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A Manutenção de Goodeiídeos com Sucesso

Matthias Naumann - publicado neste sítio em Janeiro de 2010


Há inúmeras razões para que o entusiasta dedicado a espécies de peixes vivíparos e ovovivíparos se venha a interessar por Goodeiídeos, assumindo-os como uma bem-vinda novidade.
Se por um lado, o comportamento destes peixes é de facto muito interessante, por outro são habitantes ideais de qualquer aquário, uma vez que podem até ser mantidos a um baixo custo em ambiente doméstico sem aquecimento.
Além do mais, muitas espécies estão ameaçadas no seu ambiente natural, em particular devido ao aumento da população humana e à crescente industrialização no México, de modo que cada um de nós pode contribuir um pouco para a preservação destas espécies, mantendo-os pelo menos durante um certo período de tempo, a fim de ajudarmos a estabelecer linhagens estáveis na aquariofilia.
Apesar de todas estas vantagens, os Goodeiídeos parecem estar a ter de facto muita dificuldade em popularizarem-se entre os aquariófilos e muitas das linhagens que foram importados há algum tempo, já desapareceram dos aquários particulares.
Uma razão, muitas vezes apontada, parece estar relacionada com problemas comuns enfrentados na manutenção estes peixes.
Dado que os tenho vindo a criar, há um determinado número de anos, gostaria de partilhar convosco algumas dicas e sugestões para a sua conservação bem sucedida.

Macho de Xenotoca eisei.

1. Temperatura : Ao contrário do comum aquário aquecido para espécies tropicais, no qual uma temperatura constante é mantida através de um aquecedor ajustável com termóstato, o equivalente destinado aos Goodeiídeos não requer aquecimento.
Dependendo do local onde o aquário está montado, a temperatura geralmente é variável durante o todo o ano, mas permanecerá sempre dentro de um intervalo compreendido entre o frio de Inverno, no qual se registam as temperaturas mais baixas e o calor de Verão, onde ocorrem as mais elevadas.
Variações, de acordo com a hora do dia, poderão ainda ter lugar nalguns casos, mas não é absolutamente necessário que tal aconteça.
A amplitude térmica, que naturalmente depende do local onde o aquário foi instalado, deve determinar quais espécies que aí podem vir a ser mantidas.
Se o intervalo entre máximas e mínimas difere muito, nomeadamente se, nos respectivos limites, ultrapassam os exigências fisiológicos dos peixes mantidos, qualquer aquariófilo consciente ficará preocupado e inconformado com a escolha.
Embora a maioria dos Goodeiídeos em geral possam tolerar satisfatoriamente temperaturas baixas, em resultado das mesmas muitas espécies tornam-se imóveis ou retraem-se visivelmente na sua actividade.
Nos casos em que as baixas temperaturas são mais desfavoráveis, pode mesmo assistir-se uma actividade relativamente pouco expressiva por parte dos peixes, durante períodos que podem mesmo chegar a metade de um ano.
Os efeitos das temperaturas demasiado elevados são porém muito piores, já que prejudicam gravemente a saúde dos Goodeiídeos.

Machos jovens de Ameca splendens.

Espécies de grande porte como esta devem ser acomodados em grandes aquários com, pelo menos, 1,20 m de  comprimento.

O limite crítico superior pode diferir substancialmente de uma espécie para outra, no entanto pode ser manipulado para ser superado em poucos graus, através de um copioso arejamento artificial da água.
Os indicadores mais óbvios de que a manutenção está correr mal, nomeadamente a ser feita a temperaturas demasiado elevadas, começa com a visível intensificação da frequência respiratória, seguido de perto por aumento da susceptibilidade às doenças, provocando, em pouco tempo, as primeiras baixas.
Aqui fica um sério aviso para todos aqueles que estão a ponderar na ideia de manter exemplares das espécies do género Girardinichthys num apartamento. Essas espécies podem ser mantidas tranquilamente em qualquer local frio e sem aquecimento, mas o lugar ideal para elas é sem dúvida numa cave.
Se mora numa região com Verões quentes ou numa zona urbana e gosta da sua casa aquecida durante o Inverno, as espécies dos seguintes géneros podem ser recomendadas, uma vez que são espécies que toleram melhor o calor : Ameca, Ataeniobius, Chapalichthys ( C. pardalis ), Ilyodon, Xenotaenia e Xenotoca ( X. eiseni ).
Quanto às espécies dos géneros que se seguem, podem lidar com o calor do Verão relativamente bem, mas em compensação precisam de um período anual, com temperaturas mais frias, rondando pelo menos os 20ºC durante o Inverno : Allodontichthys, Characodon, Chapalichthys ( C. encaustus ), Xenoophorus, Xenotoca ( X. melanossoma e X. variata ) e Zoogoneticus.
Em aquários situados em locais da casa mais frescos ou marquises onde a temperatura não se eleva acima de 25ºC, as espécies dos seguintes géneros podem ser recomendadas : Alloophorus, Allotoca, Goodea, Skiffia, Girardinichthys e Hubbsina, pois exigem uma temperatura constantemente abaixo dos 20ºC, pelo que, como mencionado anteriormente, devem ser mantidas de preferência numa cave fresca.

Fêmea grávida de Skiffia multipunctatta.

2. Equipamento técnico : como já foi mencionado anteriormente, o fornecimento de uma forte corrente de ar através de uma pedra difusora, a qual por sua vez é alimentada por um compressor, torna-se extremamente benéfico para os Goodeiídeos, podendo mesmo vir a tornar-se vital durante o Verão, nomeadamente se for mantido um grande grupo destes peixes no mesmo aquário.
O mais importante conselho sobre o sistema de filtragem utilizado é que ele seja de grande confiança. Recomendo aqueles em que os respectivos fabricantes garanta à partida a futura disponibilidade de peças sobressalentes para os seus produtos, nomeadamente peças importantes como eixos de membranas cerâmicas.
Esta é uma das indicações de qualidade, nomeadamente tendo em conta os muitos anos que um desses equipamento está em uso nos meus aquários, tendo-se revelado mais barato do que as “ ofertas especiais “ que são publicitadas nas campanhas.
Em relação à iluminação artificial dos aquários todas as lâmpadas florescentes ( néon ) de alta definição de cor estão bem adaptados, nomeadamente as de código 800 (de acordo com códigos de cores numérico da marca Philips ).
Sob a luz de uma dessas lâmpadas fluorescentes as cores dos peixes, assim como a decoração do aquário parecem mais naturais, as plantas crescem bem sendo que, para além disso, essas luzes são baratos. As de tipo branco quente ou frio, identificadas com os códigos 830 ou 840, são bastante comuns e encontram-se facilmente disponíveis no mercado.
Há no entanto diversos tipos de lâmpadas com outros padrões de cores, as quais se encontram sobretudo em revendedores especializados. Para a iluminação tipo luz do dia, relativa a peixes prateados ou azulados as de código 880 são as mais adequadas, nomeadamente quando a sua temperatura de cor ronda os 8000 Kelvin.

Recém nascido de Ameca splendens com a trofoténia ainda visível.

No caso da espécie Characodon lateralis a iluminação com lâmpadas de branco quente ( códigos 827, 2700 Kelvin ), torna estes peixes muito atraentes.
As lâmpadas fluorescentes do tipo “ luz do Sol natural “, codificadas com o número 900 de acordo com a Philips, não me convenceram de todo, uma vez que não são suficiente claras, em particular quando se usa apenas uma lâmpada destas em cada aquário.

3. Água : Para a manutenção e criação de Goodeiídeos, a água da torneira é adequada, desde que atenda os padrões habituais da água potável.
Não são necessários tratamentos especiais, excepto poder ser aconselhável a utilização de água temperada quando se mudarem grandes quantidades, particularmente durante o Inverno, caso contrário a água do aquário pode tornar-se muito fria.
A dureza não desempenham um papel assim tão importante como se possa pensar, embora se devam evitar as decorações com raízes e folhas mortas na decoração, pelo menos em água mais branda, uma vez que estas podem libertar substâncias que certamente farão baixar o pH e criarão um ambiente desfavorável aos Goodeiídeos.
As pedras e rochas são habitualmente os materiais mais utilizados para a decoração, não sendo importante a sua composição, mesmo se endurecerem a água, pelo que até se podem utilizar os materiais calcários, por exemplo.
Mudanças parciais de água regulares são essenciais para os peixes.
Mudo cerca de um terço da água do aquário a cada quinze dias mas, durante o Verão essa mesma quantidade pode ser trocada semanalmente.
A quantidade de água trocada deve corresponder ao número e tamanho dos peixes mantidos no aquário. A água fria da torneira pode ser normalmente utilizados para a troca, mas é importante que, como mencionado anteriormente, a temperatura não desça muito, especialmente no Inverno.

Macho adulto de Ameca splendens com os tradicionais reflexos reluzentes.

15ºC é aproximadamente a temperatura mais baixa aconselhada para muitas espécies, sobretudo se estiverem presentes crias no aquário.
4. Decoração do aquário e socialização com outras espécies de peixes : Uma manutenção adequada dos Goodeiídeos começa, na minha opinião, com um aquário de, pelo menos 80 centímetros de comprimento.
Em aquários destas dimensões, muitas das espécies menores podem ser mantidas e criadas com sucesso.
Espécies de grande porte como Ameca, Ilyodon ou Goodea devem ser acomodados em grandes aquários com, pelo menos, 1,20 m de comprimento, caso contrário os indivíduos são susceptíveis de não atingirem o seu tamanho máximo original ou de não poderem mostrar uma parte considerável do seu comportamento típico.
As tentativas de juntar no mesmo aquário Goodeiídeos peixes balão, peixes elefante ou Ciclídeos do Niassa ( Lago Malawi ), denotam uma enorme falta de sensibilidade e devem ser evitados.
Claro que é possível mantê-los com sucesso juntamente com outros peixes num aquário comunitário. De fato, muitos aquariófilos o têm feito com êxito, e o conhecimento daí resultante vai certamente proporcionar um rico campo para a aquariofilia no futuro.
A preocupação deste artigo é porém a de excluir eventuais factores de manutenção que podem levar ao fracasso, e é por isso que eu recomendo começar com uma espécie por tanque. Eu sempre mantive os meus Goodeiídeos em aquários dedicados a uma única espécie e encontrei nesta prática resultados totalmente satisfatórios.
Para o estabelecimento de uma colónia inicial, os peixes jovens são muito melhor opção do que os adultos. Deve-se começar com um grupo de, pelo menos, 10 exemplares, mais quantos mais melhor.

Macho adulto de Characodon lateralis.

Um tal grupo levará rapidamente ao estabelecimento de uma comunidade próspera e tornará em breve possível passar matrizes a outros aquariófilos.
Os jovens são também geralmente menos propensos ao pânico do que os adultos, em particular quando transferidos para um novo ambiente.
Quando são libertos no aquário de destino, após o transporte, os Goodeiídeos ficam frequentemente muito tímidos durante o primeiro par de semanas.
Quando entram em descontrolo, nadam ao redor do aquário, colidindo muitas vezes com violência contra com a respectiva decoração ou até com o vidro.
Nesta situação específica é necessária uma sensibilidade muito maior por parte do aquariófilo. Devem ser fornecidos abrigos abundantes aos peixes, na forma de plantas ou estruturas de pedra. Para além disso, uma cobertura de plantas flutuantes, acalma naturalmente os peixes aterrorizados.
Um aquário com peixes tímidos deve ser abordado com muita cautela e devagar. Se tiver paciência e ali ficar o tempo suficiente, instalando-se confortavelmente a alguma distância do vidro, poderá mesmo vir a observar os peixes a emergirem do respectivo esconderijo e, lentamente, tornarem-se mais confiantes. Após algum tempo de habituação, uma parte das plantas pode ser removida, deixando um pequeno grupo denso a um canto junto à traseira do aquário para o qual os peixes se podem se retirar quando acharem necessário. O restante espaço pode ser deixado livre e desimpedido, excepto uma ou outra pedra ou mesmo estruturas mais complexas de rocha.
Em breve será possível observar, cada vez com mais frequência, os peixes a nadarem calmamente por todo o espaço disponível.

Muitos Goodeiídeos podem-se tornar tão dóceis que podem vir a ser alimentados a partir da nossa própria mão.
Logo que os peixes tenham perdido o pavor inicial, o aquário pode ser gradualmente redecorado para atender ao gosto específico de cada um, incluindo-se de novo mais plantas se assim o entenderem. As plantas aquáticas submersas que estão mais bem adaptados para esse fim, são descritas no artigo “ plantas para aquários com Goodeiídeos ”.
5. Alimentação : Durante muito tempo tenho alimentado os meus Goodeiídeos exclusivamente com alimentos liofilizados ( flocos ), misturados com Gammarus secos esmagados.
A única excepção a essa rotina é o tratamento dos alevins, aos quais é ministrado também o camarão salmoura ( Artemia salina ) até que atinjam uma dimensão de cerca de 4 centímetros. Os Gammarus liofilizados encontram-se facilmente disponíveis no mercado como alimento para tartarugas. Misturar cerca de 70% de flocos com 30% de Gammarus esmagados ( em volume e não peso ), revelou-se uma boa proporção. Uma vez aberta a embalagem, tento conclui-la no espaço de um mês.
Quando uma embalagem se esgota, compro outra de uma marca diferente, tentando dessa forma fornecer alguma variedade, sem contudo ir para além dos produtos de fabricantes conhecidos. Normalmente alimento os peixes apenas uma vez por dia, usando para o efeito anéis de alimentação. Apesar disso, se o conseguisse duas vezes por dia seria certamente melhor.
De acordo com a minha experiência, uma dieta rica em proteínas ou incluindo alimentos contaminados causa frequentemente infecções intestinais nos Goodeiídeos. Os Gammarus, por outro lado, contêm uma grande quantidade de fibra e uma vez que foram secos mantém-se a flutuar por um bom par de horas no anel de alimentação, servindo dessa forma como uma fonte suplementar de refeição.
O consumo de alimentos pode variar significativamente entre as diferentes espécies, mas também e sobretudo de acordo com a temperatura da água. Em comparação com outros peixes, os Goodeiídeos possuem um metabolismo relativamente mais acelerado, pelo que costumo dar-lhes mais alimentos do que eles podem terminar em apenas escassos minutos. As sobras são rapidamente consumidas pelos caracóis e camarões de água doce, os quais vivem em grande profusão nos meus aquários.
Quinzenalmente os meus Goodeiídeos não são alimentados por um dia, outras vezes também reduzo a dose diária de quando em vez, a fim de proporcionar alguma alteração à rotina diária e provocar, dessa forma, uma ligeira fome nos meus peixes, mantendo-os activos e saudáveis.
Quando existem plantas aquáticas ou algas no aquário, não há absolutamente nenhuma necessidade de os alimentar com os espinafres escaldados, alface e similares, como muitas vezes é recomendado. As fezes verdes dos peixes são prova inequívoca de que há comida vegetal suficiente em aquários onde tal acontece.
Conforme descrito, a nutrição que atenda às necessidades dos Goodeiídeos pode muito facilmente ser fornecida, na base de uma rotina diária. No entanto, vou de seguida e de uma forma sumária considerar algumas alternativas e relatar minha experiência pessoal em relação às mesmas :

1. O alimento vivo - quando se tem acesso a fontes de fornecimento alimentos vivos não contaminados, essa será, sem dúvida, certamente uma vantagem extra para o criador de Goodeiídeos. É no entanto necessária uma certa atenção e ter-se em consideração de que algumas espécies como a Ameca splendens e a Xenotoca eiseni, podem subitamente tornarem-se mordedoras de barbatanas após terem sido alimentados com dáfnias vivas, por exemplo. Isto pode até parecer muito estranho, mas não só foi confirmado por outros colegas aquariófilos como eu próprio tenho passado por essa experiência.
Os alimentos vivos congelados trouxeram sempre desvantagens na minha experiência, por isso actualmente abstenho-me de utilizá-los completamente.
Fiz várias tentativas em casa para produzir vários tipos de insectos, larvas, dáfnias e moina, a fim de proporcionar alimento vivo aos meus peixes, mas tal nunca resultou nem constituiu um sucesso, quer no que respeita à qualidade, quer em relação às quantidades. A única alternativa que realmente posso recomendar é incubação do camarão salmoura ( Artemia salina ), cujos náuplios são um magnífico alimento para fazer crescer os recém nascidos e crias. Neste caso específico, as grandes quantidades associadas com uma qualidade consistente são fáceis de produzir e o processo para o conseguirmos não ocupa muito espaço.

2. DIY - Depois de experimentar várias alternativas e também após ter lido muito sobre o assuno, estou convencido que é pouco provável que um amador médio possa produzir alimentos de forma sustentada para os seus peixes, os quais, de alguma forma, sejam superiores às alternativas da oferta comercial destinada a peixes ornamentais.
As espécies de Goodeiídeos mantidos através do programa de conservação da Universidade de Morelia ( “ Fish Ark “ ), são alimentados exclusivamente com flocos, Daphnia viva e Artemia salina.

Esta não é evidentemente a única maneira de proceder e há certamente colegas aquariófilos que usam outros métodos e conseguem manter com idêntico sucesso várias espécies de Goodeiídeos. Ao escrever este artigo, a minha principal preocupação foi a de evitar todos os factores que podem causar problemas e o insucesso, explicando como é que qualquer aquariófilo interessados pode manter e reproduzir a grande maioria destes atractivos peixes.

Matthias Naumann

 


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