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Poecilia reticulata  Peters, 1860


Poecilia reticulata
Peters, 1859; ( sinónimo / synonym )
Girardinus guppii Gìnther, 1866; ( sinónimo / synonym )
Acanthophacelus reticulatus Eigenmann, 1907; ( válido como / valid as )

Guppy [ Português ]

Guppy [ Español ]

Guppy [ English ]


Outros nomes populares ( Brasil ) : Bandeirinha
[ Português ], Barrigatintim [ Português ], Barrigudinho [ Português ], Barrigudinho-Mexicano [ Português ], Bobó [ Português ], Cospe-Cospe [ Português ], Frogoió [ Português ], Gargarú [ Português ], Gargaú [ Português ], Guarú [ Português ], Guarú-Guarú [ Português ], Lebiste [ Português ], Mexicano [ Português ], Sarapintado [ Português ], Peixe-Arco-Íris [ Português ]

Distribuição geográfica : ( ver texto )

Antigua e Barbuda, Antilhas Holandesas, Barbados (?), Brasil, Guiana, Guiana Francesa, Ilhas Virgens, Suriname, Trindade e Tobago, Venezuela.


Introduções : 
Albânia, África do Sul, Argélia, Austrália, Ceilão, Colômbia, Congo Brazaville, Costa Rica, Cuba, Eslováquia, Estados Unidos da América, Filipinas, Formosa, Guam, Havai, Holanda, Hong Kong, Hungria, Indonésia, Ilhas Cook, Ilhas Fiji, Jamaica, Japão, Laos, Madagáscar, Malásia, Malawi, Marrocos, Martinica, Maurícias, México, Moçambique, Namíbia, Nova Caledónia, Nova Zelândia, Nigéria, Palau, Papua Nova Guiné, Paraguai, Peru, Porto Rico, Polinésia Francesa, Quénia, Reino Unido, República Checa, Reunião, Rússia, Samoa, Singapura, Taiti, Timor, Uganda, Vanuatu, Vietname, Zâmbia.
 

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I - Morfologia sumária ( caracterizações merísticas )
 


Comprimento total absoluto

Macho adulto : 15.5 a 34.7 mm (*)

Fêmea adulta : 28.1 a 58.9 mm (*)


Raios da barbatana dorsal : / 6 ( 7 )

Raios da barbatana caudal : / 12 ( 14 )

Escamas na linha lateral : 26 ( 27 )

Relação cabeça / comprimento total ( macho ) : 0,20 / 0,21

Relação cabeça / comprimento total ( fêmea ) : 0,19


* A maioria das populações selvagens são significativamente menores do que as estirpes excêntricas criadas por selecção antrópica.

Vulgarmente os machos adultos encontrados na natureza variam entre 15.5 mm e 29.9 mm, enquanto que as fêmeas variam entre 28.1 mm e 49.9 mm.

Ainda assim, certas linhagens domésticas podem mesmo ultrapassar os valores supra mencionados nesta ficha para o comprimento total absoluto.

 
Estão disponíveis para consulta mais imagens sobre esta espécie na galeria de imagens.


II - Habitat e distribuição geográfica


Apesar de se encontrar actualmente aclimatado um pouco por todo o planeta, ( nomeadamente em regiões tropicais onde os valores de temperatura da água variam entre 18ºC e 32ºC ), as origens do Guppy eram muito mais limitadas, sobretudo antes de ter sido introduzido como agente na luta biológica contra mosquitos vectores da malária em alguns países.

Antes da disseminação provocada pelo homem devido à sua reputada tendência larvófoga, a espécie Poecilia reticulata estava confinada a uma extensa área compreendida entre a região da Lagoa Maracaibo na Venezuela e a bacia hidrográfica do Rio Solimões, no alto Amazonas, incluindo as regiões litorais adjacentes como as Guianas, o Suriname e o território confinante do Brasil, nomeadamente os Estados de Roraima, Pará e Amapá.

As ilhas das Caraíbas mais próximas da América do Sul também são consideradas como fazendo parte da distribuição original, nomeadamente as pequenas ilhas a Norte da Venezuela, como Aruba, Curacao, Bonaire, Margarita, La tortuga ( ? ), La Branquilla ( ? ), Los Testigos ( ? ), Coche ( ? ), Cubagua ( ? ) e as do Mar das Caraíbas como as ilhas de Trindade e Tobago, Granada São Vicente e Santa Lúcia. A Ilha de Barbados, referida por muitas fontes como ainda pertencendo à distribuição original do Guppy é contestada nalguns meios científicos.

Em resultado da sua extensa e vasta disseminação causada pelo homem, há testemunhos de impactos ecológicos adversos da sua presença sobre a fauna local num ou noutro país e sobre a sua real utilidade como agente natural exterminador de larvas de mosquito.

Como se poderá ler mais adiante, uma das localizações mais representativas da espécie é Trindade e Tobago. O país é constituído por um arquipélago situado no Mar das Caraíbas, relativamente próximo da costa Nordeste da Venezuela e relativamente perto da foz de um das mais representativas bacias hidrográficas da América do Sul, o Rio Orenoco.

Acredita-se também que uma parte considerável da herança genética da maioria das estirpes domésticas aponta para os antepassados colectados originalmente na ilha da Trindade como referem muitas fontes históricas.

Este arquipélago goza de um clima tropical, com uma humidade relativa elevada, situando-se imediatamente abaixo da cintura dos furacões, ainda que de tempos a tempos as ilhas sejam atingidas por estas violentas tempestades.

Uma vez que Trindade é uma ilha, a temperatura máxima raramente excede os 32ºC ou desce abaixo dos 19ºC, devido assinaladamente aos ventos predominantes e à influência do mar, ( os quais tornam o clima muito aprazível e fazem alguma diferença entre o litoral e o interior das ilhas ).

Os meses mais frescos são Janeiro e Fevereiro. A temperatura mínima média é de 20ºC, apresentando valores entre os extremos de 16ºC e 27ºC mesmo no período mais frio do dia. A temperatura máxima em média nos meses mais frios de Inverno é de 28ºC, podendo variar entre os extremos de 24ºC e 32ºC no momento mais quente do dia.

Os meses mais quentes são Abril, Maio e Outubro. A temperatura mínima é em média 24ºC, podendo apresentar valores entre 19ºC e 28ºC no período mais frio do dia. A temperatura máxima em média é de 31ºC, podendo variar entre 27ºC e 35ºC no período mais quente do dia.

As variações térmicas ao longo das 24 horas são contudo notáveis, nomeadamente a diferença entre a noite e o dia, embora se mantenham dentro dos limites críticos que foram referidos anteriormente.

A estação seca principal acontece entre Janeiro e Maio, mas em Setembro e Outubro dá-se uma nova pausa menos acentuada na época das chuvas denominada “ Petite Carême “. A estação chuvosa ocorre entre Junho e Agosto e de novo entre Novembro e Dezembro.

Tal como já ficou expresso noutras oportunidades, não podemos ter uma rigorosa noção sobre as exigências térmicas de uma espécie com base nos dados que dispomos sobre o historial da temperatura do ar referentes apenas uma das suas localizações originais. Quando muito isso dá-nos uma ideia aproximada de quais poderão ser os limites previsíveis para uma população em particular originária dessa região precisa.

Ainda que não faça parte do âmbito e do objectivo deste trabalho fazer um levantamento rigoroso sobre a influência térmica que o ar produz nos diferentes tipos de corpos de água e vice versa, podemos apenas conjecturar sobre situações específicas que confirmam os escassos dados encontrados sobre as temperaturas registadas das águas dos ambientes naturais de água doce nas ilhas de Trindade e Tobago ao longo do ano.

Tendo em consideração a frugal informação que possível obter para este trabalho e os dados relacionados com o tipo de ambiente frequentado pela espécie, podemos no entanto destacar duas conclusões importantes.

A primeira ( e muito clara ) é que as populações originárias destas ilhas são sujeitas a uma certa variação térmica num mesmo dia e continuamente ao longo do ano. É por esta razão importante voltar a relembrar a necessidade de não se manterem estes peixes a uma temperatura inalterável durante vários meses.

A segunda conclusão é a sua adaptação evolutiva a um clima tropical em que as mínimas são relativamente elevadas. Apesar da maior ou menor tolerância adquirida por algumas populações específicas, o Guppy não suporta muito bem longos períodos abaixo dos 17ºC, ainda que, em casos pontuais possa sobreviver por vários dias a 15ºC ou, em casos muito particulares e invulgares, até ligeiramente menos ( segundo certos relatos não confirmados ).

Nas suas origens, esta espécie é sobretudo encontrada em rios, riachos, canais, lagos, charcos, poças de água, pântanos, lagoas costeiras e na zona de transição entre os rios e o mar como os estuários e mangais.

Por uma questão de sobrevivência a Poecilia reticulata encontra-se algumas vezes em locais bastante isolados de baixa profundidade. Nestes ambientes restritos estão a salvo dos seus predadores aquáticos mais directos e proliferam em grande número, ficando no entanto expostos de novo quando as cheias sazonais colocam alguns desses biomas remotos em contacto com o corpo de água principal.

As populações que vivem em rios de grande caudal ou nos lagos, procuram protecção junto às margens, nomeadamente em locais de densa vegetação subaquática ou particularmente no remanso de correntes.

Outra característica comum ao habitat preferido pela generalidade das populações selvagens é a baixa profundidade, a qual raramente ultrapassa 1 metro. Em alguns locais da sua distribuição geográfica, o Guppy colonizou pequenos cursos de água com apenas escassos 10 cm de profundidade ou menos em boa parte do ano, ficando dessa forma livre da pressão por parte da maior parte dos seus predadores naturais aquáticos mas mais exposto aos ataques aéreos.

As águas onde se instalaram originalmente vão desde as transparentes e cintilantes águas dos riachos de montanha, até aos ambientes turvos de alguns rios, canais e lagos, ( sobretudo a turbidez espectável na época das chuvas devido ao transporte de sedimento pelas enxurradas ou por proliferações de micro algas em certas alturas do ano ).

Alguns grupos, nomeadamente em locais onde o Guppy foi introduzido pelo homem, também são encontrados em águas de alta salinidade ou frequentam o oceano nos confins do mangal e na foz dos rios ( estuários ), embora o ambiente marinho não ofereça condições para a sua fixação, particularmente onde existirem correntes e ondulação, mas sobretudo onde não se propiciem suficientes locais de abrigo contra o ataque dos potenciais predadores.

Devido à sua dispersão geográfica cada vez mais se encontram populações em águas onde em teoria esta espécie não se deveria fixar. Este é o caso de algumas zonas já relativamente poluídas ou os dos pântanos de águas ácidas ( designadamente até pH 6,1 ou às vezes ligeiramente menos ).

Em virtude da sua formidável adaptabilidade podemos dizer que estamos em presença de um peixe com grande poder de colonização de novos ambientes, extremamente ajustável às novas exigências e muito resistente. A sua maior vulnerabilidade é de facto a temperatura.

Apesar de tudo o que anteriormente foi escrito, convém no entanto alertar para a necessidade do respeito pelas condições conhecidas das suas exigências biológicas e não expor, ( designadamente os exemplares de linhagens domésticas ), a condições extremas devido à expectável perda de resistência destas estirpes.


III - Parâmetros físico-químicos


Temperatura ideal : 18ºC - 28ºC ( 23.5ºC parece ser o valor mais favorável de todos )

Limite de tolerância : 16.5ºC e 33ºC

Limite de sobrevivência : 12ºC a 39ºC

pH ideal : 7,2 – 7,4 ( embora tolere de 6,6 – 8,2 )

dH ideal : 8º – 12º ( embora tolere de 4º - 30º )

Salinidade máxima : 1,042 (*) ( 42,4 ppm )


(*) Ter sempre em consideração que embora se trate de uma espécies eurialina, ou seja, tolerante a variações significativas de salinidade, ( podendo por essa razão frequentar o mar ou mesmo ambientes hipersalinos, ocorrendo naturalmente mesmo em água salobra ), estamos, particularmente neste caso, perante de um animal que evoluiu em água doce pelo que não é indicado para viver continuamente em aquários com ambientes marinhos.

 
Proposta de manutenção desta espécie relativamente à temperatura :

 

Regime térmico (1) 

Regime térmico (2)

17ºC

19ºC

19ºC

21ºC

21ºC

23ºC

22ºC

23ºC

23ºC

24ºC

24ºC

25ºC

25ºC

26ºC

26ºC

28ºC

25ºC

26ºC

24ºC

25ºC

22ºC

23ºC

20ºC

20ºC

Cada linha desta tabela corresponde a um mês diferente e as temperaturas reportam-se apenas a valores de referência para a manutenção em cativeiro respeitando, o melhor possível, as exigências térmicas conhecidas para a espécie.

O ideal ( mas impossível de simular na maioria dos aquários domésticos ) era poder proporcionar aos peixes uma certa amplitude térmica diária e semanal, tal como acontece na natureza.


Para melhor se compreender o regime térmico ideal ou simular as condições de origem desta espécie, por favor consultar os gráficos relativos a Cumaná, Port-of-Spain, Mabaruma, Macapá e Boa Vista na página Temperaturas anuais registadas em águas naturais.

Nota sobre a Poecilia reticulata : A hipótese da coluna da esquerda ( regime térmico inferior ) é o mais adequado para a manutenção saudável desta espécie, enquanto a coluna da direita ( talvez mais exequível em casa ) se aplica àqueles casos em que tal não é possível.

Alguns grandes criadores de linhagens domésticas aconselham um regime térmico baseado no melhor desempenho de crescimento e à longevidade dos reprodutores.

Aqui fica o exemplo do criador Augusto R. Ewald ( Guppy Brasília ) segundo informações recolhidas em  http://www.guppybrasilia.com.br/

 
de 1 a 120 dias de vida - 26°C a 28°C

de 121 a 240 dias de vida - 23°C a 25°C

a partir de 241 dias de vida - 22°C a 23°C

 


Os grandes criadores ou os clubes da especialidade raramente fazem referência ao facto deste regime ser o mais adequado ao crescimento rápido necessário para facilitar as linhagens obtidas por selecção antrópica.

Contudo é bom ter em consideração que o mesmo não satisfaz a indispensabilidade de adequar, sempre que possível, o regime térmico do cativeiro à realidade da natureza onde os peixes evoluíram durante milhares de anos.

O problema é que, nomeadamente num aquário ornamental dentro de uma casa de habitação a missão de simular com perfeição as origens desta espécie também não é fácil, particularmente devido ao tipo de ambiente criado para o conforto dos seres humanos.   



IV - Biologia e ecologia sumária


O Guppy comum é um dos exemplos mais interessantes de variabilidade e polimorfismo dentro de uma mesma espécie.

Num mesmo curso de água é possível encontrar grupos com indivíduos maiores ou menores, machos mais ou menos coloridos e com padrões inerentes àquela secção divergentes do resto da bacia hidrográfica.

As cores e desenhos que os machos exibem variam algumas vezes de acordo com a sua localização e o tipo de ambiente ou predadores que aí é possível encontrar.

Para além dos aspectos morfológicos é possível encontrar até dissemelhanças comportamentais entre diferentes populações.

Em muitos locais peixes desta mesma espécie aí encontrados vivem permanentemente em cardume, enquanto que não muito afastado dessa segmento mas até no mesmo rio é possível encontrar os indivíduos à procura de alimento separados dentro de um grupo disperso.

Os machos encontrados na natureza exibem apreciáveis áreas dos seu corpo e barbatanas com uma certa multiplicidade de zonas, manchas ou padrões. As cores mais frequentes são o encarnado, o amarelo, o azul, o verde e o branco, acompanhados de um sortido de manchas, linhas ou mesmo áreas pretas.

Inúmeros estudos científicos tem demonstrado algumas razões evidentes que condicionam a progresso de certas populações para uma tão rica diversidade de modelos cromáticos dentro da própria espécie, juntamente com algumas diferenças evidentes na dimensão dos animais adultos ou mesmo patente em ligeiríssimas discrepâncias morfológicas de umas populações em relação às outras.

Os Guppies residentes em cursos de água onde a pressão predatória é maior, atingem a maturidade sexual mais cedo e os machos atingem dimensões menores por esse facto. Ao contrário dos seus parentes que vivem em locais de menor risco, produzem igualmente mais nascimentos por cada parto e recém-nascidos menores,  além de variações na fecundidade ( David N. Reznick et al, 1996 ).

A diversidade é tal que nalguns casos pode até discutir-se uma eventual especificação embrionária.

O Guppy de Cumaná ou Guppy de Endler foi durante várias décadas um caso interessante de discussão apaixonada entre os aficionados e mesmo entre cientistas.

As diferenças anatómicas não sendo demasiado claras e desmedidamente evidentes acabariam por revelar algo diferente nos animais colectados pela primeira vez em 1935 e introduzidos no cativeiro pelo Professor Jonh A. Endler apenas em 1975.

É igualmente extraordinário que este dilema não tenha sido devidamente classificado pela ciência se não desde 1935, pelo menos de 1975 até 2005.

Exames morfológicos e osteológicos tanto ao Guppy comum como ao Guppy de Endler não haviam chegado a conclusões seguras e não se conheciam ainda resultados de estudos ao DNA.

Alguns especialistas são de opinião que não encontraram matéria suficiente para eventualmente classificarem o Guppy de Endler como uma subespécie distinta de Poecilia reticulata, ( Alexander e Brenden, 2004 ).

Esta questão acabaria por ser finalmente solucionada em 2005.

As buscas efectuadas pelo Guppy de Endler fora de Cumaná não haviam conduzido até nenhuma solução evidente, até que, surpreendentemente em Julho de 2002 dois cientistas Europeus - Fred N. Poeser e Michael Kempkes - descobrem nas Lagoa de Campoma, na Lagoa de Buena Vista ( Cariaco ) Península de Pária e na região de Carúpano, ( Estado de Sucre, Venezuela ),  várias populações daquele que viria a ser conhecido pelo Guppy de Campoma, revelando-se uma espécie distinta para a ciência denominada Poecilia wingei ( Poeser, Kempkes e Isbrücker,  2005 ).

Aliada à sua vasta distribuição geográfica e ao isolamento prolongado de certas populações, as quais perderam o contacto com o resto da espécie durante muito tempo, há duas razões principais para que tal fenómeno de diversificação e até casos próximos da especificação embrionária tenham lugar na espécie Poecilia reticulata.

O estímulo provocado pela selecção sexual promove o desenvolvimento de caracteres secundários que favoreçam os machos na competição pela atenção das fêmeas, contudo as cores que favorecem o acasalamento costumam ser simultaneamente um bom contributo para atrair sobre si os predadores.

Nesta dicotomia evoluem muitas adaptações morfológicas, pressionadas por um lado pela competição sexual e por outro por predadores subaquáticos e aéreos.

Quem já teve oportunidade de observar o Guppy na natureza, nomeadamente em algumas águas das suas origens, apercebe-se que o elogiado trabalho dos criadores de linhagens domésticas afinal não é tão fantástico e prodigioso como aparenta. É impressionante o número de padrões de base que se encontravam já nos animais selvagens e que se adivinha logo estarem na origem de algumas das mais conhecidas formas apuradas em cativeiro.

As cores e barbatanas desenvolvidas por selecção artificial que justificam um mercado com uma impressionante vitalidade económica, ( e até o aparecimento de clubes e associações especializadas só nessa actividade ), constituem o inverso do processo evolutivo natural de milhões de anos condicionado por predadores, como alguns peixes que se encontram em Trindade e Tobago e nas regiões limítrofes da América do Sul continental.

Dessa selecção natural destacam-se, nomeadamente pela sua actividade predatória sobre as populações selvagens de Guppy, alguns peixes, como as espécies Airus spp. Aequidens pulcher, Astyanax bimaculatus, Cichlassoma spp., Crenicichla alta, Crenicichla saxatilis, Dormitator maculates, Hoplerythrinus unitaeniatus, Hoplias malabaricus, Rhamdia sebae, Rivulus hartii, e Symbranchus marmuratus. Da lista de inúmeros animais que se alimentam da Poecilia reticulata nas regiões de origem destacam-se ainda os invertebrados, como os camarões do género Macrobrachium e certas larvas de insectos aquáticos.

Paralelamente há predadores aéreos que são aí muito frequentes, nomeadamente os Morcegos pescadores ( Noctilio spp. ) e as aves aquáticas/pescadoras dos géneros Ceryle, Chloroceryle, Pitangus, etc.

Nem todas estas espécies estão presentes nos mesmos biomas, nem tão pouco exercem o mesmo tipo de pressão, seja no tipo de mortalidade que provocam ( adultos/crias, constantemente/sazonalmente, machos/fêmeas, à superfície/a meia profundidade, etc ), seja na eficácia, ( infalíveis/pouco eficientes, muito mortíferos/pouco fatais, etc ).

Alguns dos exemplos anteriormente referenciados, são muito referidos em estudos científicos pois fazem parte do ecossistema de Trindade e Tobago.

Há que ter em consideração que o número potencial de predadores é muitíssimo mais vasto tendo em consideração a distribuição natural muito extensa, já para não referir todos os locais onde estes peixes foram introduzidos.

A acção dos predadores provoca profundas divergências no comportamento social e reprodutivo e na demografia entre as diferentes populações, de acordo com a composição específica destes e o seu número no habitat em questão.

Nas populações sujeitas a uma reduzida ou inexistente pressão por parte dos predadores, os Guppies alimentam-se mesmo à noite. As alterações comprovadas na ausência desse comportamento durante o período nocturno devido à presença de predadores ( os quais  obrigam a um recolhimento dos peixes durante a noite, refugiando-se na vegetação subaquática ou nas margens ), acaba por ter consequências comprovadas ao nível do crescimento e do comportamento reprodutivo, ( Douglas F. Fraser et al., 2004 ).

Outra situação induzida por questões ambientais é o facto de existir uma certa disparidade entre o tamanho máximo no estádio adulto e a maturação sexual em peixes desta espécie provenientes de origens diferentes.

Ao contrário do que acontece com a maioria das linhagens domésticas, os animais selvagens distinguem-se frequentemente pelas diferenças e pela riqueza de diversidade.

Ao contrário das justificações geralmente relacionadas com a endogamia nos animais mantidos em aquário, a redução do tamanho e da taxa de crescimento no seu ambiente natural surge como resposta a situações de carência.

Uma vez que os machos destas espécies cessam praticamente o desenvolvimento corporal após a maturidade sexual, o tamanho com que a atingem ou as condições de plenitude física vai condicionar as suas dimensões finais, daí uma tão grande variabilidade nas medidas dos adultos encontradas entre populações naturais, mas sobretudo entre estas e as linhagens domésticas.

Numa espécie de reprodução contínua, se os indivíduos poderem assegurar descendência o mais cedo possível e terem uma vida reprodutiva mais longa, contribuem melhor para fazerem face às pressões demográficas devido às perdas causadas pelos predadores.

Por outro lado, os machos mais corpulentos conseguem tendencialmente assegurar mais descendência, ou pelo menos têm mais hipóteses de levar a melhor nos confrontos com outros concorrentes no acasalamento.

Geralmente os indivíduos de populações sob menor pressão por parte dos predadores apresentam taxas de crescimento mais lentas, maturação mais tardia, maior longevidade e menores ninhadas do que as que estão sujeitas a forte tensão predatória.

Durante a época das chuvas, dão-se habitualmente grandes transformações ambientais que alteram um pouco esta dinâmica e provocam usualmente a necessidade de movimentos sazonais de migração dos peixes à procura de melhores condições de vida ou simplesmente para conseguirem sobreviver aos efeitos devastadores das catástrofes naturais causadas pelo clima.

Embora seja uma espécie de reprodução contínua, é manifesto que precisamente no período do ano onde as pluviosidades são mais elevadas ocorre alguma sazonabilidade, a qual se manifesta numa diminuição drástica nos nascimentos.

No Norte da Venezuela ou em Trindade isso tem lugar especificamente entre Maio/Junho ou Novembro/Dezembro.

Ainda em relação à reprodução, pode-se dizer que os machos apresentam dois tipos distintos de comportamentos.

Alguns exemplares apresentam-se habitualmente ao sexo oposto e desenvolvem um conjunto de movimentos rituais por forma a exibirem sobretudo as suas cores. Perante esta ostentação, as fêmeas contempladas reagem aceitando o cortejo e permitindo o acasalamento ( inseminação ), ou simplesmente recusam e afastam-se rapidamente do galanteador. É particularmente nesta estratégia que se fundamenta a selecção sexual.

Em contraste, outros exemplares optam por uma metodologia completamente diferente.

Aproximam-se furtivamente das fêmeas e tentam copular de forma furtiva. Em praticamente todas estas situações, a resposta é a mesma... a tentativa de fuga ao acometimento.

Acredita-se que este último estratagema de acasalamento é menos seguro e eficaz do que o primeiro mas permite, ainda assim, um número razoável de inseminações.

Embora em cativeiro o sistema de acasalamento furtivo supere geralmente o do cortejo, na natureza o balanço entre estas duas tácticas está intimamente ligado ao tipo de pressão predatória e ao tipo de ambiente onde os peixes vivem.

A múltipla paternidade é mais frequente entre aquelas populações em que prevalece o acasalamento furtivo, enquanto a paternidade do mesmo macho em relação a vários embriões da mesma ninhada está geralmente relacionada com o acasalamento ritual. 

A gestação em condições óptimas dura entre 22 e 27 dias na natureza.

Em cativeiro esse período pode ser em muito superado, nomeadamente quando as fêmeas grávidas são submetidas a angústia ou ansiedade prolongada.

O uso de gaiolas maternidade, muito popular em aquários comunitários, é uma das fontes de stress mais evidentes e que mais estragos provocam numa gestação. Para além de prolongamentos desnecessários, podem surgir complicações que terão como consequência um aumento da taxa de mortalidade à nascença, partos difíceis ou abortos espontâneos.

No entanto, em condições propícias esta espécie torna-se extremamente prolífica.

Um parto pode dar origem a 6 ou 8 crias nas fêmeas mais jovens e ir até cerca de 60 nas plenamente desenvolvidas em condições ideais de procriação.

O número de crias por parto também pode variar em função de condições específicas. Não há uma consequência directa apenas entre as condições ambientais e o desenvolvimento dos fetos. O número de nascimentos por parto e o tamanho dos recém nascidos também é influenciado por condicionantes particulares.

Em determinadas conjunturas, como em presença de predadores, o Guppy apresenta taxas de nascimentos diferentes, em função das exigências demográficas para a sobrevivência do grupo.

O canibalismo de recém nascidos é prática corrente em ambientes desprovidos de abrigos para as crias, mas sobretudo onde existam adultos mal alimentados.

Os animais observados no seu ambiente natural distribuem-se ao longo das margens em grupos compostos por várias centena de adultos e outros tantos animais imaturos em diferentes fases de desenvolvimento.

De acordo com o tipo de predadores que têm que enfrentar e com a abundância ou não de abrigos próximos, estas comunidades podem formar cardumes densos ou dispersarem-se aleatoriamente pelo espaço disponível, tanto rondando a superfície ou mesmo procurando alimento junto ao fundo onde a água atinja até uma determinada profundidade que não exceda muito cerca de 1 metro.

Nos grupos maiores menos sujeitos a ataques constantes é evidente a maior competitividade entre os machos, revelando-se mais evidentes esforços de cortejo por parte destes.

Onde as investidas por parte de animais que se alimentam de adultos são mais frequentes, os machos não possuem uma tão rica variedade de cores e optam mais frequentemente pela cópula furtiva.

As fêmeas demonstram geralmente serem mais atraídas por machos da sua população ou linhagem. Num artigo científico sobre as preferências sexuais dos exemplares recolhidos em 11 diferentes localizações provenientes da Ilha de Trindade em relação aos padrões cromáticos, forma do corpo e dimensões, essa hipótese foi bem demonstrada, nomeadamente a existência de padrões de escolha bem definidos entre fêmeas de diferentes populações selvagens ( Endler e Houde, 1995 ).

Se por um lado os machos tendencialmente evoluem no sentido de se tornarem mais atractivos para as fêmeas à custa de coloração mais e mais exuberante, por outro lado, quanto mais extravagantes forem os indivíduos e as suas cores mais evidentes maiores se tornam as probabilidades de se sujeitarem a serem detectados pelos seus atentos predadores.

Em resultado disso, na natureza, sempre que as fêmeas optarem por evitar o acasalamento furtivo e os assédios, expõem-se em águas mais profundas e desabrigadas, afastando dessa forma os seus pretendentes pelo receio que estes demonstram em enfrentarem os eventuais ataques a que ficariam submetidos se abandonarem a segurança da vegetação ou das águas pouco profundas.

Este comportamento é impossível de ser observado no espaço muito restrito de um aquário doméstico, causando às fêmeas nascidas e criadas em cativeiro a contingência de nunca poderem evitar os machos, ( até mesmo nos momentos em que tal separação seria absolutamente incontornável ). Já nos lagos ao ar livre, há muitas vezes a possibilidade de se observar esta magnífica estratégia, sobretudo se estiverem presentes outros peixes de maior porte ou até predadores.

Os animais selvagens alimentam-se sobretudo de zooplâncton, pequenos insectos, larvas de insectos, micro algas e detritos de natureza vegetal.

A percentagem destes componentes varia de acordo com a região, o ecossistema e a disponibilidade ao longo do ano.

Em algumas regiões na natureza, a dieta é variável ao longo das estações e sofre eventuais flutuações em função de situações climatéricas específicas.

Com uma distribuição geográfica tão vasta, designadamente após as introduções, é impossível descriminar uma dieta típica uniforme. Ainda assim, tendo em consideração algumas pesquisas efectuadas com a Poecilia reticulata em ecossistemas da sua original distribuição, chegaram-se a algumas conclusões interessantes.

As flutuações sazonais ocorrem onde as variações climatéricas são maiores. Mesmo nos climas tropicais mais invariáveis, em determinadas alturas do ano a dieta pode variar em função da disponibilidade deste ou daquele alimento.

Na época das chuvas, os caudais das cheias, para além de causarem uma diminuição de presas vivas como as larvas de insectos, dispersarem os seres vivos em geral por uma área muito mais vasta, além de dificultarem a captura de alimento devido à diminuição da visibilidade causada pela turvação da água.

Existe contudo uma assinalável preponderância de consumo dos alimentos de origem vegetal, particularmente as micro algas, ( podem chegar aos 75% da matéria encontrada no aparelho digestivo ), e por insectos aquáticos ou suas larvas ( assinaladamente Díptera, Ephemeroptera e Trichoptera ).

Vários trabalhos científicos, especialmente concebidos para avaliarem o valor do Guppy como agente biológico na luta contra os mosquitos vectores da transmissão de doenças, são indicativos do tipo de alimento consumido por esta espécie, particularmente através da análises ao conteúdo do tracto digestivo de animais capturados como amostragem.

Exemplares capturados na Venezuela ( Laguna de Urao, Mérida ), revelaram conteúdos gastrointestinais contendo larvas misturadas com outros alimentos ( em 62% dos indivíduos ) ou compostos só por larvas e pulpas de mosquito ( em 33% dos indivíduos ), ( Rojas et al., 2005 ).

Nesse mesmo estudo, a espécie Poecilia reticulata apresentava os seguintes conteúdos no respectivo aparelho digestivo : algas, peixes ( crias ), quironomídeos, coleópteros, copépodos, dípteros, formicídeos, odonatos, hemípteros, larvas, pulpas e detritos ( Rojas et al., 2005 ).

A alimentação usual em cativeiro não apresenta problemas.

Quando mantidos em lagos ao ar livre, as algas que dão uma tonalidade verde à água são um excelente e nutritivo componente da sua dieta. Algumas outras das que crescem nas paredes laterais são também uma excelente fonte de alimento.

Os Guppies comem quase tudo o que é habitual. Toleram muito bem alimentos secos, frescos, congelados e vivos. Algumas receitas domésticas para peixes de aquário também são populares. Uma dieta adequada é muito idêntica às dos outros ovovivíparos mais comuns, com um especial cuidado para uma tendência vegetariana onde não devem ser negligenciados os alimentos à base de spirulina.

Para além de alimentos liofilizados em flocos, recomenda-se vivamente artémia salina, larvas de mosquito, vermes de sangue, microvermes, tubifex, dáfnias, todos estes vivos ou congelados e com o tamanho indicado para as suas bocas. Como complemento aceitam bem a carne moída de moluscos ou da maior parte do peixe usado na alimentação humana.

Os recém nascidos podem ser alimentados com comida industrializada em pó até aos 7 mm de cumprimento, comendo bem partículas do alimento consumido pelos adultos, assim como com náuplios de artémia vivos, microvermes e infusórios.

Devido aos seu metabolismo rápido, especificadamente quando se encontrarem sob temperaturas elevadas, convém alimentá-los em pequenas quantidades mas várias vezes ao dia com alguma frequência ( entre 3 a 8 vezes e apenas durante o período de claridade ).

As doses ministradas devem ser o suficiente para os peixes as consumirem em poucos minutos sem deixarem sobras.

Quanto mais variada for a dieta ministrada, melhores serão os reflexos na saúde dos peixes e no seu desenvolvimento.

O problema que se coloca com a sua manutenção devido ao seu metabolismo é o de criar em pouco tempo condições para obrigar a trocas de água frequentes nos aquários. Quanto menos capacidade e há mais tempo estiver a funcionar o sítio onde estão os peixes, maiores serão as necessidades de trocas parciais a fim de se evitarem problemas causados por bactérias extremamente prejudiciais e mortíferas.

Um aquário de 40 litros a funcionar há 5 meses ou um outro de 200 litros de capacidade mas a funcionar há  11 meses carecem ambos de substituições parciais de água todas as semanas em cerca de 20% do volume total. Ambos os aquários daí a alguns meses, ( se não forem renovados entretanto ), deverão ser submetidos a trocas parciais de água duas vezes por semana ou mais ( na ordem dos 25 % ), e assim sucessivamente.

Estes peixes em cativeiro têm uma longevidade de cerca de um ano e meio mas alguns exemplares podem chegar a mais do dobro.


V - Notas complementares


O Ictiólogo Alemão Wilhelm C. H. Peters descreveu em 1859 pela primeira vez esta espécie com base em exemplares encontrados no Rio Guaíre, ( Venezuela ) em 1856, atribuindo-lhe o nome científico actual.

A denominação popular Guppy advém da redescoberta desta espécie em Trindade em 1866.

Robert John Lechmere Guppy, ( nascido a 15 de Agosto de 1836 em Londres e falecido a 5 de Agosto de 1916 em San Fernando – Trindade e Tobago ), era um explorador Britânico e naturalista.

A propósito da designação deste peixe, a sua filha, Enid Fraser, foi citada na publicação The Aquarium, Vol. XIV nº7, Novembro, 1945, como tendo escrito o seguinte :

« (...) o maior mérito desta designação científica devia ser reconhecido ao meu pai, o falecido Dr. Robert John Lachmere Guppy, o qual, para além de concólogo  e geólogo, foi o primeiro a descobrir o pequeno vivíparo aqui [ Trindade ], tendo ficado intrigado com o seu aspecto.

Enviou alguns espécimes para Londres, a fim de serem catalogados e descritos pelo curador do Museu Britânico de Zoologia, o falecido Dr. Albert Carl Ludwig Gotthilf Günther.  

A designação científica que daí veio a resultar, Girardinus guppii foi uma forma de reconhecimento ao meu pai, tendo esta sido aplicada e autenticada o tempo suficiente para a sua designação popular ter prevalecido como Guppy.

Entretanto, em resultado de novas pesquisas científicas, muitos cientistas estão de acordo quanto ao facto de que Lebistes reticulatus ser a melhor denominação, contudo, apesar de todas as justificadas alterações à nomeação do Dr. Günther com o nome do meu pai, esta continua a ser utilizada em todo o mundo como nome popular desta espécie »; fim de citação do sítio - http://www.tofino-bc.com/guppy/lechmere.htm.

Girardinus guppyi permaneceu de facto até à revisão da classificação da família Poeciliidae, em 1913, na qual foi renomeada como Lebistes reticulatus, nome pelo qual é ainda conhecido em inúmeros sítios na Internet ou em livros de aquariofilia.

A utilização desta espécie na luta biológica contra os mosquitos transmissores de doenças como o paludismo enfrenta actualmente alguma descrença, embora no passado esta espécie tenha sido venerada como excelente e eficaz larvófoga.

A eficiência desta e de outras espécies na luta biológica no controle de larvas dos insectos vectores de doenças como a malária, o dengue, a febre amarela ou a encefalite equina, é com frequência testada, nomeadamente nas regiões tropicais onde o problema é endémico.

Em comparação com outros peixes larvófagos nativos, a espécie Poecilia reticulata quando introduzida como arma biológica pode ser mais ou menos eficaz, mas pode complementar a acção dos agentes do ecossistema local devido às suas características e biologia, ( Elmer Rojas et al., 2004 ).

As técnicas de controlo biológico têm algumas vantagens sobre os tradicionais sistemas químicos, nomeadamente em regiões onde a pluviosidade elevada dilui rapidamente as concentrações. Para além desse facto, como os ciclos de vida das larvas duram 7 dias, as aplicações químicas deveriam ser feitas todas as semanas.

Por não poluírem o ambiente e não deixarem vestígios nefastos na cadeia alimentar, os agentes biológicos demonstraram ser empiricamente mais benéficos e eficazes, ( pois os mosquitos não podem desenvolver imunidade aos predadores como em relação aos agentes químicos ).

Ainda assim, registam-se alguns obstáculos e limitações no uso do controlo biológico.

Para se conseguir o efeito desejado, o número de predadores do mosquito ou suas larvas tem que ser introduzido em grandes número de efectivos.

Para penetrarem em zonas quase inacessíveis entre a vegetação, usam-se geralmente pequenos peixes que não têm qualquer valor para o consumo humano, e que toleram as águas poluídas onde algumas espécies do insecto depositam os ovos e se desenvolvem até à fase adulta.

Embora existam inúmeras alternativas, particularmente os insectos predadores, insectos aquáticos carnívoros e suas larvas, protozoários, fungos, bactérias e vírus que atacam os mosquitos e suas larvas, a maioria destes agentes estão ainda a ser estudados e a sua utilização não é para já tão viável como a utilização dos peixes.

Os efeitos secundários da introdução de novas espécies deve ser sempre considerado, mesmo tendo em atenção objectivos tão humanitários como a eliminação de doenças endémicas muito penalizadoras transmitidas aos seres humanos através da picadela do mosquito.

A disseminação da espécie Poecilia reticulata, ocorrida no século passado um pouco por todos os países tropicais como arma biológica contra os mosquitos, teve lugar sobretudo porque foi considerada um larvófogo eficaz, embora seja actualmente descrita como revelando pouco ou nenhuma influência sobre o mosquito por certas fontes.


VI - Ameaças, medidas de protecção e situação actual


A destruição do meio ambiente através de contaminação com águas residuais domésticas e industriais, constituem as maiores ameaças que a Poecilia reticulata enfrenta actualmente em algumas áreas da sua distribuição geográfica.

Felizmente a sua ocorrência numa vasta região ainda bem provida de zonas remotas e inacessíveis onde a acção da humanidade não se faz sentir e a sua disseminação por muitos países por acção antrópica, não permitem antever, pelo menos num futuro próximo, uma situação em que a espécie venha a correr perigo de extinção.

Esta espécie não se encontra ainda em situação preocupante nem faz parte do Livro Vermelho do I.U.C.N.

Para esclarecimento de dúvidas e mais informações consulte-se Cyprinodontiformes vivíparos e ovovivíparos no Livro Vermelho de Espécies Ameaçadas da UICN.


Outros tópicos sobre esta espécies para consulta :


Bibliografia :


Alexander HJ, Breden F., 2004. Sexual isolation and extreme morphological divergence in the Cumaná guppy: a possible case of incipiente speciation. J. Evol. Biol. 17( 6 ) : pp. 1238-1254.


David N. Reznick, F. Helen Rodd, Michael Cardenas, 1996. Life-History Evolution in Guppies ( Poecilia reticulate : Poeciliidae ). IV. Parallelism in Life-History Phenotypes. The American Naturalist, Vol. 147, No. 3 ( March, 1996 ), pp. 319-338.


Douglas F. Fraser, James F. Gilliam, Jeena T. Akkara, Brett W. Albanese, and  Sunny B. Snider, 2004. Night feeding by Guppies Under Predator Release : Effectes on Grouth and Daytime Courtship. Ecology, 85(2), 2004, pp. 312–319.


Elmer Rojas P., Mário Gamboa  B., Segundo Villalobos R., Francisco Cruzado V, 2004. Eficácia del Control de Larvas de Vectores de La Malária con Peces Larvívoros Nativos en San Martin, Peru. Revista Peruana Med. Exp. Salud Pública 21(1), 2004, pp. 44-50.


John A. Endler, Anne E. Houde, 1995. Geographic Variation in Female Preferences for Male Traits in Poecilia reticulata. Evolution, Vol. 49, No. 3 ( June, 1995 ), pp. 456-468.


Poeser, F. N., M Kempkes and I.J.H. Isbrücker, 2005. Description of Poecilia ( Acanthophacelus ) wingei n. sp. from the Paría Peninsula, Venezuela, including notes on Acanthophacelus Eigenmann, 1907 and other subgenera of Poecilia Bloch and Schneider, 1808 ( Teleostei, Cyprinodontiformes, Poeciliidae ). Contributions to Zoology 74 : pp. 97–115.


Rojas J. E., Soca, L. A. e Garcia, G. I., 2005. Contenido del tracto digestivo de 4 especies de peces autóctonos y sus implicaciones como biorreguladores de larvas de mosquitos en Venezuela, 2004. Rev Cubana Med Trop, sep.-dic. 2005, vol.57, no.3


Ligações importantes para se entender melhor a história deste animal e confirmarem-se os dados que constam desta ficha :


Clube dos Criadores de Guppy do Brasil -
http://www.ccg.org.br/ [ Português ]

Guppy Brasil ( Rodrigo Ziviani ) - http://www.guppy.petbh.com.br/ [ Português ]

Guppy Brasília ( Augusto R. Ewald ) - http://www.guppybrasilia.com.br/ [ Português ]

Guppy Rio de Janeiro – ( Cherleston Chaves ) - http://www.guppyrio.hpgvip.ig.com.br/ [ Português ]

Guppy Mendes - http://www.guppymendes.com/ [ Português ]

Guppy New Zealand - http://www.guppy.co.nz/ [ Inglês ]



Agradece-se profundamente aos nossos leitores que possuam dados e informações complementares ou que encontrem neste documento eventuais correcções, o favor de nos contactarem nesse sentido.



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