Cyprinodontiformes vivíparos e ovovivíparos

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Salinidade



Introdução

 

Um número considerável de Cyprinodontiformes vivíparos, mas especialmente ovovivíparos, são espécies eurihalinas, isto é, toleram ou sobrevivem dentro de uma gama bastante ampla de salinidades.
Algumas destas espécies incluem populações que vivem simultaneamente em água doce, salobra ou salgada, dentro de quase todos os valores do espectro relativo à salinidade.
Existe ainda uma determinada quantidade de outras que são encontradas fundamentalmente em quase todos os ambientes característicos dos estuários ou das zonas marinhas adjacentes mais preservadas da rebentação, como os pântanos costeiros de água salgada e salobra, os mangais, os canais de deltas na foz dos rios e em lagoas costeiras de água salobra.
Um número considerável de membros das famílias Poecilidae e Anablepidae vivem habitualmente em ambientes de água razoavelmente salgada, podendo mesmo ser detectados exemplares em pleno oceano, ainda que habitualmente por períodos sazonais e quase sempre não muito afastados do litoral.
Um número mais restrito de espécies estão mesmo aptas a sobreviverem em águas hipersalinas de ambientes muito especiais, nomeadamente em lagos ou charcos isolados em pleno deserto.
Ainda que facilmente avistados em habitats de água doce, espécies como Belonesox belizanus assim como muitas outras dos géneros Jenynsia e Anableps, ou algumas dos géneros Micropoecilia, Gambusia ou Poecilia ( apenas para dar como exemplo dos mais conhecidos na aquariofilia ), vivem frequente em lagoas de água salobra no litoral, em estuários, em mangais e noutros ambientes de salinidade variável em zonas costeiras nas regiões tropicais e subtropicais.
As espécies que estão restritas a cursos de água doce límpida e cristalina com uma certa corrente e fundo rochoso ou composto por grandes seixos, são muito raras, estando parte delas concentradas na família Goodeidae.
De acordo com a classificação de peixes da fauna de água doce de George S. Myers ( 1949 ), muitos dos Cyprinodontiformes vivíparos e ovovivíparos podem ser considerados como " secundários ", ou seja, " razoavelmente limitados a ambientes de água doce mas relativamente tolerantes à salinidade, pelo menos por curtos períodos de tempo ", ou ainda, " esporádicos ", isto é, " peixes que podem viver e reproduzir-se indiferentemente em água doce ou salgada ".


Salinidade


Especificamente no âmbito deste sítio na Internet, definiremos salinidade como a concentração de sais dissolvidos na água.
Já que tantas espécies de Cyprinodontiformes vivíparos e ovovivíparos preferem ou requerem água salobra para viverem em boas condições de incolumidade ou para serem saudáveis, é de todo aconselhável dominarmos algumas noções sobre este assunto e sobre como controlar esta característica da água em aquariofilia.
A aferição da salinidade em meios profissionais ou científicos é usualmente expressa em “ partes por milhar “ ( p.p.m. ).
No passatempo da manutenção de peixes, a concentração de sais dissolvidos na água é avaliada em termos de gravidade específica ( g.e.).
De facto, os objectos tendem a flutuar mais e melhor de forma proporcional e directa em relação à salinidade, já que em águas salgadas, como nos oceanos a água é mais densa.
Graças a este conceito, tornou-se muito simples e fácil avaliar a salinidade através do uso de um instrumento denominado densímetro, nomeadamente os mais simples e comuns na aquariofilia, os quais são fáceis de obter a um custo bastante razoável.
Mais adiante vamos aqui fazer referência a algumas noções básicas essenciais para o correcto uso e manuseamento do densímetro.


Sistema de classificação dos corpos de água em função da respectiva salinidade aceite em aquariofilia :

 

Água Doce

Água Salobra

Água Salgada

Água Hipersalina

menos de 0.05 %

de 0.05% a 3 %

de 3% a 5 %

superior a 5 %

menos de 0.5 ppm

de 0.5 a 30 ppm

de 30 a 50 ppm

superior a 50 ppm


A água doce encontra-se usualmente em terra firme, nos continentes e ilhas.

Ela resulta da precipitação ( chuva e neve ) e corre por força da gravidade naturalmente para os oceanos, se não ficar retida em lagos e outras bacias.
Nos locais de transição onde a água doce se mistura com a água do mar, localizam-se primordialmente as fontes de águas salobra. No entanto, este tipo de água menos salgada do que a dos oceanos, mas simultaneamente mais salgada do que a água doce, pode ocorrer em locais incrivelmente distantes de estuários e regiões costeiras.

É esse o caso de alguns lagos ou reservatórios onde a reposição das perdas por evaporação é muito menor.

De facto, a água evapora-se mas os sais nela dissolvidos não, e quando não há equilíbrio entrte a água perdida por evaporação e a pluviosidade... a salinidade aumenta.
Independentemente das situações anteriormente descritas poderem gerar uma elevada salinidade e ocorrerem até no interior dos grandes continentes, as águas salgadas são características dos mares e oceanos que compõem a maior parte da superfície do planeta.
Um termo mais científico para designar os oceanos é mares halinos.
A salinidade dos oceanos está geralmente compreendida entre 30 e 35 ppm, dependendo do local a que nos referimos.
Como mares Metahalinos consideram-se aquelas cuja salinidade varia entre 36 e 40 ppm.
Um exemplo extremo de mar salgado é o Mar Morto, situado no Médio Oriente, no qual a salinidade nos 35 metros superficiais varia entre 300 e 400 ppm. É inquestionavelmente o paradigma de um mar salmoura.
O termo técnico para salinidade em ambientes marinhos ( oceanos ) é halino, uma vez que a maior parte da concentração salina dissolvida na água do mar é o cloreto de sódio, um derivado de um halogéneo, ou seja, de um dos elementos pertencentes à tabela periódica que se situam no grupo 17 ( 7A ).


Composição da água do mar em concentração molal dos diversos componentes ( à salinidade de 35 ppm ) :

 

Componente

Concentração ( em mol / kg )

H2O ( Água )

53.6

Cl- ( Cloreto )

0.546

Na+ ( Sódio )

0.469

Mg2+ ( Magnésio )

0.0528

SO42- ( Sulfato )

0.0282

Ca2+ ( Calcio )

0.0103

K+ ( Potássio )

0.0102

CT ( Carbono Inorgânico Total )

0.00206

Br- ( Bromo )

0.000844

BT ( Boro total )

0.000416

Sr2+ ( Estrôncio )

0.000091

F- ( Flúor )

0.000068


 

Figura 1

Como usar um densímetro tradicional para aferir o grau de salinidade da água

Quando se mantêm peixes de água salobra ou salgada em aquário é crucial monitorizar o respectivo grau de salinidade com bastante frequência.
Para se aferir o grau de salinidade da água de uma forma profissional, os aquariofilistas são obrigados a recorrer a equipamentos de teste geralmente muito dispendiosos e inacessíveis ao orçamento da maioria.
Há no entanto uma solução menos cara e prática para determinar a concentração salina da água do aquário, o qual consiste na aferição da respectiva massa volumétrica específica ( também conhecida como densidade absoluta ), particularmente através de um densímetro.
É necessário esclarecer, nesta versão em Português, que as designações de densidade absoluta e densidade relativa, por vezes utilizadas na nossa língua como sinónimos de massa volumétrica, devem ser evitadas, particularmente pela confusão e ambiguidade que podem originar. Na versão desta página em Inglês, a palavra “ density “ designa na verdade massa volumétrica, pelo que não se traduz aqui para “ densidade “.
O densímetro é pois um instrumento usado para aferir a gravidade específica ( ou massa volumétrica específica ) da água ou outros líquidos.
Usualmente é feita uma comparação entre a massa volumétrica de um determinado líquido em relação à água doce pura ( água destilada ), mas funciona perfeitamente para a determinação do grau de salinidade da água pela mesma ordem de paralelo.
O densímetro tradicional é geralmente concebido em vidro, mas actualmente há modelos em plástico menos fiáveis que funcionam de forma algo distinta.
O paradigma consiste num modelo constituído por um tubo de vidro transparente, fechado em ambas as extremidades, em que uma das partes é mais larga ( parte inferior ) e possui um peso, geralmente composto por mercúrio, o que o obriga a permanecer na posição vertical dentro dos líquidos. Na parte superior, mais fina, ( haste ) existe uma escala ou gradação com os valores de leitura.
O modo de funcionamento é extremamente simples.

O densímetro é descido com suavidade até à água contida dentro de uma proveta ( veja-se a regra n.º 3 dos procedimentos expostos mais abaixo ), até ficar a flutuar.
A proveta consiste num tubo de vidro ou plástico transparente com uma base de sustentação, apresentando usualmente cerca de 250 ml ( 250 cm ³ ) de capacidade.
A leitura é feita através do ponto em que superfície da água coincide com uma marca da escala. De facto, dentro do tubo mais estreito, situado na parte superior ou haste, existe um papel com uma escala ( veja-se a regra n.º 7 dos procedimentos expostos mais abaixo ).
A massa volumétrica, define-se como a matéria correspondente à massa contida por unidade de volume, ou seja, a proporção existente entre a massa de um corpo e seu volume.
A “ densidade “ é a relação entre a massa volumétrica da matéria e a massa volumétrica da referência ( a água destilada é geralmente tomada como referência ).
Para efeito das medidas que pretendemos obter, a gravidade específica deve ser entendida como a razão entre a densidade da água a temperaturas diferentes, consoante a concertação de sais dissolvida.

Uma vez que existe uma relação directa com a temperatura da água é necessário fazer a devida conversão da leitura, uma vez que o densímetro tradicional não compensa automaticamente esse factor.

Regra geral, os densímetros do tipo aqui referido estão calibrados para os 15ºC, pelo que as leituras obtidas devem ser ajustadas à temperatura da água no momento da leitura, a fim de se apurar, com rigor, o valor daí resultante.
Dado que a temperatura afecta a densidade das matérias em geral, usam-se tabelas simples de conversão, como a que propomos mais abaixo para o efeito.
Para o correcto manuseamento do instrumento e qualidade aceitável nas leituras obtidas, devem seguir-se algumas regras simples.

1. Certifique-se de que o instrumento ( densímetro ) está impecavelmente limpo, particularmente livre de poeiras e de depósitos salinos ou calcários. Lave-o de preferência em água destilada, para ajudar a remover quaisquer eventuais resíduos. Caso algum vestígio das anteriores utilizações não se dilua com facilidade, tente usar um ácido, como o vinagre, para facilitar a sua dissolução.
Uma limpeza cuidadosa imediatamente a seguir a cada utilização evitará complicações futuras na limpeza do instrumento.

2. Adicione a quantidade de água suficiente na proveta ( ou outro contentor afim, utilizado para o efeito pretendido ), de forma a que o densímetro possa flutuar livremente, nomeadamente sem tocar nos lados ou no fundo.


3. Desça o densímetro com suavidade na proveta, segurando-o pela ponta da haste ( tudo mais fino da parte superior ). Ao libertá-lo force-o a um movimento de rotação ligeiro ( de forma a expelir algumas eventuais bolhas de ar fixadas ao corpo do instrumento ).

4. Confirme que não existem vestígios de pequenas bolhas de ar ainda agarradas ao densímetro. Por mais insignificantes que sejam esses minúsculos vestígios de ar, ajudarão o instrumento a flutuar o suficiente para falsear os resultados da leitura. Em caso da presenças de bolhas, rode-o suavemente e sacuda-o com leveza.

5. A parte emersa também deverá estar sempre seca e impecável antes de cada utilização.
Ao sacudir com demasiada força o densímetro na intenção de o libertar de vestígios de ar pode causar a adesão de gotas na área acima da linha de água. Esse peso extra, embora nos pareça insignificante, será no entanto suficiente para induzir a leitura em erro.

6. Certifique-se que a temperature do densímetro é idêntica à da água antes de o utilizar.

7. Durante a leitura, use como referência a linha da superfície da água. Ao contactar com uma superfície sólida a água forma uma ligeira curvatura denominada menisco côncavo. A leitura da gravidade específica deve ser feita pelo plano tangente ( parte inferior do menisco côncavo - tracejado vermelho na figura 1 ).

8. Nunca abandone o densímetro a flutuar entre utilizações. Se permanecer na água, formam-se depósitos no instrumento que serão difíceis de erradicar.
Mais uma vez se aconselha uma acção de limpeza diligente e meticulosa, logo após cada utilização, evitando-se dessa forma o trabalho adicional de erradicação de depósitos difíceis.

Sempre que necessário adicionar a solução salina para aumentar a salinidade da água do aquário, utilize um recipiente à parte para preparar a diluição. Nunca pratique a mistura directamente no local onde se encontram os peixes, invertebrados ou plantas ( a não ser em caso de emergência ). Em qualquer circunstância seja cuidadoso e actue com suavidade.
Utilizando o acima mencionado recipiente, vá incorporando o sal ( solução salina ) até o valor da leitura no densímetro revelar cerca de metade dos limites finais pretendidos.
Retire e limpe cuidadosamente o densímetro, passando-o em seguida por água de preferência destilada.
Em seguida movimente a água do recipiente onde esta a praticar a dissolução durante alguns minutos para facilitar a diluição da solução salina.
Deixe a água repousar durante 36 horas.
Após este período proceda a nova leitura.
Continue a adicionar solução salina em conformidade com os limites estabelecidos, verificando em leituras sucessivas o efeito de cada nova dose adicionada.
Retire e limpe cuidadosamente o densímetro, passando-o em seguida por água de preferência destilada.
Em seguida movimente a água durante alguns minutos para facilitar a diluição da solução salina.
Deixe a água repousar durante mais 24 horas.
Após este período proceda a nova leitura.
Se os valores estiverem adequados, utilize então a água assim obtida no aquário, caso contrário faça uma calibração final até obter os resultados previstos, seguindo o método anteriormente aplicado, excepto o período de repouso. A diferença deve ser nesta altura tão pouco importante que não se justifica o cuidado tido após as anteriores diluições da solução salina ( até porque a natureza cáustica das águas sinteticamente produzidas já se dissipou em grande parte ).


Refractómetro portátil

Uma outra opção para a aferição da concentração de sais na água em aquariofilia é o refractómetro portátil. Trata-se sem dúvida de um instrumento mais dispendioso do que o densímetro tradicional mas, à medida que a sua popularidade vai aumentando é expectável que os preços venham a baixar.
O refractómetro portátil mede as concentrações de substâncias em soluções líquidas ( aquosas ) fazendo uso de luz refractada.
O processo és de facto bastante mais fácil, preciso e cómodo do que o método do densímetro.
Alguns destes instrumentos possuem compensação de temperatura e escala dupla ( gravidade relativa e ppm ).
Basicamente o utilizador emprega uma pequena porção de água do aquário e espreita pelo monóculo, através do qual poderá obter um ângulo formado pela luz numa escala cujo valor representará a quantidade de sólidos dissolvidos.
Após cada utilização devem ser respeitadas os mesmos cuidados de limpeza do prisma em relação ao já anteriormente referido para o densímetro tradicional.
A generalidade dos conjuntos vendidos no comércio incluem vários utensílios úteis.
A maioria dos refractómetros portáteis fazem a compensação automática de temperatura dentro de uma margem de 20º em relação à temperatura de calibração.


Algumas palavras finais acerca da aferição da massa volumétrica específica ( gravidade específica )

O Sistema Internacional de Unidades de Medida Legais ( SI ), adoptado por Portugal em 1983, constitui o modelo de sistemas de medidas mais usado universalmente.
A unidade ( SI ) utilizada por convenção para a massa volumétrica específica é o quilograma por metro cúbico ( kg/m³ ).
A 3.8°C, a água apresenta uma massa volumétrica de 1000 kg/m³, o que a transforma numa unidade de referência muito conveniente, contudo a utilização de quilogramas por decímetro cúbico ( kg/dm³ ), gramas por mililitro ( g/mL ), ou gramas por centímetro cúbico ( g/cc or g/cm³ ) são equivalentes ( 1 kg/L = 1 kg/dm³ = 1 g/cm³ = 1 g/mL ).
Para se determinar a gravidade específica ( o mesmo será dizer a densidade relativa da matéria em relação à água ), não é com estas unidades de medida complicado nem exige um grande esforço de cálculo, bastando para tal dividir-se o valor encontrado por 1 ou por 1000, conforme a unidade de medida utilizada.

 

Temp ( ºC )

Temp ( ºF )

gravidade específica

Coeficiente de correcção relativa à temperatura de 15ºC

0

32.00

0.99987

0.74

3.98

39.16

1.00000

0.87

5

41.00

0.99999

0.86

10

50.00

0.99973

0.60

15

59.00

0.99913

0.00

18

64.40

0.99862

0.51

20

68.00

0.99823

0.90

25

77.00

0.99707

2.06

30

86.00

0.99567

3.46

40

104.00

0.99224

6.89

50

122.00

0.98807

11.06

60

140.00

0.98324

15.89

70

158.00

0.97781

21.32

80

176.00

0.97183

27.30

90

194.00

0.96534

33.79



Para compensar ou corrigir as leituras do densímetro em função da temperatura da água, use Tabela de Conversão das Leituras do Densímetro a qualquer Temperatura para a Gravidade Específica Real.

Para converter a gravidade específica para a salinidade em ppm, siga a ligação para a Tabela de Conversão dos Valores de Gravidade Específica para Salinidade.
Ainda que o sistema métrico mais utilizado no mundo seja o que acabámos de referir, há outras unidades métricas além do Sistema Internacional de Unidades de Medida que também merecem aqui uma referência.
Nos Estados Unidos da América, as Unidades Usuais Americanas ( U.S. Customary Units ) ou Unidades Imperiais ( Sistema Imperial de Medidas ) são um sistema métrico paralelo ao Sistema Internacional de Unidades de Medida Legal.
As unidades usadas no Sistema Imperial de Medidas são :

onça por polegada cúbica ( oz/in3 )
libra por polegada cúbica ( lb/in3 )
libra por pé cúbico ( lb/ft3 )
libra por jarda cúbica ( lb/yd3 )
libra por galão ( lb/gal )
libra por bushel americano ( lb/bu )
 


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