[Cyprinodontiformes] Participação no fórum - Endler de Cumaná

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Sábado, 26 de Março de 2011 - 21:56:48 WET


Caros colegas,

Esta foi apenas a minha mais recente mensagem neste tópico.
Como o assunto já aqui foi debatido, todos vós conhecem a minha opinião, contudo
resolvi partilhá-la mais uma vez.



Olá Bartolomeu,
Olá Rodolfo,

Já corrigi todas as hiperligações. Podem agora consultar todas as fotos sem problemas
( espero eu ). Caso alguma foto não apareça avisem-me s.f.f.
Para o Bartolomeu e outros colegas interessados :

A grande polémica sobre o que é o Endler de Cumaná ainda não acabou.
Como se costuma dizer em bom Português « a procissão ainda vai no adro ».
A divisão em classes basicamente é a seguinte :

. Qualquer peixe híbrido com Endler é considerados como pertencentes à " Classe K ",
de acordo com o sistema de classificação da ERU " Endler are Us ".
A distribuição e o número de marcas ou cores espalhados pelo corpo pode variar de
indivíduo para indivíduo, funcionando quase como uma impressão digital, embora se
tenham apurado algumas linhagens bastante estáveis.

. Qualquer peixe cuja origem seja desconhecida mas que se enquadre nas
características fisionómicas, dimensões e coloração dos animais originais capturados
na natureza é considerado como pertencente à " Classe P ", de acordo com o sistema de
classificação da ERU " Endler are Us ".

. Qualquer Endler ( e respectiva descendência ) que se possa provar ser original de
águas nativas é considerado como pertencente à " Classe N ", de acordo com o sistema
de classificação da ERU " Endler are Us ". 

O sistema de classificação da ERU não é uma certificação científica. Trata-se de uma
forma corrente e aceite, pela maioria das pessoas, como válido para se evitar a
especulação que para aí infelizmente vai.
Há de facto algumas organizações dedicadas ao Endler, que certificam os peixes dos
respectivos criadores, de acordo com este código, uma vez que o mercado está repleto
de híbridos que são vendidos como isto e como aquilo da maior pureza, atingindo
preços por vezes duas vezes mais caros do que o Guppy mais valorizado.
Raras são as lojas em Portugal que alguma vez tiveram a possibilidade de vender ao
público verdadeiros Endler de Cumaná sem misturas com genes de Guppy. A culpa não é
dos empresários nacionais ( excepto quando há dolo intencional ), mas dos respectivos
fornecedores.
No Brasil, que eu tenha conhecimento, não há Endler " classe N "... mas há muito
híbridos.
Isto porque os peixes puros são apenas comercializados nomeadamente por uma
piscicultura ornamental da Florida e trocados ou vendidos entre aquariófilos na
Europa.
Os primeiros Endler de Cumaná que surgiram no mercado, descendem dos capturados pelo
Prof. John Endler misturados ( em maior ou menor percentagem ) com Guppy.
Os primeiros Endler de Cumaná que apresentavam características da " classe N " em
Portugal, devem ter sido os da Maria João.
Hoje é provável que muitos colegas os mantenham, nomeadamente graças à disseminação
permitida pela Maria João e mais tarde pelo José Bentes e, ocasionalmente, por duas
lojas da região da Grande Lisboa... entre outros.
A forma mais segura de se obterem peixes de " classe N ", sem serem os das linhagens
que já existem em Portugal, será sem dúvida através de importação dos Estrados Unidos
ou via uma das Associações Europeias.
Todos os que forem vistos em lojas nacionais, são muito provavelmente híbridos
importados da Alemanha, da República Checa ou de outras origens, como Singapura.
E há uma forma de distinguir seguramente os híbridos dos " puros " ?
Há uns quantos " truques " que vão desde o comportamento, os partos faseados ( como
se fosse um caso de superfetação )... até algumas particularidades morfológicas do
Endler.
Primeiro há que ter em consideração que o Endler de Cumaná não será exactamente o
Endler de Campoma, o qual veio a ser identificado como Poecilia ( Acanthophacelus )
wingei, em 2005, no seguinte artigo : Poeser, FN, M Kempkes and IJH Isbrücker, 2005.
Description of Poecilia ( Acanthophacelus ) wingei n. sp. from the Paría Peninsula,
Venezuela, including notes on Acanthophacelus Eigenmann, 1907 and other subgenera of
Poecilia Bloch and Schneider, 1808 ( Teleostei, Cyprinodontiformes, Poeciliidae ).
Contributions to Zoology 74: 97–115.
Essa é uma das razões pela qual que devemos manter as linhagens do Endler de Cumaná
separadas entre si.
Infelizmente o habitat natural está muito degradado e o futuro dos peixes na natureza
está condenado a médio/breve prazo pela poluição e pela introdução de espécies
exóticas, pelo que ao manter as linhagens do Endler de Cumaná separadas estamos a
fazer um trabalho de preservação.
Mas afinal que peixe estaremos nesse caso a proteger/ perpetuar ?... uma espécie ?...
uma subespécie ?... ou apenas uma população do vulgar Guppy ?
Muita água há-de correr sob as pontes ( e muita tinta também ), até todos chegarem à
mesma conclusão.
Há um grupo de biólogos Norte-americanos que não aceita o artigo científico de Poeser
como válido.
Igualmente entre nós aquariófilos, há um número de colegas ( nacionais e estrangeiros
) que segue essa mesma orientação, ou seja, consideram o Endler ( lato senso ) como
uma população isolada de Guppy ou, nos limites, como uma subespécie.
Um dos artigos que veio a público apoiar essa teoria pela primeira vez foi o seguinte
- Alexander HJ, Breden F., 2004. Sexual isolation and extreme morphological
divergence in the Cumaná guppy: a possible case of incipiente speciation. J. Evol.
Biol. 17( 6 ): 1238-1254.
Na minha modesta opinião ( para quem a mesma seja útil ), estamos perante uma espécie
distinta ou, quando muito, uma subespécie.
Assim o penso baseado nas minhas observações pessoais ( incluindo o malfadado
microscópio ), mas sobretudo na definição de espécie que adopto.
Como sabem este é outro " ponto quente " de polémica e vai para aí uma intensa
discussão, no meio científico, sobre o que é na realidade uma espécie.
Então porque razão o " caso Endler " não está resolvido ainda ?
Não está resolvido ainda e está longe de o estar ou de ser pacífico... mesmo ao nível
científico.
Para além da conturbada história que remonta aos anos da década de 1970, conforme
podem ler no meu sítio na Internet ( não só na ficha do peixe como nos artigos ), há
uma " guerra " comercial em curso e autênticos grupos de pressão que estendem essa
contenda ao nível da ciência.
Tudo tem origem no facto de alguns dos Endler de Cumaná capturados na Laguna de Los
Patos serem, já por si, híbridos naturais com a população local de Guppy.
Esta é outra razão para mantermos as linhagens separadas, pois as evidências
morfológicas observadas em algumas delas anunciam realmente a presença de genes de
Guppy.
Esses híbridos naturais que foram introduzidos no mercado como Endler de Cumaná "
Classe N ", dado que foram capturados na natureza no mesmo local do que os outros,
não só " contaminaram " algumas das linhagens ( nomeadamente através das fêmeas ),
como estão a condicionar as discussões científicas.
E como é que o aquariófilo comum pode lutar por obter uma linhagem isenta dos ditos "
genes de Guppy " ?
Bom, em primeiro lugar, queria deixar bem claro que ao denominar como " genes de
Guppy " aquilo que nas análises localiza o Endler como subespécie de Guppy ou, pelo
menos, " um caso de subespecificação incipiente ", estou apenas a referir-me a casos
de hibridação que ocorreram naturalmente entre formas puras do Endler ( seja lá o
como o quiserem considerar ) e a população local de Poecilia reticulata também ela "
pura ".  
Obviamente que isto são conceitos muito difíceis de aceitar ( e compreender ) por
parte de quem insiste na ideia de que é tudo a mesma coisa, isto é, um Guppy.
O que é facto é que até este momento ninguém ( nem o Paulo Alves ) me apresentou
provas concretas, nomeadamente ao nível morfológico, para demonstrar o contrário
daquilo que tenho vindo a defender em relação a este peixe.
Não há ninguém que, não se baseando no que os outros escreveram, me tenha demonstrado
que as diferenças morfológicas fotografadas e expostas por mim ( tanto ao nível do
gonopódio como outras ), ocorrem com frequência e são assim tão comuns, dado o
célebre polimorfismo do Guppy.   
Esta controvérsia é tão infindável que não vai lá doutra maneira razoável a não ser
com fotos e com provas científicas irrefutáveis.
Para mim, o que é preciso descriminar bem é o local de captura das matrizes e o
aspecto morfológico das mesmas.
Quem já não leu e viu imagens sobre do Guppy ( Endler ' ) " Puerta de la Cruz ",
capturado pelo Dr. Roman Slaboch ?
Quem se lembra do famoso " Guppy Caracas " ?
Sem estar a assumir uma posição fanática por uma das grandes correntes de pensamento
neste dilema, não me vou alongar muito mais, guardando-me para conversar sobre as
questões que forem sendo acrescentadas.

Um abraço

Miguel Andrade 





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