Mais informações acerca da lista Cyprinodontiformes