[Cyprinodontiformes] E mais uma participação ainda...

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Sexta-Feira, 4 de Fevereiro de 2011 - 00:26:00 WET


Boas

Miguel, aprecio muito ler os teus “resumos”, para fóruns…  
Bem não resta duvidas nenhumas, as Poecilia salvatoris são mesmo promíscuas, vão com
qualquer um…
Quando disseste que o “cruzamento” entre a Limia e a P. salvatoris não dá em nada,
acho que isso tem espaço para muita (….). Passo a explicar, eu quando vejo uma fêmea
de P. salvatoris a aceitas/ provocar um macho de outra espécie, mesmo tão afastada
com são as Limias, já para não falar no “absurdo” que é uma P. salvatoris atrair
machos Godaideos, penso nas Poecilia formosa, será que as P. salvatoris também terão
capacidade de reproduzir por “partenogénese”? E claro que também me pergunto se não
terá sido derivado a este tipo de comportamento por parte das fêmeas que levou à
“extinção” dos machos de Poecilia formosa?
Fico ansiosamente à espera de mais um pequeno “resumo”, dos teus…  

Um abraço, até breve


_________________
José Bentes
APC"134"; APK "214"


Prezado amigo Bentes,

Quando afirmo que os contactos sexuais entre as espécies Limia nigrofasciata e
Poecilia salvatoris são improdutivos, pois estão suficientemente afastadas em termos
genéticos para não produzirem fertilização nem o desenvolvimento de embriões, é uma
circunstância comprovada e normal, mas de facto merece alguma reserva.
Isto porque, em casos muito raros, outras espécies igualmente distantes em termos
genéticos produziram híbridos. Um desses casos são os famosos híbridos entre Guppy e
Moloinésia ( provavelmente Poecilia reticulata x Poecilia sphenops, mas o mais certo
é um dos projenitores ter sido na realidade ele próprio um híbrido entre Molinésias
).
São casos extremamente insólitos e igualmente raros são os desdentes ( praticamente
todos machos ) que conseguem sobreviver o suficiente para atingirem a maturidade
sexual, perecendo muito jovens todos os que não morrem à nascença ou pouco depois,
sobretudo vítimas de doenças degenerativas e outras complicações graves de saúde.
« Desde que vi um porco a andar de bicicleta e a tocar piano » não posso afirmar «
desta águia nunca beberei », ou seja, há sempre uma hipótese remota de acontecerem "
milagres " pois são espécies distintas mas ainda aparentadas.
Aqui coloca-se uma outra questão prática, a relacionada fecundação.
Mesmo tendo em consideração que o gonopódio do macho de uma das espécies ( e o tipo
de movimento de cópula ) permita a introdução de espermatóforos no interior do corpo
da fêmea... resta saber em que circunstâncias as células sexuais masculinas e
femininas ( gâmetas ) são compatíveis ao ponto de se poderem fundir no momento da
fertilização, transformando-se numa célula diplóide, que passará pelas mitoses comuns
até formar um novo indivíduo.
Faço aqui apenas um pequeno aparte para explicar que, naqueles casos em que se dá uma
fecundação com sucesso entre duas espécies distintas, a tendência é para as células
masculinas da outra espécie perderem a luta pela fertilização com as da própria
espécie.
Por outras palavras, quem se dedica a produzir cruzamentos, como os laboratórios que
investem nessa prática há quase um século para fazerem face à demanda de Xiphophorus
híbridos, utilizados na pesquisa do cancro ( nomeadamente melanomas )... basta a
fêmea ter um único contacto com um macho da sua própria espécie, para vingarem as
células sexuais masculinas desse último sobre as da outra espécie.
Neste aspecto a natureza é implacável no dito « o seu a seu dono ».
Não há casos documentados ( que eu conheça ) sobre alguma tendência no sentido da
partenogénese por parte de fêmeas da espécie Poecilia salvatoris, mas o comportamento
das mesmas e a atracção que exercem sobre outros machos dá para imaginar que deve ter
sido com base num comportamento idêntico por parte das fêmeas de Poecilia mexicana
que começou a linhagem de clones Poecilia formosa.
Há algo em comum entre as duas... o poder de atraírem machos de outras espécies.
Quem te poderá responder a esta dúvida, caso não tenham sido encontrados na natureza
exemplares que nos comprovem tal tendência a médio / longo prazo por parte de
indivíduos da espécie Poecilia salvatoris, será com certeza que tenha obtido híbridos
entre esta espécie e outras Molinésias aparentadas.
Não duvido que seja muito fácil obter híbridos entre Poecilia salvatoris e bastantes
outras próximas, embora esta espécie não esteja sequer ligada ao complexo Poecilia
sphenops ( Poecilia butleri + Poecilia chica + Poecilia mayalandi + Poecilia sphenops
e todas as que estão para serem descobertas ao abrigo desta última designação
científica ) nem ao complexo Poecilia mexicana ( Poecilia catemaconis + Poecilia
formosa + Poecilia gilli + Poecilia latipuncatata + Poecilia mexicana limantouri +
Poecilia orri + Poecilia suphuraria + Poecilia teresae ). Por favor nunca mantenham
indivíduos das espécies mencionadas juntos no mesmo aquário.
Ainda quanto à espécie Poecilia salvatoris, nesta ligação -
http://france.vivipare.free.fr/salvatoris3.pdf - os nosso colegas franceses (
incluindo o meu amigo pessoal Alain Grioche ) colocam precisamente a pertinente
questão « Uma área de distribuição muito ampla... ou várias espécies ? ».
Pelas fotos podemos realmente constatar a quantidade de formas na sua extensa
distribuição geográfica.
Este facto complica ainda mais a minha resposta.
A propósito, estou convencido que as nossas P. salvatoris devem provir da bacia
hidrográfica do Rio Motagua - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Motagua.
Aqui te deixo igualmente um artigo interessante sobre machos triplóides de Poecilia
formosa onde entra alguma contribuição genética de Poecilia salvatoris -
http://www.ou.edu/schlupp/pdf/107Lamatschetal10.pdf.
Destaco as seguintes passagens :

In a microchromosome-carrying laboratory stock of the normally all-female Amazon
molly Poecilia formosa triploid individuals were obtained, all of which spontaneously
developed into males. A comparison of morphology of the external and internal
insemination apparatus and the gonads, sperm ploidy and behaviour, to laboratory-bred
F1 hybrids revealed that the triploid P. Formosa males, though producing mostly
aneuploid sperm, are partly functional males that differ mainly in sperm maturation
and sexual motivation from gonochoristic P. formosa males.

Primary and secondary sexual characters, as well as sexual behaviour in these unusual
triploid P. formosa males were analysed and compared with artificially bred F1
hybrids between Poecilia latipinna ( Le Sueur ) females and Poecilia Mexicana
Steindachner males for the following reasons:

1) P. formosa is a hybrid species ( Hubbs & Hubbs, 1932; Turner et al., 1980; Avise
et al., 1991; Schartl et al., 1995a ), derived from the natural hybridization between
a P. mexicana female and a P. latipinna male ( P. formosa = P. mexicana × P.
latipinna );

2) the triploid P. formosa males show the following genetic composition: [ ( P.
mexicana × P. latipinna ) + microchromosome ] × Poecilia salvatoris Regan or P.
mexicana limantouri ( see Table I );

3) F1 hybrids originated by crossing the two parental species P. latipinna and P.
mexicana. The resulting offspring are bisexual diploid hybrids ( males and females;
Ptacek, 2002 ). Some of these hybrids, however, show irregularities in meiosis which
has been identified as automixis ( Lampert et al., 2007 ).
Therefore, F1 hybrid males are genetically closer to the triploid P. formosa males
than either of the parental species. Hence, the prediction was that triploid P.
Formosa males would not strongly differ in sexual characters from sexual ( hybrid )
males.

Repito... em teoria é bem provável que um comportamento idêntico ao das nossas fêmeas
Poecilia salvatoris por parte de fêmeas Poecilia mexicana possa ter contribuído para
o aparecimento de Poecilia formosa, um híbrido natural entre Poecilia mexicana (
fêmea ) × Poecilia latipinna ( macho ). No entanto não tenho conhecimento que no
passado os machos de Poecilia formosa tenham sido vulgares, ou seja, que a espécie
tenha começado por possuir um rácio normal entre os dois sexos e que depois a
evolução tenha resultado no desaparecimento dos mesmos resumindo-se a futura espécie
só a fêmeas clones.
Aparentemente os machos triplóides de Poecilia formosa são de facto raríssimos.
Não sei se respondi à tua pergunta, mas desta vez tentei ser mais breve, rsrsrsrs ;)

  

Um abraço

Miguel Andrade 


P.S. um abraço Fernando !
Obrigado pelas palavras de incentivo e felicito-te pelo avatar :D




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