ARLA/CLUSTER: ONDA CURTA DA RDP: CARTA ABERTA AO MINISTRO MIGUEL
RELVAS
João Costa > CT1FBF
ct1fbf gmail.com
Domingo, 9 de Outubro de 2011 - 07:28:44 WEST
"CARTA ABERTA AO MINISTRO MIGUEL RELVAS:
Ex.mo Sr. Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares,
Dr. Miguel Relvas.
Hoje (2011.10.08) decidi escrever-lhe, depois de o ouvir no programa
“Em Nome do Ouvinte”, do Provedor das rádios da RTP (que recordou a
audição pela Comissão Parlamentar para a Ética, a Cidadania e a
Comunicação). De tudo o que lhe vou dizer, vou, em separado,
enviar-lhe as respetivas provas. (Com exceção para o “apagão” de um
emissor para África, porque não foi encontrado o registo dessa avaria
e muito menos não foram registados os protestos pela falta de captação
do emissor).
Sr. Ministro, ao contrário do que o informaram (e eu soube disto
através de funcionários dos serviços técnicos e do próprio CEOC), foi
um emissor para África que esteve, em 2010, avariado pouco mais de um
mês (e não todos os emissores de Onda Curta durante 3 meses). E também
ao contrário do que o informaram, houve algumas queixas diretamente
para a RDP Internacional e seus profissionais, para o próprio CEOC e
para o serviço de atendimento telefónico da RTP. E boa parte desse
auditório, como se sabe, pura e simplemente não teve meio para
protestar (nos locais isolados, não cobertos por qualquer outra
tecnologia, muitos ouvintes nem de telefone dispõem e para enviarem
uma carta pelo correio têm de percorrer grandes distâncias).
Tal como eu, ouvinte em África da Onda Curta, o Sr. Ministro sabe bem
que essa situação de avaria de um ou outro emissor acontecia com
alguma regularidade. E mesmo com o emissor no ar, podia dar-se a
situação de pelas muito alteradas condições de propagação do momento
não ser possível captá-lo.
Iniciei-me como profissional na rádio em 1970 em Luanda e percorri boa
parte de Angola, pelo que sei muito bem do que falo. Além disso eu
recorria aos serviços de português de variadas rádios internacionais
para redigir notícias a emitir pela Rádio Ecclesia, Emissora Católica
de Angola.
Sr. Ministro, é um erro e, atrevo-me a dizê-lo, um crime de
lesa-pátria a suspensão da Onda Curta, pois privou mais de 5 milhões
de portugueses e lusodescendentes de acederem à rádio pública. E além
desses 5 milhões, não se cuidou de manter o laço internacional de
difusão da língua (para todo o mundo lusófono), que é uma questão de
estratégia, soberania e aposta num dos nossos maiores ativos
culturais.
Este aspeto tem sido sobejamente apontado por algumas das quase mil e
400 pessoas que já assinaram a petição pública online “Manter a onda
curta RTP Interacional RDP”. Escrevem que ao suspenderem a Onda Curta,
qual cordão umbilical, lhes "roubaram" o contacto com a pátria, com a
sua cultura, enfim que lhes magoaram tanto o coração, que é o mesmo
como se sentirem amputados, no seu corpo e na sua alma.
O Sr. Ministro falou em poupar: completamente de acordo. Como deve ter
lido dos comunicados da Comissão de Trabalhadores da RTP, há tantas
áreas em que tal pode ser feito. Não numa área tão estratégica para
Portugal, como é a emissão da RDP em Onda Curta.
Deve ter visto um estudo-auscultação da Rádio Espanha ao seu auditório
no exterior do país. Concluíu a rádio espanhola que dois terços a
escutavam por Onda Curta. Isto dá a noção clara da importância dos 6
emissores de que Portugal dispõe no CEOC. Um equipamento moderno, que
funciona com programação automática e que é controlado
informaticamente.
E em relação a este equipamento moderno de que o país dispõe, os dois
deputados do PCP que o visitaram em Pegões disseram aos jornalistas
terem ficado muito satisfeitos com o que viram e com as explicações
que lhes foram dadas pelo Diretor Técnico e pelo responsável do CEOC,
engºs Carlos Gomes e Luís Abrantes respetivamente.
Termino a falar-lhe dos protestos: são milhentos, provenientes de
todas as regiões do globo, por e-mail, carta tradicional, telefonemas,
via Facebook, sites e blogs e através da atrás referida petição
pública online. E friso, como o disse aquando de avaria de um dos
emissores direcionados a África, boa parte não protesta pura e
simplesmente por não ter meio de o fazer (nos locais isolados, não
cobertos por qualquer outra tecnologia, muitos ouvintes nem de
telefone dispõem e para enviarem uma carta pelo correio têm de
percorrer grandes distâncias).
Pela mobilidade que oferece e acesso fácil (através de simples
recetor), a Onda Curta é um meio poderoso e eficaz de transmissão,
embora a qualidade não seja sempre a melhor (depende da potência do
emissor e da respectiva antena). Mas, a contrariar esta visão, basta
ouvir as emissões da Rádio Vaticano (como eu ouvia em Angola) para
concluir da muito boa receção da Onda Curta dessa rádio internacional.
Para constatar que nem sempre a qualidade da Onda Curta da RDP deixa a
desejar, basta ver e ouvir através do Youtube vários vídeos aí
colocados por ouvintes que a escutaram em variadas paragens do mundo.
Por outro lado, a qualidade das emissões da Onda Curta melhorou muito
pela introdução da tecnologia DRM (Digital Radio Mondiale),
experimentada pela RTP em colaboração com a Deutsch Welle. E já agora,
Sr. Ministro, não compare a importância do Serviço Internacional de
Rádio de Portugal com o da Alemanha. A Alemanha é um potentado
económico. Portugal, se é um potentado, é-o pela sua presença no mundo
e pela cultura lusófona a que deu origem. Que diferença abissal!
Quanto aos meios alternativos – satélite (banda C), internet e redes
de cabo – é tudo muito instável. Para a receção direta do satélite
através de equipamento (dispendioso) é de lembrar que em algumas zonas
a colocação de parabólica é proibida. E quanto à internet muitas zonas
do globo nem têm sinal e, em relação às redes de cabo, é necessária a
instalação da chamada banda larga para que o sinal seja transportado,
o que em imensas regiões não existe.Permita-me, Sr. Ministro, que,
como o disse no início desta carta, lhe envie, em separado, provas de
tudo quanto acabo de lhe referir. (Com exceção para o tal “apagão” de
um emissor para África, porque não foi encontrado o registo dessa
avaria e muito menos não foram registados os protestos pela falta de
captação do emissor).
Com os meus cumprimentos,
Samuel Ornelas, jornalista da RDP."
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