Associação Portuguesa de Vivíparos

Miguel Andrade Cyprinodon 1_iXgxVBUA-N8gpf-CadepdHWFS1gW6qNe492dtufNN2yTBKYD0ga92SRyjhIkYJ6VqG4P07pNWQ5_890A.yahoo.invalid
Sexta-Feira, 18 de Julho de 2008 - 23:34:21 WEST


Estimados amigos,

Transcrevo em seguida um tópico que lancei hoje no fórum de aquariofilia
onde este assunto está a ser debatido com mais intensidade.
Partilho convosco aquilo que é uma opinião pessoal e apenas isso.

Um abraço

Miguel 





A propósito do gentil contacto de que fui alvo para uma hipotética
colaboração no processo da criação de uma Associação Portuguesa de
Vivíparos, troquei na Sexta-feira passada via MSN algumas ideias com colegas
interessados neste projecto.
Sou totalmente favorável e entusiasta de um tal projecto, pelo que passei a
prestar mais atenção ao assunto, tendo inclusivamente hoje regressado ao
fórum de aquariofilia ( http://www.aquariofilia.net/forum/ ), após uma
ausência de mais de uma ano.
Reforçando o que tenho defendido ao longo dos últimos anos, e tendo em
consideração o que hoje li, a discussão que está em curso enquadra-se
perfeitamente naquilo que não deveria estar a acontecer.
Não se compreende como é que com tantas contribuições de alto valor já
existentes no próprio fórum e com um historial de 4 tentativas anteriores
falhadas ( e não 3 ), a nossa memória colectiva é tão curta e se insistem
nos mesmo erros do costume.
A minha opinião sobre associativismo relacionado com Cyprinodontiformes
vivíparos e ovovivíparos está expressa no meu sítio, para quem a quiser ler,
em http://www.viviparos.com/clube.htm.
O problema é que uma associação dos chamados peixes vivíparos não vive só de
Cyprinodontiformes, embora os aficionados por raias de água doce com espinho
( família Potamotrygonidae ), por percas de água doce do extremo oriente (
família Embiotocidae ) ou pelos peixes-agulha de água doce Asiáticos (
família Hemirhamphidae ), ainda sejam mais raros no nosso país do que a meia
dúzia de pessoas que mantêm estirpes selvagens ou populações com origem
conhecida dos nossos amigos Poeciliídeos e Goodeiídeos.
Reparem na quantidade de opiniões expressas por parte de pessoas com muitos
anos de associativismo.
Pelos vistos ninguém ligou importância até agora ao que o Miguel Figueiredo
escreveu recentemente sobre o projecto APV.
Alguém se deu ao trabalho de pesquisar sobre o assunto no próprio fórum ?
Sinto pois a necessidade de repetir para quem me queira ouvir - O MODELO
TRADICIONAL DE ASSOCIAÇÃO NÃO VAI FUNCIONAR COM OS VIVÍPAROS.
Parem de uma vez por todas para pensar !
Não queria chegar ao ponto de vos dizer que tenho há vários mandatos um
cargo nos órgãos sociais de uma associação ligada a outro passatempo. Estou
há muitos anos activamente empenhado no movimento associativo nacional e sou
sócio de várias associações. Ajudei a criar de raiz um projecto no modelo
tradicional e conheço profundamente a legislação aplicável ao associativismo
no nosso país pois tenho várias obras jurídicas sobre o assunto.
Em termos de aquariofilia, comecei por ser associado da Associação
Portuguesa de Aquariofilia, há muito tempo extinta e uma das pioneiras (
senão mesmo a primeira associação nacional dedicada à aquariofilia ).
Mas não é pela minha experiência que vos quero convencer a mudarem de
estratégia. Acho no entanto que se isto pesar no que vão ler a seguir, pelo
menos sem falsas modéstias acredito que a minha experiência pode ajudar.
Por tudo o que o já aqui foi escrito, incluindo a já referida opinião do
Miguel Figueiredo, ( com a qual até nem concordo na plenitude ), deixo-vos
os seguintes pontos para reflexão :

a) À vista da dificuldade de organização no modelo tradicional, porque não
se inicia um modelo electrónico, à imagem do que vai sendo cada vez mais
corrente e frequente ?
As vantagens são inúmeras, mas a principal, a meu ver, é o facto dos
defensores do modelo tradicional poderem oficializá-lo mais facilmente
depois, ao fim de algum tempo, com a diferença de já terem nessa altura tudo
organizado, as pessoas mobilizadas e, sem dúvida, um capital humano e de
realização suficientemente emancipado.

b) É por demasiado evidente que em Portugal não existe consistência para uma
associação de Guppies a sério e muito menos para uma de vivíparos.
Porquê ?
Porque nem num caso nem no outro, o número de pessoas que se dedicam quer às
variedades exóticas de Guppy quer às espécies ditas " selvagens "
sustentaria uma organização tradicional.
A maioria dos intervenientes neste processo da APV, obedece ainda aos
critérios do aquariofilista comum, isto é, têm apenas alguns exemplares das
variedades exóticas de espécies existentes no mercado e muitas vezes até
misturadas com outras ovulíparas em aquário dito " comunitário ". Ao
contrário dos aficionados por Killies, Ciclídeos ou Anabantídeos, há poucos
que sintam o apelo da especialização.
Aposto que a maioria de vós até considera as espécies originais ( vulgo
selvagens ) " transparentes " ou feias demais para se darem ao trabalho de
as conhecerem melhor e descobrirem biologias interessantíssimas.
Os chamados vivíparos são ( erradamente ) considerados « peixes de
principiante » e negligenciados por essa razão para um plano inferior e
ordinário da aquáriofilia.
A única excepção são os mais convictos e empenhados criadores de Guppies
exóticos ou os raríssimos possuidores de espécies que nem aparecem no
mercado. Infelizmente, em ambos os casos, aqui em Portugal, não há quase
nenhuns com condições ( dignas desse nome ) ou até de serem comparados com
os muitos colegas que levam o assunto mais a sério em países como o Brasil (
sobretudo no caso dos Guppies ), os Estados Unidos, o Japão ou a Europa
Central.
Conheço no entanto pelo menos um criador nacional de Raias de água doce com
espinho, alguns de Peixes-agulha de água doce Asiáticos mas nenhum de Percas
de água doce do extremo oriente ou de qualquer espécie de Anableptídeos.

c) Quais serão os objectivos previstos para a APV ?
Já pensaram nisso ?
Se querem saber a minha opinião pessoal, os mais previsíveis já existem,
mesmo sem estar formalizada nenhuma associação.
Faço parte de um grupo de colegas que trocam informações, espécies raras e
cumprem entre si quase todos os objectivos das associações existentes
dedicadas a outras espécies.
Uma das excepções mais óbvias é que não há uma publicação nem um evento
anual ( exposição, congresso e leilão ).
Eu tenho, por exemplo, a honra de conhecer pessoalmente a maior criadora de
Endler ( Poecilia wingei ) do país, a qual tem inúmeras variedades genuínas
( e confirmadas por microscópio ), uma colecção ao nível das mais
conceituadas de Europa.
Precisou ela até hoje de uma organização nacional de vivíparos ?
Foi nas lojas que ela adquiriu as suas matrizes ?
Obviamente que não em ambos os casos.
A APV tem que cativar um grupo extremamente variado de pessoas e harmonizar
um tal volume de interesses diferentes, que nenhuma outra associação tem que
enfrentar.
O desafio começa logo nos objectivos.
Mais uma vez... se seguirem o modelo tradicional...

d) A organização em si.
Como se pode ver por esta longa e improdutiva discussão sobre o assunto no
fórum, está-se a cair em erros recorrentes e um deles é o da organização.
O modelo tradicional, baseado em órgãos colectivos, assenta no pressuposto
legal de pelo menos 9 elementos.
Conhecendo eu profundamente o movimento associativo nacional, sei que
caminhamos cada vez mais para uma tendência absurda em que alguns membros
desses órgãos sociais são as pessoas que trabalham, que abdicam do seu tempo
livre, familiar e social em prol da organização... enquanto a restante massa
associativa espera apenas por colher os benefícios e ainda protesta se eles
chegam tarde.
Infelizmente é cada vez maior o número de sócios do tipo parasita ou
apêndice, ou seja, o que paga quotas mas nem sequer se dá ao trabalho de
usufruir das vantagens de ser associado e o pior deles todos... o que nem
sequer paga quotas.
Depois há as tradicionais lutas pelo poder, pelo prestígio e outras coisas
muito Portuguesas, as quais estão infelizmente bem infiltradas na nossa
mentalidade e maneira de ser.
Nada melhor do que o modelo tradicional para estes malefícios terem um
fértil terreno de cultura, particularmente num país rico no " bota abaixo ".

Se as pessoas trabalharem de acordo com os modelos mais avançados de
organização associativa, aproveitando-se dos meios de comunicação actuais,
os quais facilitam a redução das distâncias e se não esquecerem o modelo
democrático comum ao associativismo tradicional... penso que o projecto APV
se poderia tornar sustentável pelo menos por algum tempo, apesar do que
escrevi na alínea b)
Pensem nisto e decidam o que decidirem eu estarei pronto a dar algum
contributo de acordo com o que a minha disponibilidade me permitir... mesmo
que insistam no modelo tradicional.
A terminar duas considerações finais.
Todas estas ideias podem ser desenvolvidas com mais profundidade. Não quis
alongar ainda mais o meu depoimento de hoje, mas nada disto terá que ser
inventado do nada a partir do zero.
Em segundo lugar, peço-vos que tenham em consideração que parto hoje para
férias e que não levo computador comigo. É muito natural que não possa
continuar a dar o meu contributo ou comentar as vossas respostas, pelo menos
durante a próxima semana.


           



Mais informações acerca da lista Cyprinodontiformes