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O Ovovivíparo de Endler Armando Pou - publicado neste sítio em Junho de 2006 |
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Introdução
Nesta estupenda oportunidade, Armando revelou-se uma pessoa excepcional, surpreendendo-me com a mensagem abaixo transcrita no seguimento de uma solicitação minha para publicar algo sobre esta espécie de sua autoria. Com o consentimento do respectivo autor, tenho o grato prazer de convosco compartilhar as informações que se seguem, as quais considero extremamente importantes e indispensáveis no conhecimento sobre a espécie Poecilia wingei. Os meus sinceros agradecimentos a ambos.
De : Pou, Armando Enviada: quinta-feira, 1 de Junho de 2006 20:10 Assunto: Information on ELB’s ( P. wingei ).
A informação elementar sobre as minhas recolhas na natureza resume-se ao seguinte : Da “ Laguna de los Patos “ original ( no final dos anos 1990 ), hoje existem fundamentalmente quatro corpos de água independentes. Dois destes situam-se de um dos lados da nova via rápida relativamente larga, ( Autopista Sucre ), enquanto os dois restantes permanecem do outro lado desta estrada. Existe um bairro da lata que chega às margens de uma dos lagos para onde estão a ser vertidas águas residuais. Neste local não encontrei vestígios de quaisquer peixes, ( pelo menos que conseguisse avistar ou capturar com a rede naquela confusão ). O lago mais próximo localizado junto ao anteriormente descrito também está poluído com lixo e detritos de vazadouro mas ainda possui muitos “ ovoviviparos de Endler “ ( Poecilia wingei ). Este segundo lago aparenta estar livre de peixes grandes e predadores e todas as capturas que fiz nesta colheita eram 100% constituídas por Endler. O terceiro e quarto lagos situam-se do lado oposto da auto-estrada. Foram ambos povoados com Ciclídeos. Um deles é o que resta de uma fonte de extracção de barro, estando as suas margens desprovidas de vegetação. Aqui não encontrei quaisquer exemplares de Endler ou de Guppy. No quarto e último lago, as margens encontravam-se bem providas de juncos onde encontrei de novo mais Endler. Alguns dos exemplares deste último lago exibiam uma pigmentação preta fora do comum ( por isso lhe chamei o “ Lago dos Endler Negros “ no artigo que escrevi para a Tropical Fish Hobbyist ). Todos estes lagos são periodicamente inundados e um deles verte mesmo as suas águas para a Lagoa Malagueña em resultado de chuvas abundantes. A “ laguna Malagueña “ situa-se já na costa adjacente à avenida marginal ( La carretera perimetro que sigue la costa del mar ). Outrora este corpo de água possuiu tanto Endler como Pictas [ Micropoecilia-de-Cauda-Vermelha ou Micropoecilia picta ], mas como actualmente está sujeita à entrada de água do mar durante as marés vivas grande parte dos Endler desapareceram ( numa das minhas viagens durante a época das chuvas nos anos 1990 eu confundi mesmo esta Lagoa com a Lagoa dos Patos ). Há ainda alguns ribeiros de corrente lenta e canais que têm origem em três dos quatro lagos que compõem a “ Laguna de los Patos “ actualmente. Os únicos locais onde pude avistar Guppies em Cumaná foi longe destas quentes e poluídas águas salobras, como no Rio Manzanares, onde a temperatura estava uns 15ºF [ cerca de 9ºC ] mais baixa do que na Lagoa. Aqui no rio as águas apresentavam-se mais límpidas e fluíam bem. Têm tido lugar muitos debates sobre “ tipos “ [ variedades ] de Endler na aquariofilia. Incluo em seguida algumas localizações onde alguns foram capturados, ( feita a partir de notas antigas que recuperei ) :
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1) Laguna De Los Patos lago Norte – “ Double Sword Endler “ [ Endler Espada Dupla ], “ Black Chest Stripe “ [ Lista Negra Ventral ] ( iguais aos originais capturados nos anos 1970 ), “ Snake Skin Endler “ [ Endler Cobra ] ( capturados em Março de 1998 e em 2004 )
Devido ao seu longo isolamento em relação a outros Guppies, o ovovivíparo de Endler tornou-se uma fonte muito interessante para estudos sobre genética.
Ovovivíparo de Endler – Um Caso de Evolução Recente.
Perante tal curiosidade resolvi recorrer directamente à fonte, o Dr. John A. Endler em pessoa. Até essa data, o Dr Endler, fora a última pessoa a capturar este peixe na natureza, tendo-me explicou-me na altura que se tratava possivelmente de uma espécie distinta do género Poecilia muito aparentada com o Guppy, Poecilia reticulata. Esses peixes capturados na década de 1970 acabariam por entrar no circuito comercial tendo-lhes sido atribuída a designação de ovovivíparo de Endler ou simplesmente Endler. O Professor explicou-me ainda que os primeiros exemplares haviam sido recolhidos por Franklin F. Bond em 1937 juntamente com outros da espécie Poecilia reticulata e que esta colecção ainda se encontrava preservada no Museu de Zoologia da Universidade de Michigan num frasco etiquetado como Lebistes reticulatus. Explicou-me ainda de memória a localização do lago onde havia capturado estes peixes. A caçada acabava de começar ! Para se compreenderem as origens do ovovivíparo de Endler temos que conhecer também um pouco da história de Cumaná. Este foi o primeiro povoamento Europeu fortificado no continente sul-americano. A sua fortaleza é constituída por uma consistente muralha de pedra calcária edificada no alto desta cidade costeira. Através dela os conquistadores Espanhóis estariam em posição de defender as duas fontes de riqueza que justificariam a sua presença na região, ou seja, o comércio de pérolas e uma vasta mina de sal. Ao fim de anos de exploração, uma tempestade de grandes proporções, um furacão, atingiu Cumaná. Chuvas torrenciais provocaram enchentes que destruíram a entrada da mina inundando-a. Foram feitas várias tentativas para bombear a água mas todas fracassaram e a mina foi finalmente abandonada. Assim nasceria a Lagoa dos Patos. Numerosos terramotos tiveram lugar nesta região durante os séculos que se seguiram. Alguns destes abalos destruíram a cidade e provocaram desvios no curso do rio Manzanares. Indago mesmo se esta actividade sísmica em conjugação com as enchentes e desvios do rio não terão tido um papel na composição da fauna existente nos vários lagos da região. Durante a minha primeira visita a Cumaná por lapso confundi a Lagoa Malagueña com a Lagoa dos Patos. A lagoa Malagueña é mais uma verdadeira lagoa de estuário, enquanto que a Lagoa dos Patos, é na realidade um lago, embora por vezes as suas águas se apresentem salobras, ( especialmente durante a época seca atingindo então valores 0.008 à superfície ). Ambos os locais e outros pequenos corpos de água entram em comunicação durante a época das chuvas através de inúmeros canais de drenagem que permitem o escoamento progressivo até ao oceano. Tanto a Lagoa dos Patos como a Lagoa Malagueña foram entretanto fragmentadas por estradas e modernas actividades de extracção de matérias primas para cimento além do barro. À medida que me aproximava da Lagoa dos Patos a tensão crescia em antecipação do que poderia ali vir a encontrar. A minha última viagem havia tido lugar em Dezembro de 1998 e muita coisa havia mudado desde essa altura. Estávamos no pico da estação seca e o calor era opressivo. O intenso cheiro acre a lixo em combustão preenchia o ar. À medida que me ia encaminhando para o lago os meus piores receios iam-se materializando. As margens da Lagoa do Patos tinham sido entulhadas com materiais resultantes da construção civil e lixo doméstico. Era todo o tipo de materiais que podem ser vulgarmente encontrados nas lixeiras mas aqui a ser usado como base para a futura construção de bairros da lata algo habituais nas franjas mais pobres nos arredores de algumas cidades da Venezuela. Os quatro lagos que actualmente compõem a Lagoa dos Patos estão fortemente poluídos. Os dois que se encontram no lado Oeste da via rápida denominada “ Autopista António José Sucre “ estão ainda assim de alguma forma mais limpos do que aqueles dois que se encontram do lado oposto. O maior dos dois lagos do lado Leste está situado num antigo local de extracção e apresenta muito pouca vegetação nas margens. Foi povoado com Ciclídeos, os quais acabariam por erradicar a maior parte dos Endler aí existentes. O mais pequeno está muito acessível a partir da via rápida e é esse que contem uma população melanística muito interessante. Um desses exemplares pareceu-me praticamente todo negro visto da margem, mas acabaria por se escapara a todas as minhas tentativas de captura. Consegui no entanto colher alguns outros como amostra nesse local rochoso o qual denominei o Lago dos Endler Negros para o diferenciar convenientemente dos restantes. Embora aqui também se vissem muitos Ciclídeos introduzidos, as margens deste profundo lago estavam tão bem providas de vegetação que permitiam aos Endler inúmeros locais de refúgio. Os restantes dois lagos situa-se a Oeste da auto-estrada. O que se localiza mais a Sul encontra-se de momento tão poluído com resíduos e esgotos do bairro da lata próximo que do local onde me encontrava na margem setentrional não consegui avistar nem capturar qualquer tipo de vida subaquática. O que se localiza mais a Norte é provavelmente o último refúgio dos antepassados dos Endler mais comuns no mercado. Embora se apresente igualmente muito poluído variando as suas águas do branco leitoso ao castanho claro, a espécie é aqui ainda comum. Aparentemente tal facto explica-se porque este lago profundo deve estar tão deficitário de oxigénio que nenhuma outra espécie de peixe aí conseguirá sobreviver, permitindo assim aos Endler florescerem perto da superfície. Ao contrário dos relatos do Professor Endler, não consegui encontrar Poecilia reticulata neste lago e acredito que os Guppies não coexistem com os Endler em Cumaná. Se tal acontecesse é muito provável que se cruzassem. Acredito que foi neste local que os primeiros Endler apareceram talvez há mais de quatrocentos anos, em resultado da inundação da mina. A população original era provavelmente constituída por algumas escassas centenas de indivíduos tolerantes e resistentes que em breve encheriam este habitat. Isto teria feito com que só muito recentemente, [ em termos evolutivos ] tivessem entrado num processo de especificação. A ausência de predadores teria permitido a estes peixes evoluírem para o colorido espectacular que hoje apresentam através de selecção sexual. Gostava de voltar a este local com o equipamento adequado para testar a salinidade a diferentes profundidades pois suspeito que ela vá aumentando com a profundidade. Foi num riacho coberto com Jacinto-de-água que drena a partir do lago Norte da Lagoa dos Patos que capturei uma autêntica jóia – um único exemplar macho com barbatanas peitorais negras. Após uma exaustiva busca em todos os locais onde tive oportunidade de recolher centenas de indivíduos, este foi o único a exibir as barbatanas pretas. Esta característica é recessiva segundo o Dr John Endler, o qual descreve como presente em 20% dos exemplares capturados em 1975. Sabe-se lá como nem porquê, estes exemplares têm vindo no entanto a desaparecer nas populações selvagens actuais. Detectaram-se entretanto outras formas interessantes que por vezes surgem na natureza. Veja-se a fotografia desta fêmea com margens pretas na barbatana dorsal e nos respectivos raios [ foto disponível no artigo publicado originalmente ]. Este espécimen, juntamente com a fêmea da mancha negra nos flancos ou o macho com as barbatanas pélvicas pretas, são provenientes do Lago dos Endler Negros. Viajando para Norte em Direcção à Lagoa Malagueña visitei primeiro um local situado no lado interior, junto da Avenida Universidad. Em comparação com a Lagoa dos Patos, este ambiente estuarino está consideravelmente mais preservado e cheio de vida. É um corpo de água que varia da água doce à salobra, amplamente rodeado por mangais e outra vegetação costeira tradicional. As árvores apresentam-se cheias de formas de vida com bandos de Íbis Escarlate, Garças de várias espécies, Corvos Marinhos e Pelicanos Castanhos. Do lado do mar existe um canal que atravessa por baixo da estrada marginal. Nas primeiras idas a Cumaná no final do anos 1990 este canal estava pejado de ovovivíparos e outros peixes dulçaquículas. Para além de Endler pude encontrar Pictas [ Micropoecilia-de-Cauda-Vermelha ou Micropoecilia picta ], uma espécie de Molinésia, Ciclídeos e aquilo que me pareceu ser um killi do género Rivulus, além de inúmeros Caranguejos Violinistas. Naquela altura este canal morria a umas escassas centenas de metros do oceano na praia. Já na última viagem o mesmo canal estava interligado com o mar durante a maré cheia e nessa altura apenas continha os Ciclídeos e a Picta. A água da lagoa variava entre o verde tom de ervilha e um lodoso avermelhado. Em algumas zonas estava algo estagnada e apresentava-se inclusivamente coberta à superfície com um filme claro nalguns locais. O fundo estava sujo e coberto de detritos vegetais. O familiar aroma da decomposição vegetal próprio dos litorais nos trópicos enchia o ar. A área em volta da lagoa é bastante árida. Do lado da falésia os solos vermelhos predominam, enquanto na língua de terra que a separa do oceano tem lugar uma areia calcária. A Lagoa Malagueña ainda é sobretudo um corpo de água predominante doce, nomeadamente durante a maré baixa, contudo sou levado a acreditar que durante a entrada do mar a sua salinidade aumenta, atingindo maiores valores na época seca. A profundidade varia entre escassos centímetros até três ou quatro metros, embora na maior parte seja pouco profunda. Chegaram a existir entre 15 a 20 formas diferentes de Endler na Lagoa Malagueña, sendo umas 7 a 8 delas as mais representativas. Uma das mais atractivas e mais comuns foi aquela que ficou conhecida na aquariofilia e que resulta das capturas feitas pelo Professor Endler em 1975. As actuais formas “ Laranja “ e “ Pavão “ actualmente disponíveis no comércio derivam de exemplares colectados por mim precisamente aqui na Lagoa Malagueña. Na minha última viagem apenas pude capturar um par de exemplares laranjas. Estes e outros encontravam-se todos na parte mais interior pois pareceu-me que a reabertura do canal ao mar teve um impacto negativo na sua demografia. As Pictas que existem na lagoa são muito robustas e atingem dimensões consideráveis.De vez em quando aparece um macho completamente laranja com barras transversais negras. Todos os machos desenvolvem espectaculares barbatanas dorsais amarelas com pontos pretos quando atingem a maturidade. O número de raios também é maior do que o constatado noutras populações que encontrei em Trindade e Tobago e no Brasil. Estes peixes são maiores do que os Endler com uma aparência mais delgada. São várias as diferenças entre os ovovivíparos de Endler e a Poecilia reticulata [ Guppy ]. Já tive oportunidade de recolher exemplares de P. reticulata numa mesma zona que também exibiam inúmeras marcas e colorações distintas, contudo nestes lagos [ de Cumaná ] existem apenas um limitado número básico de variedades de Endler. Comuns aos Endler selvagens estão as barbatanas caudais por vezes com espadas duplas e predominância dos tons laranja, preto e verde brilhante. Nenhuma das minhas colecções [ de Guppies ] tanto no Norte da Venezuela quanto na ilha da Trindade chegaram sequer a aproximar-se da intensidade e do brilho exibido pelos peixes destes lagos. Por vezes estas colorações excepcionais tingem de colorido inclusivamente o gonopódio e outras barbatanas que se apresentam sem excepção transparentes nas populações selvagens de Guppy. Em termos morfológicos o Endler tem uma aparência mais angular, apresentando uma maior curvatura na zona dorsal e possuindo um maior valor médio entre o CIC ( Comprimento à inserção caudal ) e o CBC ( Comprimento da barbatana caudal ) do que a [ Poecilia ] reticulata, o que lhe proporciona uma aparência mais alongada. O habitat dos dois peixes também é diferente. P. reticulata ocorre na região em rios ou ribeiros nos quais se verificam temperaturas entre o meio e o final da escala dos 70ºF [ 23ºC a 25ºC ], enquanto a água destes lagos [ Lagoa dos Patos e Lagoa Malagueña ] se situa entre o início e metade da escala dos 80ºF [ entre 26ºC e os 32ºC ], nomeadamente nas zonas de pouca profundidade frequentadas pela espécie. O Endler na natureza está muito frequentemente ligado a biótipos de águas paradas. E por último, na minha opinião pessoal, a característica que mais diferencia os Endler dos restantes Guppies é a presença de melanóforos na sua coloração que considero muito atraentes. |
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Flame Tail
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Common Peacock
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Peacock Half Tux
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Center Peacock
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Solid Red Stripe Peacock
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White Pecock
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Red Chest
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Top Light Blue Sword
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Orange Spoted
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Center Monocle
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Snake Chest
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Double
Red Stripe |
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A coloração negra exibida por determinados machos Endler quase desaparece em situações de “ stress “ mas intensifica-se nas disputas territoriais ou nos rituais de cortejo. Esta característica é mais evidente nas Pictas do que na [ Poecilia ] reticulata, o que contribui para me fazer crer que são de facto duas espécies distintas. Em 1998 montei uma série de aquários com 10 galões de capacidade [ 38 litros ] com 3 a 4 machos de Endler para cada fêmea. A coloração negra intensificava-se no macho dominante e a fêmea correspondia com uma marcada preferência por essa característica. Na altura não me foi exequível quantificar resultados dessa experiência pois foi-me impossível determinar quais os machos que acasalavam mais frequentemente, assim como se tornou impraticável diferenciar a descendência gerada por cada um. Quando o macho alpha ( dominante ) era retirado do aquário, numa questão de dias outro subordinado assumia o seu lugar intensificando a sua pigmentação preta ao assumir a liderança. Estes factos tiveram lugar em todos os aquários sem excepção. Em 2001 montei outra experiência na qual coloquei em cada aquário quatro fêmeas Endler, um macho Guppy da ilha da Trindade e um Endler. Todas as fêmeas escolhiam sem excepção o macho Endler com a coloração negra mais intensa. Este ano [ 2004 ] resolvi introduzir uma variante à experiência. Troquei as fêmeas Endler por fêmas Guppy da população da ilha de Trindade. O que descobri foi bastante fascinante. Aparentemente as fêmeas Guppy aceitaram acasalar com os machos Endler em igual proporção do que com os da sua própria espécie. Consideremos estes resultados muito preliminares pois não me sinto totalmente satisfeito com as minhas observações, já que ambas as linhagens estavam em cativeiro há vários anos, por isso os considero como domésticos peixes de aquário. Gostava num futuro próximo poder repetir a mesma experiência com animais selvagens. O Professor Endler havia-me confirmado que fora incapaz de conseguir híbridos entre P. reticulata e o ovovivíparo de Endler, acreditando que uma provável descendência seria estéril. Confirmei que tal não seria tão linear assim. Acredito que os peixes capturados na natureza não são fáceis de convencer a cruzarem-se, uma vez que estão preparados para, na natureza, apenas escolherem os seus parceiros dentro da própria espécie, seguindo determinados sinais, os quais poderão até passar por “ odores “. Uma vez em cativeiro, os descendentes nascidos e criados em aquário são mais facilmente encorajados a produzirem híbridos. Um método que usei para o efeito foi permitir o crescimento de exemplares eleitos para o efeito apenas entre peixes da outra espécie, evitando quaisquer contactos com os da sua própria. Obviamente que os indivíduos devem pertencer pelo menos ao mesmo género. Os ovovivíparos são particularmente fáceis de hibridar. Consegui sucesso em cruzamentos entre [ Micropoecilia ] picta e Endler e também entre [ Poecilia ] reticulata e Endler. No último caso, os híbridos assim produzidos revelaram-se sempre férteis, enquanto que no primeiro caso, o seu nível de fertilidade era bastante variável. De início os híbridos entre [ Micropoecilia ] picta X Endler revelavam-se consideravelmente menos férteis ( alguns casais nunca produziram descendência ), mas consegui ainda assim estabelecer uma linhagem através de uma colónia de reprodutores. Contudo permanece a questão : será o Endler apenas uma variedade localizada do Guppy ou será de facto uma espécie independente ? Em face de conhecimentos que fui adquirindo, uma vez que há a possibilidade de ter existido alguma influência antrópica nas suas origens, esta não deveria ser considerada uma espécie independente. Ainda que se opte por este argumento, as espécies tiveram sempre um papel preponderante na evolução umas das outras. Aliás este é um facto usual nas teorias evolucionistas, as relações predador / presa, a simbiose, o parasitismo e até a domesticação foram a causa próxima do aparecimento de novas espécies. E a hibridação ? Acredito que o ovovivíparo de Endler, a Poecilia reticulata, a Poecilia [ Micropoecilia ] picta e a Poecilia [ Micropoecilia ] parae são espécies aparentadas. Podemos comparar a sua relação sistemática e evolutiva equivalente à dos Platys e Caudas-de-Espada do México e da América Central. De facto muitos membros do género Xiphophorus também produzem híbridos férteis mas são classificados como espécies distintas. Seja como for, quer o Endler venha a ser classificado como espécie distinta, subespécie, ou apenas uma variedade local de P. reticulata, não podemos negar que habita um biótipo único e que as mesmas forças que contribuíram para o tornar singular durante a sua evolução, sem dúvida que um dia contribuirá igualmente para o seu desaparecimento. A Venezuela é um país incrível possuidor um povo encantador e uma variedade ecológica que vai desde os majestosos Andes até aos pantanais sempre verdes da bacia do Orinoco e da Amazónia, passando pela área costeira de matagal como a região [ do Estado ] de Sucre. Contudo, antes de começarem a reunir os vossos baldes e camaroeiros tenham consciência que se trata igualmente de um país à beira de uma hipotética guerra civil com um Governo no caminho mais do que certo em direcção ao totalitarismo ditatorial ao estilo Cubano. Antes de partirem certifiquem-se que adquirem a imprescindível licença para capturar peixes ornamentais junto da INAPESCA, assim como asseguram os procedimentos para poderem exportar os peixes colectados. À medida que o meu avião se elevava nos céus após a decolagem do aeroporto de Cumaná, tive oportunidade de ir reparando em vários outros pequenos lagos e lagoas na região, os quais não tive oportunidade de explorar. Quem sabe se não possuirão também interessantes Poecilídeos. |
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nota do autor : Recentemente o “ ovovivíparo de Endler “ foi re-classificado como nova espécie pelo cientista Dr. Fred Poeser's como ( Poecilia wingei ). Este artigo científico é uma excelente fonte de informação sobre a espécie !!! Apenas discordei de uma declaração casual do Dr. Poeser neste trabalho, alegando que os peixes localizados na Lagoa dos Patos são o provável resultado de introdução humana ou “ libertados por aquariófilos “. Esta área empobrecida da Venezuela apenas podem encontrar raríssimos aficcionados da aquariofilia e talvez ainda existissem nenhuns nos anos 1930, quando os primeiros peixes desta espécie foram descobertos por Franklin F. Bond. Esta região da América do Sul está sujeita a dinâmicas transformações geológicas e a grandes catástrofes naturais ou meteorológicas. Acredito que seja mais plausível que estes peixes tenham atingido a região da Lagoa dos Patos por acção de um destes eventos.
Contributions to Zoology 74: 97–115. |
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